Um homem com um implante cerebral que lhe permite controlar computadores por meio de sinais mentais diz que está pronto para desafiar a Neuralink, empresa de neurociência de Elon Musk, em uma partida de Pong cara a cara contra um macaco.
A Neuralink está desenvolvendo avançados implantes cerebrais sem fio para que os humanos possam se conectar diretamente a redes de computadores. Em abril, pesquisadores que trabalham com a empresa exibiram vídeos de um macaco-rhesus chamado Pager, que pode jogar o clássico jogo usando sinais cerebrais. O vídeo do macaco MindPong da empresa ganhou elogios dos fiéis de Musk, que o consideraram o mais recente feito impressionante do bilionário.
“Assim que vi, pensei: ‘Será que conseguiria vencer aquele macaco?’”, comenta Nathan Copeland, que há seis anos recebeu um tipo diferente de implante que usa regularmente para jogar videogame.
Copeland se feriu em um acidente de carro e agora não consegue andar ou mover os dedos. Ele mantém o movimento do ombro e pode operar um computador e touchpad aos quais utiliza com o lado do punho. Isso significa que ele não depende totalmente da interface em seu cérebro. “Mas eu gosto de jogar usando minha mente,” ele diz.
Copeland diz que agora está pronto para desafiar o macaco para a primeira “batalha entre espécies” em Pong.
“Já estamos nos preparando e treinando”, diz Copeland, que jogou seus primeiros jogos mentais de Pong esta semana.
Que os jogos comecem!
Uma disputa mental entre homem versus macaco não ofereceria um grande avanço para a compreensão científica. O que ele enfatizaria é a promessa de interfaces cérebro-máquina de presentear às pessoas gravemente paralisadas acesso mais livre aos computadores e à Internet para quaisquer fins que precisem ou queiram.
A partida de Pong poderia ser realizada online e transmitida no Twitch, o serviço de streaming para jogadores, onde Copeland tem um perfil e sonha em se tornar uma estrela com milhares de seguidores.
O objetivo inicial da Neuralink para seus implantes, conforme explicado em uma publicação de um blog em abril, é “devolver a liberdade digital às pessoas com paralisia”, permitindo que “se comuniquem mais facilmente por texto, explorem suas curiosidades na web, para expressarem sua criatividade por meio da fotografia e da arte e, sim, para jogarem videogame”.
Copeland já usa comandos mentais para jogar videogames, incluindo clássicos da Sega como Sonic the Hedgehog. Ele admite que foi “difícil” decidir entre desafiar o macaco de Musk ou não. “Eu poderia levar uma surra”, diz ele. “Mas sim, eu quero jogar”.
Copeland fez o convite do desafio em uma entrevista e em um episódio do programa nacional de rádio pública Science Friday, onde ele apareceu para discutir as interfaces do cérebro.
A Neuralink, uma discreta empresa criada por Musk em 2016, não respondeu às nossas tentativas de reforçar o convite de desafio de Pong.
Nathan Copeland usando um implante neural para jogar Pong com sua mente esta semana na Universidade de Pittsburgh. CORTESIA DE NATHAN COPELAND
Jogando em casa
As interfaces do cérebro funcionam gravando o disparo elétrico dos neurônios no córtex motor, a parte do cérebro que controla o movimento. A frequência de ativação de cada neurônio contém informações sobre os movimentos que um sujeito está fazendo ou apenas imaginando. Um programa “decodificador” então traduz os sinais em um comando que pode ser transmitido a um cursor de computador.
Copeland é um dos poucos humanos com um estilo de implante mais antigo, chamado de matriz de Utah, que ele usa em experimentos na Universidade de Pittsburgh para fazer coisas, incluindo mover braços robóticos. Antes de Copeland realizar uma tarefa, ele começa com uma sessão de treinamento de 10 minutos para que um algoritmo possa mapear os sinais de disparo de seus neurônios para movimentos específicos. Depois, Copeland diz, ele pode pensar que o cursor do computador se move para a esquerda ou direita, para frente ou para trás. Pensar em fechar a mão causa um clique do mouse.
