Fui atraída para o mercado de marketing por acreditar ser o caminho mais fácil para começar a Transformação Digital, em comparação com a infraestrutura. Dessa forma, conseguiria ajudar pequenas e médias empresas a se digitalizarem e a aproveitarem esse novo momento. Muitos desses processos em grandes empresas, que inicialmente são percebidos como processos de tecnologia, são, na realidade, sobre pessoas. A maioria dos gestores ainda têm dificuldade de compreender que trabalhar e amadurecer a cultura organizacional pode ser, e provavelmente será, mais difícil do que implementar processos e novas tecnologias.
Enquanto acreditarmos que empresas de tech são apenas as mais conhecidas e de maior impacto, permaneceremos atrasados no processo de transformação digital, e no maior desafio que é introduzir a tecnologia no negócio para liberar o potencial criativo das pessoas.
Esses obstáculos se refletem na comunicação interna e acabam gerando ou aumentando o receio que funcionários, especialmente mais velhos e de funções mais operacionais, têm de ser substituídos pelas máquinas. A verdade é que os robôs foram criados para desempenhar as funções repetitivas e cansativas, para que a força de trabalho tenha mais liberdade de concentrar esforços em qualidades únicas do ser humano como empatia e criatividade.
A real transformação é construída por todos os indivíduos
Para que a Transformação Digital seja eficiente e atinja resultados satisfatórios, é fundamental que vá além dos setores de tecnologia e seja incorporada por toda a organização, desde a base até as camadas tomadoras de decisões. Vale lembrar que a real transformação não é construída ou pela base ou pelo topo, mas por todos os envolvidos. Para isso, é preciso que seja criado um ambiente de segurança, no qual as pessoas tenham liberdade para dizer as coisas que as incomodam, os sistemas que não funcionam, proporcionar soluções alternativas e dar feedbacks reais.
Outra questão importante é que não somos ensinados a dar feedbacks construtivos, em vez disso, aprendemos a transferir responsabilidades e apontar erros. Precisamos exercitar a capacidade de desenvolver soluções conjuntas, através da soma de conhecimentos técnicos, indicações de pessoas, materiais e pesquisas. Por isso, a determinação pura de que os funcionários participem do processo de transformação e ofereçam feedback é contraproducente se não houver um ambiente adequado e uma estrutura propositalmente construída para incentivar essas práticas.
O papel da governança corporativa
Nesse contexto, a governança corporativa é um assunto muito comum para multinacionais e empresas de capital aberto, mas que precisa ser aplicado para pequenas empresas. Governança nada mais é do que uma estruturação e orquestração de decisões e projetos, para que eles tenham sustentabilidade a longo prazo e o negócio seja otimizado. Considerando que a transformação digital é uma realidade e que ela está a nossa frente, a governança é o caminho para a construção de um framework de estratégia com potencial de conduzir uma empresa a avançar e a amadurecer.
Por mais que as pessoas acreditem que governança se resuma à contratação de um conselho consultivo e de administração, é, na realidade, a presença de consultores externos de forma organizada, para ajudar a empresa a fazer as perguntas difíceis e, além disso, fazer as implementações de gestão. Os líderes que fazem parte da operação provavelmente encontrarão dificuldades de realizar esses processos sozinhos, porque, além de estarem comprometidos com o dia a dia da estrutura e os ciclos de resultados, eles são funcionários, o que torna ainda mais improvável que consigam abordar temas complexos e apresentar pontos de conflito a seus empregadores.
A riqueza do ambiente multigeracional
Existe no mundo corporativo uma ideia de que a tecnologia e os millenials são a grande resposta para os dilemas do mercado, da inovação e dos negócios. O maior problema é que ela diminui a percepção de valor sobre as pessoas mais velhas que já percorreram longos caminhos no mercado e têm um grande repertório baseado em experiência. Essa é uma qualidade que nenhum millenial consegue oferecer e nenhum robô é capaz de agregar.
Logo, no momento em que essas pessoas recebem o conhecimento sobre a tecnologia para que possam pensar nesses novos problemas e se desenvolver, nós temos um ambiente multigeracional e criativo que mantém a carga da experiência somada ao frescor da inovação. Um dos maiores erros do mercado de tecnologia é acreditar que tudo foi feito ontem. Enquanto métrica de transformação digital, é fundamental a capacidade de ensinar pessoas que não são nativamente digitais a serem protagonistas neste contexto.
Pontos práticos para a implementação de uma transformação digital duradoura
Dessa forma, em resumo, temos os seguintes itens para construir processos duradouros de transformação digital:
- Construir uma estrutura de governança, independentemente do tamanho da organização, para conseguir responder a crises de forma mais eficiente;
- Criar de um ambiente propício para a empatia, ao mesmo tempo que ensina e constrói o hábito do compartilhamento de feedbacks construtivos;
- Proporcionar liberdade para testar ideias e projetos que podem resultar em inovação;
- Utilizar o marketing como caminho para tangibilizar o lucro gerado pela transformação e favorecer o nascimento de novos negócios já no meio digital pela velocidade de criação, construção e disponibilização;
- Desenvolver um ambiente multigeracional capaz de somar competências, experiências e conhecimentos únicos de cada geração.
Fazer parte da transformação digital de forma ativa é muito mais difícil do que apenas falar sobre. É preciso modificar seu olhar sobre o mundo, entender as novas gerações e novos formatos de comunicação e trabalho; tudo isso sem abrir mão da experiência e repertório que nos trouxeram até aqui. É importante perceber os processos de inovação como parte do nosso dia a dia, e não apenas grandes invenções disruptivas que transformam vidas.