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Apesar do Brasil ser considerado, já há alguns anos, um polo crescente de tecnologia, há quem diga que a Transformação Digital só foi alavancada por um mix da urgência de mudança causada pela pandemia da Covid-19 e porque os consumidores e empresas passaram a experimentar soluções que nunca tinham visto antes, pressionado os negócios a fazer mais – e diferente.
Dada as devidas proporções, realmente muitas instituições foram beneficiadas com a nova realidade, entretanto, a maioria das empresas não estava preparada para atender às recentes demandas do consumidor.
Buscando entender o real cenário das empresas brasileiras, os especialistas da Samba Digital, braço de Transformação Digital da Sambatech, realizaram uma pesquisa com foco em mapear o mercado de TD, entender os principais desafios e insights da área. Foram mais de 100 respostas de 100 C-Levels reconhecidos nacionalmente, que atuam em sua maioria na área de tecnologia e inovação e que estão à frente de empresas de diversos portes, sendo que 17% delas com faturamento acima de R$ 1 bilhão.
O objetivo era coletar informações sobre como as decisões tomadas por esses executivos e executivas impactam o processo de digitalização nas empresas. Abordamos assuntos como o progresso da digitalização; estágio da Transformação Digital; cultura da inovação e investimentos em tecnologias. O resultado final trouxe dados valiosos, que ao serem interpretados e cruzados deram uma noção real do tamanho do mercado. Neste artigo, compartilho com vocês os principais insights.
Estágio da Transformação Digital
Um dos dados mais importantes coletados na pesquisa é que 45,7% das empresas brasileiras já estão implementando uma estratégia de Transformação Digital, enquanto 30,5% estão atualmente desenvolvendo uma estratégia e apenas 1,9% dos entrevistados não possuem planos para TD.
Quando analisamos os números por porte de empresa, entre as que possuem faturamento anual de até 10 milhões, 44% delas estão implementando uma estratégia de Transformação Digital. Entre as que faturam mais de 1 bilhão, 38,9% estão nesse mesmo estágio. Fato interessante é que nenhuma empresa com faturamento maior que R$ 1 bilhão disse não ter planos para TD e cerca de 11% querem desenvolver ações relacionadas ao assunto, mas ainda não iniciaram os projetos.
Esses aspectos precisam ser comemorados, visto que a maioria das organizações nacionais já perceberam a importância de se digitalizarem e estão avançando nesse aspecto. Outro dado importante se refere ao fato de que, das empresas que apresentam o processo de Transformação Digital em seu DNA, a maioria delas, 32%, possuem faturamento de até R$ 10 milhões, seguido das empresas com faturamento de R$ 11 a R$ 100 milhões, representando 18%. Em relação às empresas acima de R$ 1 bilhão de faturamento, esse número cai para 9%. Sendo assim, fica claro que as grandes empresas também podem enfrentar dificuldades nesse sentido.
O ano de 2020 foi essencial para conseguirmos alcançar este patamar. Alguns fatores, como a democratização de tecnologias, as recentes e constantes mudanças no comportamento do consumidor e o peso que a pandemia do coronavírus exerceu na vida da população. A tendência é que, nos próximos anos, três vertentes alavanquem as iniciativas de TD: relações cada vez mais digitais entre cliente e empresa; aperfeiçoamento do trabalho remoto, criando uma cultura ágil; e revisão dos processos internos e da jornada do cliente com foco em novas receitas.
Com a aceleração da Transformação Digital é fundamental que as empresas respondam com agilidade às mudanças que ocorrem no mercado. Essa é uma forma de lapidar o seu diferencial competitivo, se proteger de ameaças internas e externas e beneficiar-se das melhores oportunidades de negócio. Atualmente essas organizações estão sendo chamadas de “empresas cinéticas”, um termo criado para negócios que têm grande poder de adaptação e facilidade para ultrapassar a inércia, de acordo com o surgimento de tecnologias disruptivas.
Investimentos em Transformação Digital
Quando falamos em investimentos no setor, 62,5% das empresas pretendem dispor entre 10% e 30% do faturamento de 2021 em Transformação Digital, enquanto 16,3% usarão entre 30% e 50%. Apenas 9,6% disseram que não pretendem investir neste ano. Esse dado valida a hipótese de que os negócios precisam se reinventar para continuar relevantes para o consumidor e que estão dispostos a investir nessa transformação.
