O que teria sido diferente no mundo dos negócios se o ChatGPT existisse na década passada?
Humanos e tecnologia

O que teria sido diferente no mundo dos negócios se o ChatGPT existisse na década passada?

Com uma interface simplista, mas com qualidade e velocidade de resultados impressionantes, o ChatGPT desafia não só a forma como os dados são estruturados e processados, mas também como líderes e gestores obtêm a orientação para alcançar o sucesso em seus negócios.

Imaginar como teriam sido as vidas de gestores, líderes e founders se o ChatGPT tivesse existido há alguns anos pode trazer inúmeras reflexões e apontamentos sobre como as coisas teriam sido bem diferentes – não necessariamente para melhor.

Desde 2015, o OpenAI – laboratório de pesquisa responsável pela ferramenta – fundado por mentes como Sam Altman e Elon Musk, atua com o propósito de popularizar a Inteligência Artificial para toda a humanidade.

Para além de seu poder midiático, a tecnologia envolvida é, de fato, muito poderosa e está revolucionando a Internet. Não é à toa que cinco dias após o seu lançamento, em 30 de novembro de 2022, Greg Brockman – chairman e co-founder da companhia – tuitou que o ChatGPT, novo produto da instituição, havia alcançado a marca de 1 milhão de usuários.

Para efeito de comparação, quando a Netflix foi lançada como serviço de assinatura, em 1999, para obter a mesma marca de assinantes, foram necessários 3 anos e meio. Temos também os exemplos de Facebook e Twitter, que demoraram, respectivamente, 10 meses e 2 anos para atingir tal marca, como mostra o Statista.

(Na imagem: corrida por 1M de usuários) (Créditos: Statista)

Desde então, a sua interface com apenas uma caixa de texto e alguns prompts tem levantado polêmica sobre quais atividades poderia ou não se tornar obsoletas e atraído a atenção de grandes players, como a Microsoft, que anunciou o investimento de US$ 10 bilhões em sua estrutura experimental.

“Veremos avanços em 2023 que as pessoas esperariam há dois anos em 2033. Será extremamente importante não apenas para o futuro da Microsoft, mas para o futuro de todos.”  — Brad Smith, presidente da Microsoft

Se injetada na tecnologia cotidiana da década passada, qual o impacto que essa ferramenta online teria causado na gestão e na evolução de tantos negócios ao redor do globo?

O que poderia ter sido diferente há 10 anos?

Não é surpresa que muitas companhias estejam adotando o ChatGPT em suas operações diárias, afinal, ele é, de fato, uma das ferramentas mais revolucionárias do mundo dos negócios hoje.

Por meio de um sistema baseado em Processamento de Linguagem Natural (PLN) e algoritmos de aprendizado de máquina, é possível simular conversas humanas, entendendo e respondendo a uma infinidade de comandos do usuário.

Mais que isso: uma vez treinado, o GPT-3, última versão da tecnologia do ChatGPT, é capaz de entender perguntas e gerar respostas cada vez mais precisas e relevantes. Além disso, o modelo utiliza técnicas de aprendizado profundo, como redes neurais, para aprender a criar correlações.

Para profissionais da década passada que sofreram os efeitos colaterais da mais diversa falta de recursos, os processos repetitivos e que não demandam tanto os knowledge workers poderiam ter sido substituídos, cortando custos e, consequentemente, ajudado na sustentabilidade dos projetos.

No caso das startups, por exemplo, em vez de se recorrer a uma solução “manual” para criação de um Mínimo Produto Viável, a IA poderia trazer sugestões de testes com base nas particularidades do seu negócio, criar o roteiro de um pitch deck e desenvolver códigos para automatizar o máximo de tarefas, como responder a e-mails e consultas dos clientes.

O ChatGPT, ainda, permitiria entender melhor seus clientes e necessidades, reunindo dados sobre suas preferências e comportamentos, bem como apontando o Norte para ajustes de rotas e campanhas de marketing mais assertivas.

Como se não fosse o bastante, ele poderia contribuir para a criação de experiências mais personalizadas para os usuários, fornecendo recomendações de produtos específicos ou descontos com base nas preferências do consumidor.

Por fim, ele seria um grande aliado para coordenar equipes, agendando reuniões, atribuindo tarefas e sendo treinado para dar feedback aos membros de qualquer time para alcançarem a mais alta performance.

Segundo pesquisa da McKinsey, em 2013, apenas 9% dos executivos se consideravam “muito satisfeitos” com a maneira como gastavam o tempo em suas organizações.

Provavelmente, isso teria sido diferente. O ChatGPT daria o poder de liberar o tempo de inúmeros profissionais para se concentrarem em atividades mais importantes dos seus negócios, como a parte de estratégias e gestão.

O que não teria sido diferente – e por quê?

As inovações que a IA generativa (subárea da Inteligência Artificial que se concentra na geração de conteúdo de forma independente) poderia provocar em todos os tamanhos e níveis organizacionais são realmente impressionantes. Porém, é importante lembrar que o ChatGPT não substituiria completamente as habilidades humanas.

