Desde os primórdios da humanidade, a comunicação tem sido uma ferramenta vital para a nossa sobrevivência. De gestos, sons e símbolos rudimentares à escrita, telégrafo e redes sociais, a capacidade de estabelecer, desenvolver e manter relacionamentos é o que nos fez evoluir como espécie.
E hoje a tecnologia tem sido uma poderosa ferramenta de disrupção na forma como nos comunicamos, tornando possível o contato instantâneo em tempo real, independentemente da distância geográfica.
No mercado corporativo, por exemplo, ela tem sido um importante facilitador de contatos em ambientes virtuais, seja para compartilhar informações, colaborar em projetos ou até mesmo ampliar as redes profissionais.
Dados da Organização das Nações Unidas mostram que existem mais de 5,3 bilhões de usuários da internet no mundo — o equivalente a dois terços da população global — o que justifica, ao menos em parte, os motivos desse boom. Afinal, para que um efeito de rede ocorra, uma massa crítica deve ser alcançada, uma vez que o seu valor aumenta a cada novo participante que se junta aos já existentes.
Como diria Bill Gates, “a Internet está se tornando a praça da cidade para a vila global do amanhã”.
No entanto, em uma era de extremidades, a tecnologia também tem seus limites e desafios, e refletir sobre essas questões é essencial para compreender o equilíbrio entre o mundo digital e o contato genuíno que nos torna humanos.
A evolução do networking e como a forma de se relacionar está mudando
Eventos presenciais, conferências, feiras de negócios, há poucos anos esses encontros eram a algumas das únicas alternativas para quem precisava estabelecer novas conexões profissionais. Além de altamente restritos por uma série de barreiras naturais (geográfica, temporal e financeira), eles também exigiam grandes investimentos para acontecer.
Com o surgimento da internet, em 1969, e a sua popularização na década de 90, tudo mudou. As primeiras redes sociais, como o Six Degrees e o Friendster, e os serviços de bate-papo, como o ICQ, embora limitados em termos de funcionalidade e alcance, passaram a indicar um novo caminho: criação de perfis, envio de convites para amigos, organização de grupos etc.
Em 2003, o lançamento do LinkedIn deu início a uma onda avassaladora. Rapidamente, a plataforma se tornou o principal canal para encontrar e nutrir relações profissionais.
Os números apresentados no balanço do segundo trimestre fiscal de 2023 da Microsoft mostram que a maior rede social de negócios do mundo está prestes a alcançar a marca de 1 bilhão de membros, crescendo a um ritmo de impressionantes três cadastros por segundo.
Outras plataformas, como o Facebook e o Twitter, apesar de não serem originalmente projetadas para networking profissional, aos poucos também se tornaram valiosas aliadas nesse processo.
De fato, todo acordo começa com um relacionamento. Seja você um consumidor, uma marca, uma empresa SaaS (Software as a Service) ou de qualquer outro segmento, as pessoas com quem você se conecta são aquelas com as quais você realiza negócios.
Foi-se o tempo em que as habilidades técnicas eram suficientes para garantir que alguém avançasse na carreira escolhida. Hoje, é fundamental trazer novas soft skills para a mesa.
E o que dizer da Inteligência Artificial nesse contexto? Hoje, não só é possível acessar grandes especialistas a um clique de distância, como também ter, de forma automatizada, a análise de perfis para entender a personalidade e o estilo de comunicação de cada contato, personalizando a abordagem a ser utilizada em cada caso.
Se, por um lado, o livre acesso a pessoas e oportunidades em diferentes lugares, setores e níveis hierárquicos facilitou a comunicação e trouxe benefícios como economia de tempo, dinheiro e recursos, maior alcance e visibilidade, maior diversidade e inclusão, por outro, também criou novas barreiras e obstáculos para assegurar a confiança dessas conexões com os riscos inerentes do setor (ruídos, falhas, invasões, fraudes, spam) – sem contar as limitações próprias da perda de contato pessoal.
No fim, à medida que novas tecnologias continuam a surgir e a Web 3.0 ganha força, a expectativa é que esse ecossistema ganhe novos e imprevisíveis traços.
Tecnologia e comunicação: dois lados da mesma moeda
Se é difícil imaginar a vida moderna sem a tecnologia, também é quase inconcebível imaginar a tecnologia sem a comunicação. Trata-se de distintas faces da mesma moeda que caminham juntas e se complementam.
Para empresas, especificamente, a junção de ambas redefiniu completamente os processos operacionais, bem como os comportamentos e expectativas do consumidor. Quem não aproveita esses recursos, definitivamente já ficou para trás quando comparado à sua concorrência.