Outro aspecto que destaca o quanto o assunto ganhou importância no meio corporativo é que 85% dos negócios que afirmam ainda não ter iniciativas em Transformação Digital já perceberam o quanto é importante atentar-se para o assunto. Isso prova que a tendência é coletiva e reforça a necessidade latente de agregar valor para o consumidor passou a fazer cada vez mais parte das pautas de discussão estratégicas das companhias.
Ao focar em quais seriam as principais apostas que poderiam auxiliar no avanço da jornada digital, a maioria das empresas disse investir em categorias e temas como Analytics, Cloud Computing e Arquitetura de Sistemas, traduzindo a necessidade latente das empresas em tomar melhores decisões, ser mais ágil e moderno para poder escalar.
Ser data-driven se tornou uma obsessão de vários negócios porque se conecta com a necessidade de poder tomar melhores decisões. As empresas já geram uma quantidade gigante de dados, mas o grande desafio é transformar essas informações em insights para agir de uma forma mais assertiva. Informações essas que quando interpretadas podem gerar descoberta de padrões comportamentais do usuário; maior compreensão da jornada e oportunidades de estancar desperdícios operacionais.
Já o investimento em Cloud Computing está ligado a alguns pilares que permitirão às empresas se digitalizarem com qualidade: automação, agilidade e eficiência. Sem dúvidas, uma das grandes vantagens do serviço de Cloud é a disponibilização dos dados em tempo integral, otimizando os processos de TD e aprimorando a produtividade das organizações.
Outro fator que facilita o investimento em cloud é o baixo investimento inicial, já que não é necessário adquirir equipamentos ou realizar procedimentos complexos. Além disso, despesas com espaço, refrigeração, energia e manutenção podem ser reduzidas, já que não é necessário ter local físico para o armazenamento dos dados.
Biometria facial aparece na lista ainda timidamente (8%), mas já mostra uma tendência ao surgir nas respostas, mostrando que existem discussões no sentido de ter uma sociedade mais digital, permitindo avanços na segurança pública ou com o propósito de inibir fraudes e identidade e simplificar processos.
Cerca de 15% deve trabalhar com automação e cybersecurity e aqui também podemos destacar a segurança da informação. Segundo pesquisa da McAfee, somente em 2020, os prejuízos gerados por cibercriminosos somaram mais de US$ 1 trilhão. Já o estudo Cyber Security Insights mostra que até o fim de 2021, as empresas de todo o mundo devem investir US$ 6 trilhões na área. Uma parte desses investimentos devem ser direcionados para ações de proteção de dados dos usuários, visto que temos em vigência leis rígidas, como a Lei Geral de Proteção de Dados, no Brasil, e a General Data Protection Regulation, para empresas que comercializam em território europeu.
Ainda sobre os investimentos em TD, é importante salientar que 54% dos entrevistados estão revisando os processos ou jornadas com foco em novas receitas, o que é extremamente positivo. Vale lembrar que um dos principais objetivos da Transformação Digital é a otimização de processos para melhorar a maneira que conduzimos os negócios e aprimorar a experiência do cliente, portanto conseguimos comprar que essa ação é uma das principais prioridades dos executivos nas empresas.
Ter processos e jornadas constantemente atualizadas permite a criação de soluções mais acertadas, dá agilidade na conclusão de tarefas internas e proporciona um maior controle das informações. Essas mudanças possibilitam que as empresas digitais coloquem o cliente em primeiro lugar, com base nas expectativas coletadas durante todas as interações realizadas.
Desafios ao implantar a Transformação Digital
Ao serem questionados sobre o maior desafio quando falamos de implementar a Transformação Digital internamente, os entrevistados deram motivos variados, mas que mostram uma tendência. Cerca de 17% relataram falta de investimento; 14,3% legado tradicional de tecnologia; e 2,9% têm medo das consequências de um projeto não dar certo ou medo de riscos de segurança.
Já 20% dos C-levels disseram não saber por onde começar; 14% têm dificuldade em medir o retorno sobre o investimento (ROI) e 4,8% alegaram não terem apoio da liderança.
Entretanto, a maioria (23,8%) disse que o principal desafio está na falta de colaboradores com as habilidades necessárias.
