Times multiculturais se tornam combustível para inovação
Humanos e tecnologia

Times multiculturais se tornam combustível para inovação

A diversidade pode se tornar um ativo para gerar inovação dentro das companhias, o que resulta em vantagens competitivas no mercado.

Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e vencedora do Prêmio Nobel da Paz por sua luta pela contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação, afirma que a diversidade promove a tolerância. Quando você não encontra pessoas diferentes, não percebe a pluralidade e nem o quanto todos têm comum. Por isso, contar com um time que possui múltiplas formas de pensar e enxergar a vida pode ser o maior diferencial para uma empresa.

Essa vantagem competitiva está diretamente ligada à produtividade da equipe e à maneira que esses indivíduos se condicionam. A linha de raciocínio é simples: um grupo de pessoas com características distintas traz consigo a oportunidade de criar novos insights e soluções. Cenário diferente de um time formado por pessoas que vieram do mesmo lugar, viveram a mesma história e possuem as mesmas referências.

A diversidade pode, de fato, abrir um novo caminho para ideias “fora da caixa”, visto que, a inovação requer exatamente isso: pensamentos diversos. Nesse sentido, um estudo sobre o tema, realizado pela consultoria McKinsey em mais de 10 países, revela que as empresas com times de executivos com maior variedade de perfis são mais lucrativas. Mais de mil companhias globais foram analisadas e as que contam com maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de apresentar crescimento acima da média do que as empresas com menores porcentagens. Em relação à pluralidade cultural e étnica, a variedade ganha ainda mais destaque e esse número sobe para 33%.

Ou seja, no cenário atual, é indispensável promover a conexão entre uma equipe de trabalho com o mundo real. Um time deve espelhar a vida cotidiana e um gestor deve buscar incansavelmente por evolução e dinamismo, com o objetivo de unir diferentes culturas e visões de mundo.

De acordo com Albert Camus, escritor, filósofo e jornalista franco-argelino, sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro. Tal colocação aponta que ter um grupo diverso e com liberdade de criar, e claro multicultural, é fundamental para construir um legado para o futuro. Embora de uma forma ainda mais latente no mundo do trabalho, isso ocorre em todos os universos e os ganhos a partir desse intercâmbio de ideias e informações são incontáveis.

Superando barreiras geográficas

Na teoria pode parecer simples buscar talentos com perfis diferentes do padrão, mas a realidade se apresenta com alguns desafios e o principal deles é a barreira geográfica.

Se concentrar em apenas uma região para preencher vagas em aberto pode ser um tiro no pé. É importante abrir o leque e mapear candidatos de todos os lugares. Com a aderência do trabalho remoto tornando possível a contratação de pessoas de qualquer lugar do mundo, essa limitação territorial vai caindo em desuso. Em termos de inovação, nada poderia ser mais agregador do que contar com um colombiano, uma americana e um chinês em um time brasileiro, por exemplo. O choque cultural abre um mar de possibilidades e debates.

Independente de fuso horário ou costumes, uma coisa é certa: a tecnologia aproxima as pessoas e elimina barreiras físicas. Inclusive, a tendência é que, cada vez mais, as pessoas estejam livres para trabalhar em ambientes diferentes, tendo a possibilidade de conhecer outros países ou cidades, desenvolvendo uma bagagem cultural extensa e que, consequentemente, agrega na rotina profissional.

Uma pesquisa desenvolvida pela consultoria de recursos humanos Robert Half mostra que 38% dos trabalhadores buscariam um novo emprego caso o atual não permitisse o trabalho remoto. Além disso, 76% dos entrevistados afirmam que o trabalho remoto não é um benefício, mas sim uma forma de trabalhar.

Por onde começar?

A busca por talentos no mercado de trabalho tem se tornado desafiadora, principalmente quando se trata de tecnologia. Dados da Softex, uma organização social voltada ao fomento da área de TI, apontam que o setor apresentará uma carência de mais de 408 mil postos de trabalho até 2022.

Uma das maneiras de mapear colaboradores qualificados ao redor do mundo é usar e abusar dos meios tecnológicos. As redes sociais, como Linkedin, podem ser uma alternativa eficaz no processo de contratação. Contar com empresas especializadas em recrutamento também pode ser necessário e eficiente.

Se o processo de seleção não for estruturado e digital, durante a seleção, vão ser captadas muitas pessoas para as entrevistas, gerando muito mais trabalho para avaliar e dar retorno para todos, fazendo com que os gestores percam tempo com quem nem ao menos possui o perfil da vaga ou até mesmo em más contratações, que implicam em uma taxa de turnover elevada. Segundo dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a evasão nas empresas gira em torno de 38% ao ano no Brasil.

Outro ponto importante é ser objetivo e transparente com relação às exigências e expectativas da vaga. É fundamental levar em consideração a troca com os possíveis colaboradores, mas mantendo como prioridade as características mais importantes para o preenchimento da posição. Segundo levantamento do IBM Institute for Business Value (IBV), parte do IBM Services, área de negócios da companhia de tecnologia parceira da Oxford Economics, que entrevistou 13,5 mil executivos responsáveis por marcas líderes de 20 mercados diferentes em mais de 90 países, a transparência e a reciprocidade são pontos primordiais para ter a confiança dos clientes e gerar crescimento interno na empresa com os colaboradores.

