O Anticloud
Computação

O Anticloud

Cloud certamente estará na pauta estratégica de qualquer área de tecnologia. Contudo, existe uma contratemática que deixa CIO’s e diretores de Tecnologia ruborizados.

Em 1997, o termo “computação em nuvem” foi utilizado pela primeira vez pelo professor de sistemas de informação Ramnath Chellappa. Em sua definição, cloud seria um novo paradigma no qual os limites da computação seriam determinados por um racional econômico ao invés de um racional técnico.  

Até então, a maior parte das empresas precisava dimensionar tecnicamente o seu limite tecnológico para atender suas demandas — de produção, de atendimento a clientes e de suporte aos processos internos, entre outras funções — e, então, buscar uma empresa de tecnologia capaz de produzir e entregar servidores que atendessem a esses requisitos. 

Cloud surge com a possibilidade de se contratar esses limites como serviço e eles podem ser reajustados facilmente para mais ou para menos. Isso permite suportar picos de grandes volumes, como a operação de venda de ingressos para um show ou a operação de um varejista em épocas como Black Friday e Natal, ao mesmo tempo em que fora desses momentos, nos vales de demanda computacional, reduz a capacidade ociosa. Em outras palavras, permite às corporações contratarem apenas a infraestrutura necessária para operar. 

EaaS — Everything as a Service 

Cloud reforça uma macrotendência ainda mais ampla. Embora associado à tecnologia, a verdade é que EaaS pode ser estendido a outros elementos de nossa vida cotidiana. Atualmente, pode-se contratar um carro como serviço ao invés de comprá-lo, por exemplo; assim como um filtro de água. Os exemplos são infinitos e podem ser observados como parte do portfólio de startups e de grandes empresas. 

A tendência aparece ancorada na não necessidade de grandes investimentos para que um usuário possa se beneficiar de um determinado tipo de infraestrutura e é apontada por Martin Sundblad, da IDC, como algo que está modificando todos os tipos de negócios. 

Em franco crescimento, com CAGR de mais de 24% a.a., só o mercado de EaaS ligado à tecnologia deve fechar 2023 com U$ 700 bilhões.   

Contratendência 

Enquanto a compra de um bem é considerada um investimento (CAPEX), o aluguel de um bem como serviço é considerado uma despesa (OPEX). 

Nem toda empresa dispõe do capital necessário para aquisição da infraestrutura de tecnologia, especialmente em seu início, assim como nem toda família dispõe do capital necessário para aquisição de uma moradia.  

O aluguel, enquanto viabiliza o surgimento e a operação de startups — assim como a modernização, a escalabilidade, acessibilidade para as corporações —, gera, no mês seguinte, uma fatura a ser paga.   

Cloud, nesta analogia, acaba virando um grande gerador de boletos para as empresas. E, embora não haja orgulho do mercado em admitir, torna-se cada vez mais frequente em rodas de CIO’s a contratendência conhecida como “repatriação”.  

Repatriação 

No contexto de computação em nuvem, repatriação refere-se ao movimento de trazer de volta dados, aplicativos ou serviços para um ambiente local. À estrutura local, aos servidores investidos, dá-se o nome de on-premise.  

Marcin Zgola, fundadora da Nexthop, talvez tenha sido a primeira pessoa a tangibilizar e publicar esta contratendência. Seu artigo obviamente cobre o principal aspecto: os custos de se manter toda uma infraestrutura como serviço. Mas não deixa de trazer o papel dos reguladores à tona. Empresas de segmentos altamente regulados vêm sendo pressionadas por seus órgãos reguladores a separarem e garantirem suas infraestruturas.  

Embora custo seja um aspecto amplamente defendido pelas duas estratégias (cloud e on-premise), a decisão precisa se dar sobre o aspecto inerente a como o custo é operacionalizado na empresa e, fundamentalmente, como ele é sustentado pela organização. 

Enquanto a estratégia on-premise lhe dá a oportunidade de escolher quando e se o investimento será feito — e ainda retém parte de seu valor ao final dos contratos, bem como seu estado atual —, cloud gera uma cobrança mensal, incessante, pelo tempo de duração do contrato e, ao final, dissipa-se alusivamente como uma nuvem. 

À luz desses fatos, líderes de tecnologia de todo o mundo, especialmente aqueles que alcançaram taxas de implantação de cloud próximas de 100%, estão recuando.  

Percentual ideal de cloud 

Mais de 94% das grandes organizações já possuem cloud e uma estratégia de cloud computing, mas 58,7% dos workloads ainda estão em infraestruturas tradicionais. A proporção entre cloud e on-premise deve se inverter em 2025, de acordo com o Gartner. 

Se os dados da tendência parecem promissores, é importante entender os da contratendência, disponíveis na mesma fonte. 

75% das organizações com cloud estão reportando um desperdício da infraestrutura. E esse desperdício pode chegar a 47% de todo o budget relacionado. 

Uma pesquisa recente divulgada pela Zesty apontou que 42% dos CIOs e CTOs consideram o desperdício de cloud o seu principal desafio.  

Sua decisão ligada à infraestrutura não deve ser cloud ou on-premise, mas sim cloud e on-premise. Ser anti-cloud em determinadas aplicações, serviços ou workloads não é ser contra inovador, mas sim, austero em relação aos investimentos da empresa.  

Pareto parece ser a melhor relação para explicar a proporção áurea entre as duas estratégias. E se sua empresa ultrapassou essa proporção, esteja pronto para se juntar ao grupo de executivos que começa a navegar a contratendência. 

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