Déficit de profissionais de TI
Porém, ao contrário do que muitos podem imaginar, a falta de colaboradores capacitados não é um problema apenas das microempresas. Cerca de 25% das organizações que relataram esse desafio possuem entre 101 e 500 funcionários, enquanto 12% têm mais de 5 mil colaboradores.
Esse cenário corrobora o que tem sido amplamente divulgado: falta mão de obra no setor de TI. Segundo relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o déficit de profissionais pode chegar a 260 mil até 2024.
Conseguimos evoluir na adoção e disseminação da tecnologia, mas ainda não somos capazes de formar profissionais qualificados com as habilidades solicitadas pelo mercado. Isso se torna um desafio, visto que a Transformação Digital não é apenas sobre usarmos tecnologias, mas sobre pessoas guiando mudanças dentro e fora das companhias. Quando falamos de transformação ou mesmo digitalização é importante que exista uma Cultura Organizacional adequada para que os colaboradores possam conseguirem avançar e executar as ações necessárias.
Uma das tendências para os próximos anos é que toda empresa acabe se tornando um polo de tecnologia. Na prática isso consiste na integração do time de tecnologia em todos os setores da organização, principalmente na área de negócios e pessoas, de modo que a inovação se torne parte da cultura e do modelo de negócios.
Possibilidades para superar o desafio da contratação
Uma das alternativas encontradas por muitas empresas é trabalhar com times híbridos ou alocação de profissionais ou squads. A maior parte das empresas, representando 68,9% já trabalha com alocação de profissionais. Outros 17,2% não trabalham com alocação, mas tem essa pretensão nos próximos meses.
Mesmo para quem adota a contratação de profissionais terceirizados, alguns desafios ainda precisam ser superados. A falta de qualificação ainda aparece como principal gargalo para 41,4% das empresas, seguido pela integração com o time atual (24,1%) e orçamento (19%).
A falta de profissionais de TI tem sido um problema tão comum e que tem desencadeado tantas outras complicações que já podemos ver diversos movimentos para minimizar esse gap. Com a chegada da pandemia da Covid-19, muitas empresas se viram obrigadas a adotar o modelo de trabalho remoto.
O que, a princípio, era uma preocupação, se tornou alternativa para ampliar as contratações, visto que não é mais necessário estar no mesmo ambiente físico. Com isso, o modelo do anywhere office ganhou força e atualmente é possível contratar em qualquer estado do Brasil, ou até mesmo em qualquer país, se a língua não for uma barreira.
Uma iniciativa que ganhou destaque recentemente foi a da Take Blip, que está oferecendo mais de 30 mil bolsas de estudos para formação em linguagens de programação. O programa de formação é online, gratuito e não há pré-requisitos para a participação.
Também existem programas como o da Trybe, uma escola de programação onde os alunos só pagam depois de arrumar emprego. Já são mais de mil alunos se capacitando para profissões que tem uma alta demanda, não só das startups, mas de todos os negócios.
Outra startup que vem ganhando força no mercado de educação é a Digital House, com o objetivo de formar profissionais digitais preparados para o mercado de trabalho. Eles oferecem diversos cursos de programação, marketing, UX, dados e negócios. Além disso, existe uma unidade de negócios voltada exclusivamente para empresas, oferecendo capacitação digital para as equipes.
Crescente demanda por terceirização de TI
Como citei anteriormente, quase 70% das empresas entrevistadas já trabalham com alocação de profissionais e squads. E a tendência é que esse número cresça ainda mais. Isso porque o modelo de trabalho permite mais agilidade operacional e alocação de times multiprofissionais em diferentes demandas.
Somente relembrando, squad é o nome de um modelo de trabalho que divide os colaboradores em pequenos grupos multidisciplinares, para trabalhar em um projeto ou objetivo específico. Esse modelo se tornou mais conhecido entre as startups após uma publicação em que o Spotify anunciou o uso de squads e apresentou os benefícios em termos de produtividade.
Além dos squads, outra grande tendência de modelo de trabalho é o que chamamos de People As a Service. Trata-se de um serviço que oferece mão-de-obra de profissionais para projetos completos ou jobs específicos. A oferta é muito semelhante à de outsourcing, porém enquanto a terceirização tem foco exclusivo em redução de custos, o People As a Service foca, principalmente, em contar com profissionais com expertises e skills que ainda não fazem parte do capital intelectual da sua empresa.