Embora ele seja capaz de fornecer informações precisas e úteis, existem algumas áreas em que ele não pode ajudar. Uma dessas áreas é no desenvolvimento de soft skills, como a capacidade de se comunicar eficazmente, de trabalhar em equipe, de lidar com conflitos e de motivar os outros. Nas palavras de Peggy Klaus, no livro “The Hard Truth About Soft Skills: Soft Skills for Succeeding in a Hard Work”, em tradução livre:

“Embora as hard skills se refiram à capacidade técnica e ao conhecimento factual necessário para realizar o trabalho, as soft skills permitem que você use com mais eficiência suas habilidades e conhecimentos técnicos. As habilidades sociais abrangem comportamentos pessoais, sociais, de comunicação e de autogestão”.

Estudos da Harvard University, da Carnegie Foundation e do Stanford Research Center, inclusive, descobriram que elas são responsáveis por 85% do sucesso na carreira.

Ou seja, ainda que a plataforma fornecesse um framework data-driven, continuaria sendo fundamental uma liderança ativa do outro lado para a tomada de decisão, já que escolhas estratégicas se baseiam em fatores subjetivos, como intuição, experiência e conhecimento – algo que a ferramenta não fornece.

Outra habilidade essencial para gestores triple A e que não poderia ser replicada inclui a chamada street intelligence e a capacidade de inspirar e motivar pessoas.

No fim do dia, até mesmo algumas atividades “manuais e repetitivas” não teriam sido substituídas, pois a ausência de peças-chaves no quadro da companhia poderia levar à construção de uma cultura organizacional menos fortalecida e em colaboradores menos engajados.

ChatGPT, AI, GPT-3, GPT-4 e afins: boas tecnologias jamais substituirão bons gestores

De acordo com a Grand View Research, o mercado mundial de IA foi avaliado em US$ 93,5 bilhões em 2021, com potencial para se expandir a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 38,1% entre 2022 e 2030.

Os fatores essenciais que aceleram a taxa de inovação na IA se deve a uma combinação de fatores, tais como:

  • Avanços nos algoritmos de aprendizado de máquina: as redes neurais são capazes de aprender características complexas em grandes conjuntos de dados e melhorar continuamente ao longo do tempo. Isso permite que as máquinas realizem tarefas antes exclusivas para humanos, como reconhecimento de fala e visão;
  • Aumento da quantidade de dados disponíveis: coletar, armazenar e processar grandes conjuntos de informações é essencial para alimentar os algoritmos de aprendizado de máquina. Com a popularização da internet e a proliferação de dispositivos conectados, a disponibilidade desse ativo cresceu de maneira exponencial;
  • Melhoria na computação em nuvem e em hardware: de um lado, a computação em nuvem permite que empresas e indivíduos tenham acesso a recursos de computação de alta potência sem a necessidade de investir em hardware caro e manutenção. Por outro, os avanços em hardware, como o uso de GPUs, acelerou a capacidade de execução e de processamento de dados.

Além disso, a crescente demanda por soluções automatizadas e eficientes em vários setores, como saúde, finanças e transporte, também impulsionou o crescimento do setor.

De fato, as tecnologias acima mencionadas são algumas das mais avançadas e eficazes do mundo atual. No entanto, muitos gestores possuem a crença equivocada de que serão, um dia, substituídos por elas.

Em primeiro lugar, é importante mencionar que o ChatGPT, enquanto uma variante do modelo GPT-3 (Generative Pre-trained Transformer 3) desenvolvido pela OpenAI, é capaz de gerar textos de forma autônoma que se mostrou bastante eficaz em tarefas operacionais, como a geração de textos, tradução automática e compreensão de linguagem natural.

Por outro lado, espera-se que o seu sucessor, o GPT-4, seja ainda mais poderoso e funcional. Se o GPT-3 apresenta 175 bilhões de parâmetros, as projeções indicam que o GPT-4 poderá ter até 100 trilhões para gerar respostas ainda mais precisas.

No entanto, apesar de trazer uma infinidade de insights, a plataforma nunca poderá substituir completamente a capacidade humana de pensar criticamente e agir com base em julgamentos sólidos, analisando as nuances da situação e as implicações a longo prazo das decisões tomadas.

Além disso, os líderes e C-levels precisam ser capazes de lidar com incerteza e ambiguidade, enquanto a Inteligência Artificial tem dificuldade de lidar com situações que não são completamente claras ou que podem ter múltiplas interpretações.

Outra razão, já citada, pela qual as tendências em tech nunca substituirão bons gestores é a necessidade de se relacionar e trabalhar com as pessoas. O ChatGPT, por exemplo, ainda não é capaz de lidar com as variantes presentes na comunicação humana e nas relações interpessoais.

Dito isso, vale lembrar que essa ferramenta, como tal, deve ser usada para complementar e apoiar habilidades e competências, mas nunca para substituir completamente a capacidade de um bom gestor.

Por mais que boas tecnologias existam (e de fato existem), um bom profissional sempre terá o seu lugar, desde que saiba se adaptar rapidamente aos diferentes cenários para tirar o máximo proveito possível de todos os recursos que estão à disposição para ajudá-lo em sua jornada.


Este artigo foi produzido por Tallis Gomes, co-fundador e mentor do G4 Educação, fundador da Singu e da Easy Taxi e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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