A importância da tecnologia blockchain para a construção da Web3
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A importância da tecnologia blockchain para a construção da Web3

Tem sido cada vez comum nas mídias sociais a afirmação de que Web3 é muito mais que blockchain, ou que Web3 não é só blockchains e NFTs. Mas será mesmo? Qual a razão por trás destas afirmações?

Quando me perguntam o que é blockchain, há duas definições que gosto de mencionar. A primeira, mais focada em negócios, é: blockchain é um sistema de registro de transações, mantido em uma rede distribuída de participantes “desconfiados” (que não se conhecem ou não confiam entre si).  

Um segundo conceito de blockchain, um pouco mais técnico, é: blockchain é um sistema de registro de transações, ponto-a-ponto, distribuído, baseado em consenso (algorítmos), que fornece imutabilidade de dados, procedência (rastreabilidade) e, por fim, que elimina o gasto duplo. 

E a resolução do “gasto duplo” é o ponto chave para entender no que a tecnologia blockchain se diferencia das demais tecnologias. 

Antes da blockchain Bitcoin não era possível transferir valores na internet sem a existência de um intermediário (validador tradicional de confiança como instituições financeiras, organizações, etc), nem como um dividir um ativo digital em várias partes sem perder sua essência.  

Como nada melhor que um exemplo para compreender algo, vamos supor que você digitalizasse uma nota de R$ 100 e quisesse transferir essa nota “diretamente” para alguém pela internet. Antes da Blockchain Bitcoin, você só poderia enviar uma cópia dela. 

Usamos smartphone e computadores todos os dias. Enviamos e-mails, fotos pelo WhatsApp, mas não nos damos conta de que na verdade, estamos sempre enviando cópias de e-mails (e não o e-mail propriamente dito), cópias de nossas fotos (e não a foto original, que permanece em nosso dispositivo). Sempre que clicamos no botão enviar em um celular ou em um computador, retemos o original. 

Nas transações financeiras, quando clicamos no botão para “confirmar” um pagamento ou transferência, nós estamos usando um intermediário, uma empresa, uma instituição, para transferir o dinheiro de uma conta para outra.  

E esse é o problema que a primeira blockchain resolveu – o problema do gasto duplo. 

Agora, quando você utiliza um aplicativo que roda via blockchain e clica no botão “enviar “, você não está enviando uma cópia, mas está realmente enviando um objeto digital.  

A blockchain resolveu o problema do gasto duplo, tornou único um ativo em meio digital, possibilitou a desintermediação, transferindo a confiança para os dados. 

E é isso que diferencia a blockchain das demais tecnologias e a torna tão revolucionária que a eleva à categoria de General Purpose Technology  – GPT, na sigla em inglês, ou simplesmente tecnologia de núcleo, em português). 

Por que, quais são e como a Web 3.0 pretende alcançar seus principais objetivos? 

Atualmente, todos os dados na Internet estão sujeitos a armazenamento e gerenciamento centralizados através de servidores de determinadas instituições de confiança – ou como já mencionamos, validadores tradicionais de confiança.  

Os firewalls são essenciais para salvaguardar os dados nesses servidores e os administradores de sistemas têm que atender às preocupações de gerenciamento de servidores e firewall. Por outro lado, os contratempos associados ao acúmulo de poder e o controle por determinadas entidades centralizadas têm se tornado cada vez mais evidentes e preocupantes.  

Uma crise de confiança em instituições, organizações e intermediários em geral, acabou por apontar as fendas no poder centralizado, criando assim o cenário ideal para a descentralização.  

Daí porque alguns dos principais objetivos abordados pelos construtores da Web 3.0 se referem à transparência, privacidade e à devolução da propriedade e identidade ao usuário.  

Apesar das atuais preocupações com a Web3, é com uma “arquitetura descentralizada” que o próximo estágio da web busca resolver as questões emergentes do poder e controle centralizados.  

A Web 3 é um movimento 

Tendo em conta tais objetivos e essa arquitetura descentralizada, na terceira geração da Web, os dados “seriam” interconectados de forma descentralizada, juntamente com oportunidades para máquinas e usuários interagirem “diretamente” com eles (isto é, sem intermediários).  