Mesmo com o procedimento de contratação realizado, a saga não termina nesta etapa. Ou melhor, está só começando. É papel do gestor entender a camada de diferenças entre os membros do time. Cada um tem uma peculiaridade e é essencial que os líderes tenham um olhar atento para identificar esses pontos e os utilizar a favor da companhia. Não basta simplesmente contratar um time diverso e querer colocá-lo em uma mesma caixa. Comunicação, coordenação e materiais podem — e devem — ser adaptados de acordo com cada necessidade.

Gestão em novos tempos

Neste contexto, os líderes têm um papel fundamental. De acordo com o autor britânico-americano e palestrante Simon Sinek, que é autor de cinco livros, incluindo Start With Why e The Infinite Game, a maioria das pessoas acha que a liderança é sobre ser responsável e ter todas as respostas ou ser a pessoa mais inteligente, a pessoa mais qualificada na sala. A ironia é que é o oposto completo. A liderança consiste em capacitar os outros para alcançar coisas que não pensavam ser possível. É sobre apontar a direção, articulando uma visão do mundo que ainda não existe e, em seguida, questionar ou dar suporte para que tal possibilidade se transforme em realidade.

É papel exclusivo do gestor confiar no seu time e garantir que todos estejam alinhados e dando o seu melhor. É importante buscar mecanismos que impulsionam a produtividade da equipe como um todo.

O líder deve ser uma espécie de peça que sincroniza o fluxo do trabalho, um asset cada vez mais necessário para a composição de times plurais, com foco em inovação e que tenham a sonhada alta performance.

O fato é que poucas organizações se veem preparadas para gerenciar a complexidade dessas necessidades. De acordo como uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey, 65% dos executivos seniores pesquisados acreditam estarem pouco ou não completamente confiantes em relação as suas habilidades de estimular a inovação em suas empresas, mesmo que mais de 70% destes mesmos executivos tenham dito que este seria um dos três principais fatores que define o crescimento das empresas nos próximos anos.

Ainda segundo Simon Sinek, se a contratação de pessoas for baseada simplesmente no que elas podem fazer no trabalho, elas irão trabalhar pelo dinheiro. Mas se contratar pessoas que acreditam naquilo em que o gestor da empresa acredita, elas trabalharão em prol de um objetivo comum, pois se sentirão valorizadas e confiantes de que fazem parte.

O IBM Institute for Business Value aponta que a transparência e a reciprocidade são ingredientes primordiais nesta jornada, seja para ganhar a confiança do cliente ou para gerar crescimento interno na empresa. Para esse estudo, vale recordar que foram entrevistados 13,5 mil executivos responsáveis por marcas líderes de 20 diferentes mercados em mais de 90 países. O que comprova o momento de convergência global quando o assunto é ter e desenvolver boas equipes.

Do Brasil para o mundo

Em um momento em que a diversidade cultural tem sido cada vez mais buscada pelas companhias ao redor do mundo, os profissionais brasileiros estão sendo cada vez mais interessantes aos olhos de gestores de outros países, principalmente da Europa e da América do Norte. Entre os motivadores desse tipo de procura, estão ainda as vantagens competitivas para a empresa, a diminuição de custos e a contratação dos melhores profissionais, além de uma série de benefícios aos colaboradores e prestadores de serviços envolvidos.

O que anteriormente era algo inviável e com altos custos, hoje pode ser concretizado graças à tecnologia e à macrogestão. As ofertas de emprego em modelo home office cresceram 309% no ano passado, segundo levantamento realizado pela Vagas.com, empresa de soluções de recrutamento e seleção. De acordo com a companhia, a quantidade de vagas ofertadas aumentou de 594 posições em 2019 para mais de 2.428 no ano passado.

Atualmente, um cidadão brasileiro, por exemplo, tem chances de alcançar oportunidades profissionais fora do país e ganhar muitas contrapartidas com isso. Conhecer pessoas de outras regiões, praticar o inglês e receber um salário em dólar ou euro são alguns dos benefícios que atraem os profissionais e os impulsionam a mirar em vagas internacionais. Além disso, a possibilidade de trabalhar de forma remota e flexibilidade de horário estão entre os principais benefícios não-financeiros mais buscados. quando o se trata de qualidade de vida

Todavia, essa mesma movimentação tende a causar evasão nas vagas daqui, induzindo as empresas brasileiras a buscarem talentos fora do Brasil. Esse looping resulta em diversas culturas em contato constantemente.

O mundo sem fronteiras já é uma realidade e, com certeza, um caminho sem volta. Por isso, é fundamental manter-se atento às necessidades do mercado e adequar-se o mais rápido possível. É preciso canalizar esforços nas atividades certas e assim construir, pouco a pouco, a trilha da inovação dentro das empresas.

Por fim, mas não menos importante, lembre-se: independente dos gestores, aportes captados, expansão a todo vapor e entre outros pontos, o que vai fazer a real diferença em uma companhia são as pessoas.

Afinal, se empresas são desenvolvidas para pessoas, devem ser formadas, também, por pessoas reais, diversas e que contribuam para a criação de novas soluções.


Este artigo foi produzido por Cristiano Soares, Country Manager da Deel no Brasil.

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