Big Data, IA e canais digitais a favor da saúde corporativa
HealthHealth Innovation por Einstein

Big Data, IA e canais digitais a favor da saúde corporativa

A tecnologia facilita o acompanhamento da jornada de saúde de colaboradores dentro e fora das instituições. Uma preparação de longo prazo trará vantagens na gestão de riscos em momentos de crise.

No período agudo da crise sanitária do coronavírus, o número de profissionais em atuação nos hospitais teve um aumento significativo, e o número de afastamentos também. Enquanto era preciso manter as atividades na linha de frente para cuidar das pessoas e salvar vidas, os responsáveis pelo cuidado estavam no grupo dos mais expostos ao risco de contaminação.

Esse cenário, embora trágico, levou a uma reflexão virtuosa: as instituições precisam investir no acompanhamento da jornada de saúde dos funcionários. A experiência mostrou não apenas que a saúde corporativa é fundamental para a gestão da força do trabalho, mas que a tecnologia pode ser uma grande aliada em benefício dos profissionais e das organizações.

A longo prazo, a grande vantagem de ter programas robustos visando à promoção da saúde e do bem-estar no ambiente laboral é justamente poder se antecipar no enfrentamento de uma crise — seja ela individual ou coletiva — com base em dados e em análises estratégicas.

Saúde corporativa e populacional

Cerca de 70% das internações de colaboradores do Sociedade Beneicente Israelita Albert Einstein contaminados pelo coronavírus foram internalizadas, mesmo que a instituição estivesse fora da cobertura assistencial ofertada por seus planos de saúde ou que essas pessoas só tivessem acesso ao sistema público. Então, o que poderia ser visto, grosso modo, como custo para o hospital, foi percebido como um facilitador para a contenção da pandemia.

Desde 2021, uma área específica voltada à saúde populacional está em funcionamento no Eisntein. Na avaliação da médica Raquel Conceição, responsável pela saúde corporativa e por esse novo braço de atuação do hospital, as ações relacionadas a ambas foram fundamentais para a redução de custos com a saúde dos colaboradores e familiares.

“Percebemos que trabalhar de maneira reativa na saúde corporativa é muito ruim. A saúde populacional é uma área estratégica na qual eu trabalho muito o uso dos dados, tendências e análises. Com isso, tento me antecipar ou criar programas que de alguma maneira respondam a necessidades que estou enxergando”, afirma.

Segundo a médica, a instituição consegue operar em queda de gastos na gestão de aproximadamente 40 mil vidas, considerando colaboradores e dependentes, enquanto o mercado tem um aumento de aproximadamente 20%.

“Está 100% associado a essa estrutura na qual o Einstein investiu. Tenho esse suporte da alta liderança, o que me dá muita tranquilidade, muita autonomia para negociar e propor mudanças. Isso é muito diferente do mercado. Até por ser uma empresa de saúde, a compreensão é um pouco mais fácil. Eu sou quase um outsider. Fico olhando para o mercado, trago para a gente e adapto à realidade do Einstein. A maioria das organizações trabalha de forma reativa”, relata.

Outro aspecto significativo para essa redução é a possibilidade de possuir uma área própria de regulação, o que facilita a identificação de erros e de má utilização dos serviços.

A eficiência da saúde corporativa no segmento hospitalar, então, está baseada em um conjunto de fatores: “São acertos que a gente teve para chegar a esse resultado. Eu tenho a combinação de uma área estratégica, uma aliança com a alta liderança e o know how”, resume Raquel Conceição.

Dados, digitalização e IA

A partir de análises de dados pela área de saúde populacional, foi possível entender, por exemplo, o perfil de contaminação dos colaboradores do Einstein no auge da pandemia. Uma das ações de prevenção foi o fornecimento de álcool gel e máscaras de proteção individual para uso fora do ambiente hospitalar. “A pandemia trouxe a necessidade de antecipação, que é um dos nossos diferenciais. De olhar não só para a saúde, para a despesa, mas observar onde as pessoas moram, quais fatores perpetuavam a Covid-19. Os funcionários que se infectavam em suas casas moravam em regiões mais carentes, não tinham condições de comprar máscara e álcool gel, e acabavam se contaminando dentro das suas casas. Tínhamos todos os aparatos no hospital, mas quando eles iam para casa dividiam cômodo com várias pessoas”, lembra Conceição.

