Oferecido por
A economia circular tem sido um dos principais tópicos abordados nas conferências globais sobre meio ambiente, sustentabilidade e energia. Ao contrário do modelo econômico tradicional de produzir, comercializar, consumir e descartar produtos utilizados pela população mundial, a economia circular desenvolve um ciclo constante e sustentável, com diversos atores da cadeia altamente envolvidos e participativos. Assim, os materiais e recursos são utilizados pelo maior tempo possível e, posteriormente, reaproveitados ou reciclados.
Embora o conceito tenha surgido em 1989 com a publicação do livro “Economics of Natural Resources” (Economia dos Recursos Naturais), o tema tem ganhado força e grande atenção dos setores público e privado na última década. É evidente a necessidade de uma transformação nos estilos de vida e padrões de consumo e produção sustentáveis diante das alterações climáticas em todo o mundo.
Transformação de sociedades e economias
A economia circular está associada diretamente ao desenvolvimento econômico e social de um país ao utilizar melhor os recursos naturais disponíveis, desde otimização de processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima, priorização de insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis até rastreabilidade de consumo e descarte.
De acordo com relatório da MarketsandMarkets, o mercado global de gestão de resíduos deve atingir US$ 1,2 trilhão de dólares em 2024, enquanto os investimentos projetados para 2029 podem chegar a US$ 1,6 trilhão.
Aliás, a transição global para uma economia circular foi um dos principais tópicos abordados na COP28, em Dubai, em 2023. No setor público, atualmente, 27% das nações priorizam o tema em suas Contribuições Determinadas Nacionalmente (Nationally Determined Contributions — NDC). Os países serão obrigados a atualizar e aumentar suas metas de NDC na COP30, no Brasil, em 2025.
A economia circular deve contribuir significativamente na redução em até 60% de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2050, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), em seu relatório publicado em dezembro de 2023.
Blockchain: geração de valor em toda cadeia de plásticos
O “livro contábil” que revolucionou as transações financeiras por meio de criptomoedas tem gerado impacto e valor para pessoas, empresas e, sobretudo, a sociedade como um todo nos últimos anos. A Gartner projeta receitas de modelos de negócios provenientes da blockchain em US$ 3,1 trilhões até 2030.
No setor financeiro, as informações e o conjunto de transações são armazenados em blocos carimbados com tempo e data. A cada 10 minutos é formado um novo bloco de transações que se conecta ao bloco anterior. As moedas transacionadas são registradas na blockchain: quem enviou, quem recebeu, quando foi feita e em qual lugar do livro. Tudo fica registrado. E uma vez a informação é inserida, não é mais possível alterá-la ou apagá-la.
Nos demais setores, como varejo, saúde, agricultura, transportes, publicidade, farmacêutico e manufatura, a aplicação e a lógica da blockchain são as mesmas. Ao garantir autenticação, transparência, rastreabilidade, segurança e imutabilidade dos dados, todos os participantes da cadeia de produção, consumo, descarte e reciclagem de plásticos têm transparência e segurança em suas relações de negócios de uma forma totalmente colaborativa.
De acordo com a Science Direct, as contribuições da blockchain para a economia circular são redução de custos de transação, melhor desempenho e comunicação ao longo da cadeia de suprimentos, proteção dos direitos humanos, aumento de confidencialidade e redução de emissão de carbono. Soma-se a isso a prevenção a atividades ilegais, como descartes de resíduos de forma inapropriada.
Neste sentido, a blockchain torna-se fundamental ao identificar e monitorar toda a jornada de materiais e componentes de plásticos em toda a cadeia de suprimentos. E, consequentemente, para que possam ser reutilizados, remanufaturados ou reciclados.
Case da BASF no Brasil e no Canadá: rastreabilidade da economia de reciclagem de plástico
Segundo estudo produzido pela Deloitte para o Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá, o país descartou quase 3,3 milhões de toneladas de resíduos plásticos em 2016. Desses, menos de 11% foram reciclados, o que significa que o restante foi depositado em aterros ou perdidos no meio ambiente. Neste ritmo, a estimativa era uma perda de cerca de US$ 11 bilhões em materiais plásticos todos os anos até 2030.
Com o objetivo de endereçar os desafios ambientais mais urgentes relacionados aos resíduos plásticos, a BASF, multinacional alemã da indústria química, desenvolveu e lançou uma plataforma digital baseada em blockchain chamada reciChain no Brasil e no Canadá. Ao criar um ecossistema com a participação de todos os players responsáveis pela geração de plásticos, o sistema fornece rastreabilidade e transparência em toda a cadeia de valor de uma forma colaborativa, além de gerar incentivos mais fortes para reciclagem.
Ecossistema da cadeia de valor de plásticos:
- Indústria química responsável pela fabricação de plásticos
- Empresas de máquinas de embalagens
- Distribuição e redistribuição de produtos, como supermercados, lojas, varejistas
- Consumidores finais
- Coletores de resíduos e recicladores e empresas responsáveis por reciclagem
- Fornecedores da matéria-prima
- Entidades governamentais
A plataforma combina a blockchain com um crachá digital (digital badge) e tecnologia de contagem de loops (loop count technology) que permite triagem, rastreamento, monitoramento e transparência em toda a cadeia de valor, com um compartilhamento seguro de dados entre os diversos atores do mercado. O sistema também gera tokens e certificados digitais confiáveis que atestam qual material foi reciclado, a origem responsável do material reciclado, associado ao impacto social positivo na cadeia pós-consumo.
A indústria de manufatura identifica quando e como o resíduo foi descartado ou reciclado. Os distribuidores, como supermercados, lojas e outras empresas, têm garantia sobre a validade dos certificados de recicladores e conversores. E o catador de plásticos ou empresas de reciclagem, por sua vez, são remunerados na ponta final.
O resultado é uma cadeia de abastecimento circular mais competitiva, em vez de linear, prolongando o ciclo de vida dos plásticos.
Muitas das atividades de coleta e triagem são realizadas manualmente, o que resulta em contaminação de materiais. Adicionalmente, a rastreabilidade é uma preocupação à medida que novos compromissos começam a surgir pelas empresas e varejistas. Com o reciChain, o objetivo é revitalizar o valor dos plásticos e melhorar significativamente a circularidade na cadeia de abastecimento.
No Brasil
O projeto começou a partir da necessidade de melhorar desigualdade social e questões regulatórias em torno da emissão de certificados de reciclagem. Diante da capacidade de simbolizar o valor da reciclagem dos plásticos, a plataforma permite uma distribuição de dinheiro mais justa do valor acrescentado ao longo da cadeia de abastecimento, como cooperativas e catadores de recicláveis. Além disso, a maior transparência do fluxo de materiais na plataforma proporciona melhor conformidade com a documentação de reciclagem.