Tecnologia CAR-T impõe desafios aos sistemas de saúde
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Tecnologia CAR-T impõe desafios aos sistemas de saúde

Do registro à chegada do tratamento aos pacientes, a atuação de entidades representativas e a atuação técnica são fundamentais para resultados mais efetivos.

Folhas de plantas, cascas de árvores, alcaloides da vinca e antibióticos marcaram a oncologia empírica por volta das décadas de 1960, 1970 e 19801. Hoje, a medicina pesquisa a manipulação do sistema imunológico do paciente para os tratamentos com anticorpos monoclonais, imunoterapia e terapias celulares, como as células CAR-T2. 

A última tecnologia, considerada um dos principais avanços na área, consiste na utilização das próprias células de defesa do paciente no caso, os linfócitos T para combater o câncer. Modificadas geneticamente, essas células são programadas para reconhecer e atacar os tumores, explica Jacques Tabacof, oncologista e líder médico no Grupo Oncoclínicas2. 

Segundo Renato Cunha, hematologista e líder do Programa de Terapias Gênicas do Grupo Oncoclínicas, atualmente o uso de células CAR-T é feito em tratamentos de terceira linha, ou seja, destinados a pacientes com câncer que não tiveram resposta terapêutica aos primeiros procedimentos ou transplantes de medula óssea. “Estudos realizados com pacientes que passaram por diversas linhas de tratamento e tinham expectativa de vida curta mostraram que a resposta da terapia celular é muito boa e duradoura2”, acrescenta. 

Como toda inovação em saúde, a terapia celular tem seus desafios. Um deles é tornar o tratamento mais acessível aos pacientes, principalmente aqueles que não são beneficiários da saúde suplementar, afirma o hematologista. Nesse caso, deve haver um trabalho conjunto entre instituições de saúde, entidades de apoio a pessoas com câncer e o próprio governo. 

Comitê de terapia celular 

O Grupo Oncoclínicas possui um comitê de terapia celular que avalia indicações para tratamentos de linfoma e leucemia vindos de todo o Brasil. De acordo com Tabacof, a equipe avalia o histórico e os aspectos clínicos do paciente e preenche os requisitos exigidos pela Anvisa. “Às vezes, a pessoa precisa de um tratamento intermediário, e a gente já faz a indicação. É uma verdadeira luta contra o tempo porque muitos pacientes têm uma doença agressiva. Já perdemos pessoas antes de conseguirmos o acesso ao tratamento celular”, diz o oncologista.  

Como as células CAR-T levam por volta de três meses para chegar ao paciente devido ao processo de fabricação concentrado no exterior, Cunha reforça a importância de avaliar a condição de saúde do paciente e, principalmente, do investimento em tecnologia nacional. “O acesso a tratamentos de última geração também passa pela transferência de tecnologia para o Brasil. Temos um parque de indústrias farmacêuticas muito grande, precisamos apenas desenvolver tecnologias, mesmo que com parcerias internacionais”, avalia o hematologista. 

A limitação das células CAR-T é outro desafio no enfrentamento do câncer. Estudos científicos realizados até o momento reforçam as vantagens das terapias celulares apenas com tumores líquidos, como leucemias, linfomas e mielomas. Isso ocorre porque o ambiente de tumores sólidos é hostil, diferente de um aglomerado de massa como é o de líquidos3. “É como entrar com uma Ferrari em uma fazenda. A Célula T acaba se tornando disfuncional ou morrendo. Por isso estamos manipulando a célula, para torná-la mais resistente e conseguir destruir o câncer”, explica Cunha. 

Efeitos colaterais 

De acordo com Tabacof, os efeitos colaterais das células CAR-T são conhecidos e tratados com a utilização de imunossupressores disponíveis no mercado farmacêutico: a Síndrome de Liberação de Citocinas, que gera um processo inflamatório por conta da ativação dos linfócitos T, e a Neurotoxicidade (alterações neurológicas)4 

Na avaliação dos especialistas, a imunoterapia, a manipulação de células de defesa e as células CAR-T não são passageiras, elas representam uma virada de chave no tratamento do câncer.  “Estamos entregando uma medicina personalizada. Em breve, vamos parar de fazer quimioterapia e outras estratégias que são mais difíceis para o dia a dia para o paciente. O desafio é que cada câncer é diferente e temos que aprender com cada um deles”, analisa Cunha“O rigor científico é o único caminho para continuar dando os passos que temos dado. A capacidade de inventividade da humanidade não tem limite”, conclui Tabacof. 

PP-UNP-BRA-4273 – Fevereiro/2024 

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