De igual modo, a adoção do trabalho remoto, total ou parcialmente, após a pandemia de Covid-19, maximizou essa necessidade de se estabelecer um networking cada vez mais hiperconectado.
De fato, um levantamento realizado pela CNBC mostra que, no ambiente de trabalho, 80% das vagas são preenchidas por meio de contatos e, por isso, 70% dos empregos não chegam sequer a serem divulgados publicamente.
Às vezes, não é quem você conhece, mas quem você não conhece que pode ser a diferença entre sucesso e fracasso de um negócio ou de uma carreira. Por isso, construir conexões com as pessoas certas na hora certa pode ser a chave para avançar ao próximo nível.
No entanto, é claro, a tecnologia não é a única forma de comunicação à disposição. A comunicação face to face, uma das mais basilares formas de interação humana, jamais poderá ser substituída por completo.
Temperança é o nome do jogo
Ressalte-se que, por mais que se esteja imerso e envolvido com as novidades e avanços obtidos nessa indústria, existe uma variável humana em qualquer boa equação que não pode jamais ser ignorada: a temperança.
Ao contrário da tese materialista que afirma que a mente humana é apenas um produto do cérebro e, portanto, poderia ser replicada por meio da tecnologia, a complexidade da consciência do homem e as habilidades inerentes a ela – como a tão falada street intelligence – tornam esse mindset extremamente limitado.
É importante que a tecnologia seja vista como uma espécie de hack complementar à interação humana e nunca substituta, especialmente em termos de networking.
As redes sociais e outras plataformas online podem ser usadas para iniciar o contato com indivíduos específicos e manter o relacionamento a longo prazo, mas sem que haja um encontro presencial será improvável fortalecer a conexão e estabelecer uma relação mais próxima de confiança e respeito mútuo.
Não existe bala de prata para aproveitar o melhor dos dois mundos, mas alguns guidelines podem contribuir para potencializar essa estratégia:
- First things first: defina objetivos claros antes de começar qualquer abordagem (online e/ou offline), saiba qual é o seu objetivo e como essa eventual rede de contato pode ajudá-lo nesse processo — isso define o tom das conversas e mantém no seu radar apenas o que realmente faz sentido.
- Defina as ferramentas/canais adequados: cada plataforma tem suas próprias particularidades e públicos e nem todas são pertinentes para todas as situações. Por exemplo, se você é founder de uma startup em early stage e deseja realizar um pitch para um potencial investidor, é melhor usar uma videoconferência do que um aplicativo de mensagens.
- Personalize o diálogo: ninguém tem paciência para recados padronizados e genéricos. Seja interessante ao invés de interesseiro e traga pautas que gerem benefícios mútuos. Rede não é vendas, é marketing – seja genuíno na relação.
- Respeite os limites: valorize a temperança e não invada a privacidade ou a intimidade do outro.
Deepak Chopra – nomeado um dos “100 principais heróis e ícones do século” pela revista Time – acredita que o poder de doação é o que cria conexões verdadeiramente profundas: “Dar conecta duas pessoas, o doador e o receptor, e essa conexão dá origem a um novo senso de pertencimento”
Ainda mais quando falamos de profissionais profissionais triple-A – aqueles fora da curva –, essa proximidade tende a trazer resultados ainda maiores e mais consistentes.
Não é à toa que um dos estudos mais longos do mundo sobre a vida adulta, realizado pela Harvard University, analisando as trajetórias de saúde dos participantes, como seus triunfos e fracassos em carreiras e casamento, validou a tese da poderosa influência que os relacionamentos produzem em nosso bem-estar.
Por consequência, o contrário também é verdadeiro. Uma pesquisa publicada pela Zippia evidenciou que 86% dos funcionários que trabalham em home office em tempo integral experimentam esgotamento ocupacional – sendo a falta de contato humano, sem dúvidas, um dos principais fatores.
Entenda, pode ser letal para o desenvolvimento de uma pessoa ir contra a sua própria natureza.
Na saúde, por exemplo, essa interação também é fundamental para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz. Afinal, embora a Resolução CFM nº 2.314/2022 regulamente a telemedicina, por ser uma opção conveniente para muitos pacientes, ela não substitui completamente a consulta presencial – que continua sendo a única com padrão ouro.
Ou seja, embora a tecnologia possa facilitar o networking em todas as indústrias, ela também pode gerar distanciamento e superficialidade nas relações profissionais. A interação humana, presencial e síncrona, ainda é indispensável e seguirá sendo mesmo com a popularização de hologramas.