Nos últimos meses, com a maioria dos brasileiros vacinados, reduzimos muito o número de contaminados, hospitalizados e mortos pelo coronavírus. Além disso, as pessoas puderam voltar a circular sem restrições e com confiança para gastar. Empresários aceleraram as contratações.
Enquanto isso, a União Europeia vive sua maior onda de contaminação, mas países com mais de 75% de toda a população completamente vacinada têm tido poucas mortes. Em média, estes 14 países tiveram, nas duas últimas semanas, 10 mortes por coronavírus por milhão de habitantes e, no máximo, na Bélgica, 29 mortes por milhão de habitantes. Já os 13 países que vacinaram completamente menos de 75% da população têm tido muitas mortes, em média 130 por milhão de habitantes, 13 vezes mais do que o primeiro grupo. Na Bulgária, onde a vacinação está mais atrasada, houve 325 mortes por milhão de habitantes. Mesmo antes do surgimento da nova variante ômicron, estes países já tinham adotado e ou consideram adotar medidas duras para controlar a pandemia, incluindo restrições à circulação de não vacinados, lockdowns e obrigatoriedade de vacinação.
As ondas de contaminação pelo mundo pareceram seguir uma certa sazonalidade. Se o padrão se repetir, a contaminação poderia crescer, no Brasil, após as festas de final de ano e o Carnaval. Para evitar isso, deveríamos exigir vacinação e testagem de todos estrangeiros que venham ao país e, eventualmente, até proibir a entrada de turistas estrangeiros, como Japão e Israel já fizeram para evitar a disseminação da ômicron. A qualquer sinal de reaceleração da pandemia, festas com grande aglomeração, como Réveillon e Carnaval, deveriam ser canceladas.
O que tem de reacelerar é a vacinação. O Brasil começou o ano vacinando lentamente. Depois, aumentou o ritmo, atingindo, em agosto, 1,5 milhão de doses por dia. Desde então, o ritmo caiu para 1 milhão por dia. 60% dos brasileiros já estão completamente vacinados. 76% já tomaram a 1ª dose. Precisamos garantir logo a 2ª dose a eles.
Por fim, ao contrário das duas primeiras ondas, quando a maioria das pessoas não teve a chance de se vacinar e lockdowns foram adotados, uma eventual 3ª onda só chegaria depois que toda a população adulta — a que corre maiores riscos — já teve a chance de tomar a vacina. A menos que a ômicron se mostre resistente às vacinas, faria sentido limitar restrições de circulação aos adultos não vacinados, que correm mais risco de se contaminar, transmitir a doença e morrer, reduzindo impactos negativos na economia e na vida das pessoas. Quem teve o direito de não se vacinar deveria ter a responsabilidade pelas consequências da decisão. Não seria justo sacrificar todos pela escolha de alguns.
Este artigo foi produzido por Ricardo Amorim, autor do bestseller “ Depois da Tempestade”, apresentador do Manhattan Connection, economista mais influente do Brasil segundo a Forbes, Influenciador nº 1 no LinkedIn e colunista da MIT Technology Review Brasil.