Provavelmente não faz muito tempo desde a última vez que você vestiu algo elástico. De calças de ioga a meias, os tecidos com elasticidade estão por toda parte. E sua popularidade só cresce: o mercado global de spandex, avaliado em quase US$ 8 bilhões em dezembro de 2024, deve crescer entre 2% e 8% ao ano na próxima década. Essa pode ser uma boa notícia para o seu conforto, mas não para o meio ambiente. A maioria dos tecidos elásticos contém fibras derivadas do petróleo, que liberam microplásticos e levam séculos para se decompor. Além disso, mesmo uma pequena quantidade de fibra elástica sintética em uma peça natural pode torná-la não reciclável.
As cofundadoras da Good Fibes, Alexis Peña e Lauren Blake, querem resolver esse problema desenvolvendo elásticos cultivados em laboratório. Trabalhando na Tufts University e no Argonne National Laboratory, em Illinois, elas estão usando uma classe de materiais chamada proteínas tipo elastina da seda (SELPs) para criar tecidos biodegradáveis. “A verdadeira circularidade começa com a matéria-prima”, diz Peña. “Falamos sobre circularidade em diversas indústrias, mas, no setor têxtil, precisamos olhar para o que usamos desde a origem.”
Criadas a partir de DNA recombinante, as SELPs são proteínas sintéticas inspiradas na seda e na elastina, personalizáveis para características como resistência, afinidade com corantes e elasticidade. As sequências de aminoácidos da seda — como glicina-alanina e glicina-serina — garantem força às fibras, enquanto a estrutura molecular da elastina proporciona elasticidade. Combinando essas moléculas como peças de LEGO, teoricamente, pode-se criar a fibra elástica ideal.
A Good Fibes ainda está em estágio inicial e utiliza proteínas derivadas da bactéria E. coli para criar seus elásticos. O processo envolve transformar as proteínas em um material gelatinoso, que pode ser convertido em fibras pelo método wet-spinning. Essas fibras, então, são processadas para formar tecidos não tecidos, fios ou linhas para tecidos trançados.
No entanto, escalar a produção ainda é um desafio. Segundo Blake, para produzir apenas uma amostra de tecido de teste, é necessário pelo menos 1 kg de material microbiano. Além disso, as fibras precisam ter a combinação ideal de elasticidade, durabilidade e resistência à umidade. “Ainda estamos resolvendo essas questões com diferentes aditivos químicos”, explica Blake. Por isso, a empresa também está testando proteínas vegetais, como o glúten de trigo, que está disponível em maior quantidade do que as proteínas bacterianas.
De acordo com Timothy McGee, especialista em biomateriais do laboratório de pesquisa Speculative Technologies, a maior dificuldade das startups de biotêxteis é a fabricação. “Muitos laboratórios e startups ao redor do mundo criam proteínas recombinantes com propriedades incríveis, mas geralmente enfrentam dificuldades para transformá-las em fibras utilizáveis”, explica McGee.
Uma empresa japonesa chamada Spiber conseguiu superar essa barreira. Em 2022, abriu uma fábrica comercial para produzir tecidos a partir de proteínas recombinantes de E. coli, usando um processo de fermentação desenvolvido pela empresa desde 2007. No ano seguinte, após 16 anos de prototipagem, marcas de moda como The North Face, Goldwin, Nanamica e Woolrich foram as primeiras a comercializar roupas feitas com os tecidos à base de proteínas da Spiber.
Good Fibes quer fazer o mesmo, mas para tecidos elásticos. A empresa começou recentemente a experimentar versões não tecidas de seus tecidos, depois que Peña recebeu um financiamento de US$ 200.000 do Departamento de Energia dos EUA em 2024. Os materiais não tecidos mais populares são aqueles usados em produtos semelhantes a papel, como máscaras cirúrgicas e toalhas de papel, mas Peña imagina uma versão mais macia e elástica, quase como um feltro leve. Ela usou o financiamento para comprar a primeira bioimpressora 3D da empresa, que chegou em janeiro. Com ela, Peña começará a criar padrões em amostras não tecidas.
Se for bem-sucedida, McGee prevê que um tecido elástico não tecido pode ser uma opção mais escalável do que os tecidos convencionais. No entanto, ele acrescenta. “Materiais não tecidos não são muito estruturais, então normalmente não são muito resistentes. O desafio que a Good Fibes precisará enfrentar é demonstrar qual nível de resistência e durabilidade — em qual tamanho e escala — elas conseguem produzir, e a que custo.”
Com mais investimentos, Peña e Blake planejam desenvolver tanto tecidos quanto não tecidos no futuro.
Enquanto isso, elas já estabeleceram parcerias com pelo menos um grande varejista de roupas esportivas, que está ansioso para testar suas futuras amostras de tecido. “Eles dizem: ‘Quando vocês tiverem uma amostra, mandem para a gente!’”, conta Blake, acrescentando que acredita que a Good Fibes estará pronta para comercializar seu tecido em dois anos.
Até lá, a inovação da startup no mundo da moda continuará sendo moldada no laboratório. Como Blake resume: “Estamos pensando grande ao pensar pequeno — até o nível molecular.”