Na visão da médica, a emergência em saúde deixou ainda mais evidente que a raça, o endereço e as chamadas determinantes sociais de saúde influenciam na prevalência de doenças e nos resultados dos tratamentos.

“O que faz com que eu fique mais saudável que você, se temos acesso às mesmas coisas? De que forma eu, enquanto gestora da saúde, posso contribuir para que você tenha o mesmo desfecho que eu? O foco precisa estar nas pessoas, na empatia, na equidade, transparência e sustentabilidade. As prioridades acabaram sendo refeitas na pandemia”, comentou.

Por ter sido um dos pioneiros no combate à Covid-19 no Brasil, o Einstein teve um aumento significativo de colaboradores nos momentos mais críticos da pandemia. Para dar suporte a essa expansão, foi preciso inovar nas formas de abordagem dos funcionários para prevenir a transmissão do coronavírus na instituição.

A equipe de saúde populacional fez um mapemento de risco com base em informações compartilhadas por colaboradores para identificar se o risco individual se somaria ao risco do trabalho. Dessa maneira, foi possível fazer orientações mais assertivas sobre a necessidade de isolamento, por exemplo. Os contatos foram feitos a distância, por telefone ou vídeo. A digitalização e o uso de dados também permitiram que a área responsável pela saúde do trabalho colaborasse no planejamento da instituição para o enfrentmento da crise. A principal pergunta dos gestores era: “Quantos colaboradores devem estar afastados nos próximos dias?”. A tecnologia ajudou a responder.

Um estudo de predição de atestados permitiu que a disponibilidade dos profissionais em atuação em cada setor fosse avaliada com antecedência. Com essa gestão apoiada na análise de dados, houve previsibilidade para identificar a necessidade de contratação ou remanejamento de pessoas.

O recebimento de documentos digitalizados facilitou o processo de compilação de informações a partir de um lançamento automatizado, sem que o colaborador precisasse entregar um documento físico à instituição. A ferramenta preditiva considerou, ainda, informações obtidas por meio do recorte histórico e do entendimento das ondas da Covid-19 no Brasil e em outros países.

Saúde mental e doenças crônicas

Como reflexo da pandemia, a saúde mental recebeu ainda mais destaque no ambiente corporativo. Ao contrário da Covid-19, que gerou um número alto de afastamentos por períodos mais curtos, o diagnóstico de saúde mental é, historicamente, a principal causa de afastamentos previdenciários na instituição.

O acesso a programas de saúde corporativa também é garatido para os funcionários que precisam se afastar. Essa conexão, por meio da tecnologia, permite que a instituição esteja mais próxima de cada colaborador, oferecendo o apoio necessário para o retorno.

Na visão da médica Raquel Conceição, se antes o tema era importante, tornou-se prioritário, inclusive quanto aos efeitos da Covid-19 a longo prazo. Além desse, o foco da saúde corporativa no Einstein continuará sendo as doenças crônicas, principalmente a obesidade.

Nesse sentido, os avanços na digitalização da saúde conquistados para driblar o coronavírus foram importantes para o aumento da adesão aos acompanhamentos.

“Vamos trabalhar de forma digital. Então, seja no programa de saúde mental, de obesidade, de condições crônicas, já temos plataformas — desenvolvidas em conjunto com a área de inovação — para trabalhar de forma remota, já que as pessoas aprenderam a usar as ferramentas. Percebemos que, com isso, alcançamos um número maior de pessoas”, afirma a médica.


Este artigo foi produzido por Manoela Albuquerque, Repórter e Editora de Saúde na MIT Technology Review Brasil.

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