Legado de sistemas
Apesar da falta de mão-de-obra qualificada ser um ponto muito importante, outros fatores colaboram de forma expressiva para a falta de evolução dos projetos de Transformação Digital. Entre eles estão o legado de sistemas. Quase 45% dos entrevistados concordaram que existe um legado, mas que os sistemas estão em atualização. Outros 16% consideram os sistemas obsoletos e 23% acreditam que a arquitetura da empresa seja moderna. Entre os que consideram a arquitetura moderna, 50% das empresas possuem faturamento anual de até R$ 10 milhões e apenas 8,3% faturam mais de R$ 1 bilhão.
Para que a Transformação Digital avance no ritmo que é esperado e que seja benéfico para as empresas brasileiras, o legado de sistemas precisa estar em evidência. Esse é um desafio muito comum dos negócios, principalmente os que têm mais tempo de vida. Nesse tópico as empresas enfrentam um dilema de ter que manter o que já foi construído, porque é o core que sustenta a empresa; e do outro existe a necessidade latente de modernizar, sendo ágil ao timing do mercado para entregar valor. O que muitos negócios têm feito é dividir os times: um cuidando desse trabalho no legado, trazendo melhorias incrementais gradativas e outro construindo soluções em microsserviços plugadas ao core para conseguir responder às tendências e novas necessidades dos consumidores.
Eficácia das iniciativas de Transformação Digital
Apesar de termos dados muito animadores relacionados aos avanços dos projetos de TD, um aspecto me causou grande preocupação: quase 40% das empresas ainda não estão conseguindo medir as iniciativas da maneira que gostariam. A falta de mensuração de resultados é um grande problema, já que a maior parte das empresas (37,5%) espera como resultado de TD aumento de receita e aumento da participação do mercado.
Acredito que as empresas que ainda não têm uma visão clara dos marcos e o que precisa ser feito para alcançá-los devem, de forma rápida, focar os esforços para realizar essa análise. Esse tipo de iniciativa, na maioria das vezes, economiza tempo e recursos que podem ser essenciais no próximo passo a ser dado.
Por meio de um estudo realizado com a contribuição de dezenas de executivos, empreendedores e especialistas na área de inovação, tecnologia e negócios dos mais diversos segmentos, nós buscamos comprovar o impacto da transformação digital sobre o mercado brasileiro. “Um mapeamento muito necessário sobre a transformação digital das empresas brasileiras. O investimento em Analytics como um dos principais passos para a digitalização valida ainda a importância de ter uma operação baseada em dados para o sucesso do mercado”, como avalia Cássio Pantaleoni, VP de Digital Experience na Adobe Brasil.
Esse estudo tem como objetivo ser um benchmarking e comparativo para que as empresas possam comparar a sua realidade com a outras organizações relevantes do ramo e identificar qual é o seu lugar na corrida pela digitalização em relação ao mercado brasileiro; e também para trazer dados que pudessem gerar os melhores insights sobre tecnologia, aproveite a oportunidade para quem respondeu de conhecer a atual etapa da Transformação Digital na sua empresa mais a fundo e entender quais devem ser as suas prioridades nesse processo.
Ficou claro que ainda existem fatores que nos causam preocupação, como a situação de 97,5% das empresas brasileiras, que ainda enfrentam desafios para avançar na digitalização e o déficit de profissionais de TI. Entretanto, a importância da Transformação Digital já é compreendida pela maioria, sendo que 87,5% também disseram ter realizado alguma iniciativa voltada à TD em 2020.
Nosso país é uma potência quando falamos de adaptação mercadológica e precisamos usar esse know-how ao máximo para darmos o próximo passo. Para isso acontecer, as lideranças empresariais precisam estar comprometidas em investir na criação de estratégias de Transformação Digital.
Se quiser ter acesso a todas as informações e insights sobre o cenário da Transformação Digital no Brasil, disponibilizamos gratuitamente o relatório completo. Você pode fazer o download aqui.
Este artigo foi produzido por Gustavo Caetano, CEO da Sambatech e Samba Digital, e colunista da MIT Technology Review Brasil.