Em março de 2020, a equipe de Pittsburgh providenciou alguns ajustes para que Copeland usasse seu implante cerebral por conta própria, em casa, para operar um tablet. Ele o usou para navegar na web e fazer desenhos de um gato com um programa de pintura. Na primavera passada, ele estava utilizando-o seis horas por dia. “Isso me ajudou a aguentar a pandemia”, diz ele.
Esta imagem de um gato foi desenhada por Nathan Copeland, que está paralisado, mas usa uma interface cérebro-computador para controlar um computador. A imagem está à venda como um token não fungível (NFT). NATHAN COPELAND
Mas o tablet não é particularmente potente. E Copeland só pode usá-lo com baterias. Ele não deve conectar seu cérebro a nenhum dispositivo ligado diretamente à rede elétrica, já que ninguém sabe que efeito uma oscilação de energia poderia causar. “Eu o incentivei a ter cuidado com os softwares que ele instala”, diz Jeffrey Weiss, um pesquisador de Pittsburgh que trabalha com Copeland. “Não tenho outras restrições além de não quebrar o dispositivo e não o infectar com malware. Afinal, é apenas uma máquina Windows”.
A interface de Copeland foi instalada por um neurocirurgião há seis anos. Ele tem quatro implantes de silicone ao todo. Os dois em seu córtex motor permitem que ele controle um braço robótico usado em experimentos ou um cursor de computador. Outros dois, na parte somatossensorial de seu cérebro, permitem que os cientistas enviem sinais para sua mente, que ele registra como sensações de pressão ou formigamento nos dedos.
A vantagem do macaco
Se ocorresse um confronto mental, o primata da Neuralink teria a vantagem de utilizar uma interface de última geração, que a empresa chama de “o Link”. Enquanto Copeland tem que conectar eletrodos a duas portas em sua cabeça, o implante da Neuralink tem o tamanho de uma tampa de garrafa de refrigerante e está totalmente embutido no crânio. Ele transmite reações cerebrais sem fio, via Bluetooth.
“É um dispositivo muito promissor, mas é novo e há muitas perguntas sobre ele”, diz Weiss. “Ninguém fora da Neuralink conseguiu dar uma olhada nele”. A empresa disse que espera recrutar seres humanos para a realização de testes, mas isso vai depender de como o implante se comporta em animais, incluindo porcos, nos quais a Neuralink já está fazendo experimentos. “Ninguém sabe se vai durar seis meses ou seis anos”, diz Weiss.
O implante Neuralink também registra mais neurônios simultaneamente do que os dispositivos anteriores. O modelo no cérebro do macaco emprega cerca de 1.000 eletrodos de fio fino, enquanto os do córtex motor de Copeland registram cerca de 160 neurônios motores de uma vez.
Weiss diz que não tem certeza de quem ganharia a disputa e que não está claro se o registro de mais neurônios melhoraria o controle sobre os movimentos bidimensionais de uma raquete de Pong. “Os macacos provavelmente não são melhores, mas eles têm muito tempo para praticar”, diz ele.
Mas Pong é tanto um jogo mental quanto de habilidade física. Como humano, Copeland teria a vantagem da engenhosidade: alguns jogos Pong permitem ao jogador acertar a bola em ângulos mais agudos, usando manobras arriscadas, como mover rapidamente a raquete para interceptar a bola ou acertar um recanto.
Em meados de maio, Copeland começou a praticar no laboratório de Pittsburgh, acessando o jogo online Project: Pong. Ele espera encontrar um patrocinador para apoiá-lo e talvez arrecadar fundos para um novo computador. Depois de uma partida, lembrou-se de que Pong não é tão fácil quanto parece: “Eu definitivamente precisaria praticar mais”, diz ele.