Extrair metano da atmosfera tem o potencial de ajudar a desacelerar o aquecimento global nas próximas décadas, mas os pesquisadores ainda estão tentando descobrir se isso é realmente viável.
O metano é um poderoso gás do efeito estufa, e as atividades humanas, como a extração de gás natural e a agricultura, mais que dobraram sua concentração desde a era pré-industrial. Remover algum metano da atmosfera, ou impedir que ele seja emitido, não vai parar a mudança climática por conta própria, mas a remoção de metano pode desempenhar um papel na prevenção dos piores efeitos do aquecimento neste século.
Reduzir o metano na atmosfera em 40% poderia reduzir o aquecimento em 0,4˚C até 2050, de acordo com um novo artigo. Em setembro, os pesquisadores também publicaram um plano delineando potenciais abordagens e pedindo mais pesquisas sobre a tecnologia de remoção de metano, que até agora tem sido restrita principalmente à laboratórios. “Provavelmente não há nada que possamos fazer que tenha maior efeito na redução das temperaturas máximas nas próximas décadas do que eliminar o metano”, diz Rob Jackson, pesquisador de Stanford e co-autor de ambos os estudos.
O metano é relativamente escasso: o dióxido de carbono está cerca de 200 vezes mais concentrado na atmosfera do que ele, por exemplo. No entanto, contribuiu com cerca de 30% do aquecimento global total até o momento, ou cerca de 0,5˚C, de acordo com um relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. Embora seu tempo de vida na atmosfera seja de apenas cerca de 10 anos, em curtos períodos de tempo, ele é cerca de 86 vezes mais poderoso como um gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono.
“O metano vai desaparecer mas, enquanto estiver por aí, vai causar problemas”, disse Vaishali Naik, uma cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.
Por causa de sua curta vida útil, se as emissões de metano fossem cortadas hoje, os níveis atmosféricos cairiam rapidamente. Em um recente relatório do Programa Ambiental da ONU sobre metano, no qual Naik é coautora, os pesquisadores estimaram que cortar as emissões de metano em 45% hoje poderia reduzir o aquecimento de 0,28˚C em meados do século, mantendo o mundo abaixo da meta de menos de 1,5˚C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais, como definido pelo acordo de Paris.
Cerca de dois terços desses cortes poderiam ser alcançados usando soluções já existentes, diz Naik. Isso inclui tampar poços de gás natural com vazamentos e diminuir a dependência das minas de carvão, que liberam metano armazenado abaixo da superfície da terra, que é produzido quando a matéria vegetal se transforma em carvão. Cortar algumas emissões é provavelmente mais barato e mais fácil do que expandir a tecnologia de remoção, diz ela.
Mas para manter o aquecimento abaixo de 1,5˚C, as emissões de metano de indústrias, como a agricultura, também teriam que ser reduzidas, o que pode ser mais difícil à medida que a população cresce.
A tecnologia de remoção de metano poderia ajudar, se existisse. Grupos de pesquisa estão testando alguns métodos, a maioria envolvendo a movimentação de ar sobre um catalisador para acelerar a decomposição do metano em dióxido de carbono, ou outros gases. O problema reside, principalmente, na escala que seria necessária, uma vez que o sistema teria que processar 0,04% da atmosfera total da Terra para remover um teragrama de metano, e os humanos produzem cerca de 350 teragramas de emissões de metano a cada ano.
Vários empreendimentos comerciais de remoção de metano estão começando a brotar, Jackson diz, incluindo um com o qual ele está envolvido. Mas seu grupo ainda não testou sua tecnologia, e ele acredita que nenhuma outra empresa tenha ido tão longe também. Jackson estima que as plantas piloto teriam que começar a operar na próxima década para reduzir o aquecimento até 2050. Esse é um cronograma apertado para assegurar essa tecnologia.
“Nada sobre a remoção do metano é fácil”, diz Jackson. Mas podem haver lições a se aprender com a captura de CO2: embora essa tecnologia enfrente os mesmos problemas de escala, está desempenhando um papel importante no plano do governo Biden para enfrentar as mudanças climáticas, e está sendo feita comercialmente em vários locais em todo o mundo, com algumas novas fábricas com inauguração prevista para os próximos cinco anos.
Ter como alvo concentrações mais altas de metano, colocando tecnologias de remoção diretamente nas fontes de emissões, pode ser mais fácil do que tentar extrair o gás da atmosfera. E, em geral, interromper as emissões é provavelmente mais fácil do que retirá-las depois.
“Mitigar primeiro, remover depois”, diz Jackson, “Esse é o meu lema”.