O que sabemos sobre o incentivo da China a transportes movidos a hidrogênio
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O que sabemos sobre o incentivo da China a transportes movidos a hidrogênio

As empresas chinesas estão levando a sério o desenvolvimento de veículos movidos a células de hidrogênio. Entretanto, o material ainda é produzido a partir de combustíveis fósseis no país.

O que você encontrará neste artigo:

Experiência do Usuário
Tendência na China
Desafios do Hidrogênio

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É bem provável que você já ouviu falar de veículos movidos a hidrogênio, mas nunca viu um. Existem mais de 18.000 nos EUA, quase exclusivamente na Califórnia. Por fora, eles se parecem com os veículos tradicionais, mas são movidos à eletricidade gerada por uma célula de combustível de hidrogênio, o que os torna muito mais limpos e sustentáveis.

Então, quando soube que, em algumas partes da China, as empresas estão colocando bicicletas movidas a hidrogênio nas ruas para qualquer pessoa andar, foi um verdadeiro momento de “o futuro está aqui” para mim. Pesquisei mais sobre o assunto e escrevi uma matéria.

Essas bicicletas têm tanques de hidrogênio do tamanho de garrafas de água, o que pode torná-las mais fáceis de usar do que as bicicletas comuns, embora os tanques tenham de ser trocados a cada 40 milhas (aprox. 64 km). Contudo, elas não têm exatamente recebido críticas otimistas. Um ciclista em Xangai me disse que não sentiu um aumento na velocidade por parte do hidrogênio e que a experiência do usuário foi prejudicada por falhas de design de hardware e software. Muitas pessoas nas redes sociais concordam com ele.

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A Youon, uma das maiores organizações do segmento de compartilhamento de bicicletas da China, deu seu apoio à energia do hidrogênio. Ela colocou milhares de bicicletas movidas a hidrogênio nas principais cidades, como Pequim e Xangai, na esperança de dar início a uma tendência.

No entanto, para os especialistas em energia limpa, antes de tudo, é difícil entender por que essas bicicletas a hidrogênio são promovidas: elas são menos eficientes do que as bicicletas elétricas comuns e não farão muito sentido econômico a longo prazo.

Não é apenas uma companhia que segue esse caminho. O apetite coletivo por bicicletas a hidrogênio tem sido muito maior do que eu esperava. Pelas minhas próprias contas, a Youon tem meia dúzia de concorrentes no ramo, e várias cidades adotaram a ideia. Embora o futuro das bicicletas compartilhadas movidas a hidrogênio seja incerto, sua expansão representa uma tendência muito maior acontecendo na China: explorar como o hidrogênio pode ser usado no transporte.

Não é segredo que o país já se tornou líder mundial na produção de veículos elétricos (VEs) acessíveis e potentes, mas o governo e os negócios chineses não estão parando por aí. Nos últimos anos, um número significativo de políticas locais foi estabelecido para subsidiar a produção de veículos a hidrogênio, isentar suas taxas de pedágio e construir mais estações de reabastecimento. Atualmente, a China tem cerca de 21.000 veículos a hidrogênio em circulação e mais de 400 postos que abastecem o material.

Vale a pena verificar, verdadeiramente, esse esforço da China sobre o hidrogênio: Embora o uso do gás como combustível para veículos não gere emissões de carbono, não é a mesma realidade para produzir realmente hidrogênio. Na China, a grande maioria do material vem de combustíveis fósseis, que custam muito menos do que produzi-lo com água e energia renovável. (Para distinguir hidrogênio “cinza”, “azul” e “verde”, leia este artigo da minha colega Casey Crownhart).

A triste verdade é que a China dependerá do carvão e do gás natural para produzir hidrogênio por algum tempo. O fato de o gás ser um subproduto do processamento do carvão explica por que muitas cidades chinesas com abundantes recursos de carvão também estão na fronteira do setor de hidrogênio. Para elas, o argumento econômico a favor do material pode superar os custos ambientais, e, como resultado, embora os veículos a hidrogênio criem um caminho para que o sistema de transporte se descarbonize ainda mais no futuro, estão fazendo muito pouco para combater a mudança climática no presente.

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O mesmo problema se aplica aos transportes elétricos na China: Sim, a eletricidade é mais limpa do que a gasolina como combustível para automóveis, porém, a maioria da eletricidade chinesa ainda vem de combustíveis fósseis, portanto, o quanto ela é de fato mais limpa?

Apesar disso, as organizações de veículos a hidrogênio precisam responder a uma pergunta adicional: Se a China já é ótima na fabricação de baterias para modelos elétricos, por que deveria se preocupar em gastar tempo ou recursos em veículos a hidrogênio?

Por enquanto, as empresas chinesas apresentaram uma boa resposta, e não se trata de bicicletas. São os caminhões de grande porte.

“Os veículos de passageiros a hidrogênio são uma espécie de beco sem saída aqui… Acho que, para veículos de frota, caminhões, cargas de longa distância, o hidrogênio é competitivo com modelos elétricos de longo alcance. Talvez seja uma aposta?”, diz David Fishman, gerente sênior do Lantau Group, uma empresa de consultoria em energia.

Se pensarmos bem, os caminhões de carga esbarram em algumas das maiores limitações atuais dos VEs, que precisam percorrer distâncias ultralongas enquanto são reabastecidos rapidamente para economizar tempo. Ao mesmo tempo, as limitações dos modelos a hidrogênio, como a falta de estações de reabastecimento e os custos de produção mais altos, tornam-nos muito mais adequados para frotas comerciais do que para compradores de carros individuais.

Como resultado, as companhias chinesas de caminhões a hidrogênio estão confiantes, diz Fishman. Se o hidrogênio realmente se tornar um combustível convencional de próxima geração, começará provavelmente com os caminhões no país oriental.

Por:Zeyi Yang
Zeyi cobre assuntos ligados à tecnologia na China e Ásia Oriental para a MIT Technology Review.

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