E a palavra “seriam” foi propositalmente utilizada aqui, porque a Web3 é um movimento ainda em construção. O modelo de comunicação e o armazenamento descentralizado, por exemplo, assim como as redes sociais da Web3 estão em seus estágios iniciais, e a Web2 é a que predomina atualmente em todo o mundo.  

A Web em números 

Nos anos 90, a Web 1.0 nos trouxe a publicação online e a primeira encarnação do comércio eletrônico. Nos anos 2000, a Web 2.0 trouxe novas maneiras para os usuários compartilharem conteúdo e plataformas para distribuí-lo. 

Agora, o movimento da Web3 pretende reorganizar a economia em torno de ativos digitais — novas moedas digitais, tokens e formas de propriedade (como os NFTs) garantidas pela matemática em vez de pela lei, costumes ou força. 

Mas cada geração anterior da web acreditava ter encontrado a chave para novas formas de organização digital que seriam imunes à dominação das Big Techs e do capitalismo de vigilância. 

Como a Web3 poderia escapar de resultado semelhante?  

Tudo vai depender de qual tecnologia será a base do movimento da terceira geração da Web.  

Qual tecnologia melhor se alinha com os princípios da Web3? 

A Web3 está sendo construída com Inteligência Artificial (principalmente machine learning), Internet de Todas as Coisas (Internet of Everything ou IoE), dentre outras tecnologias. E talvez por isso, muitos têm destacado que a Web3 vai além de blockchain e criptomoedas, ou que “a Web3 não precisa da tecnologia blockchain”.  

A tecnologia blockchain não é a única tecnologia a compor a Web3. Mas é a tecnologia que mais se alinha com os princípios da Web3. Na verdade, blockchain não é só uma camada da tecnologia subjacente ao ecossistema da Web 3.0. Mas, também, a tecnologia base da própria Web 3.0.  

Aqui, importante destacar que a essencialidade da blockchain ao movimento Web3 vai além da descentralização, do fato dela ser open source e da disponibilidade sem permissão. Isto porque, esta tecnologia também tem importância significativa desde a revisão das estruturas de dados subjacentes ao backend para aplicações na web3.  

O papel da tecnologia Blockchain na Web3 

Além dos sinais de introdução de máquinas de aprendizagem (machine learning, que está debaixo do guarda-chuva da Inteligência Artificial), da conexão de máquinas através do IoT e do uso massivo de gráficos 3D, a terceira geração da Internet funcionaria com redes descentralizadas. 

Nesse passo, faz total sentido uma convergência entre tecnologia blockchain e uma Web 3.0, onde as pessoas tenham o controle de seus próprios dados e saltem de mídia social para e-mail e compras usando uma única conta personalizada (wallet), criando um registro público em redes blockchain de toda essa atividade. 

As redes na terceira geração da Web exigem interoperabilidade, automação alavancando contratos inteligentes, integração contínua e direta, além de armazenamento descentralizado de arquivos de dados resistente à censura.  

Neste contexto, cai como uma luva utilizar blockchain como uma força motriz chave para a próxima geração da Internet. Isto porque, a tecnologia blockchain desempenha um papel crucial na transformação das abordagens convencionais de armazenamento e gerenciamento de dados 

Ou seja, a blockchain oferece uma coleção única de dados ou uma camada de estado universal, que está sujeita ao gerenciamento coletivo – através de DAOs, por exemplo.  

E esta camada de estado única proporcionada pela tecnologia blockchain possibilita também desenvolver uma “camada de liquidação de valor” na Internet, o que até então não existia.  

Tal camada de estado único ajuda no envio de arquivos de forma protegida contra cópia ou adulteração, além de possibilitar a desintermediação através de transações diretas – P2P, ponto a ponto – e eficazes, sem intermediários. 

Takeaway 

Considerando o que acabamos de ver nos parágrafos anteriores, você concorda com a afirmação de que “a Web3 não precisa da tecnologia blockchain”?  

Ou você acha que tal afirmação pode ter sido impulsionada por quem desconhece o papel da blockchain na construção de uma Web descentralizada?  

Talvez, quem aponta a desnecessidade da tecnologia blockchain na construção do próximo estágio da Internet não tenha compreendido a importância da “desintermediação” para que “os princípios do movimento Web 3” sejam preservados. 


Este artigo foi produzido por Tatiana Revoredo, membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation, representante no European Law Observatory on New Technologies e colunista da MIT Technology Review Brasil. 

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