No começo do ano, Mark Zuckerberg anunciou que a Meta encerraria a verificação de fatos por terceiros. Foi uma reviravolta chocante, mas não exatamente surpreendente. É apenas o exemplo mais recente de um bilionário mudando de posição de forma abrupta, afetando nossas vidas sociais na internet.
Após 6 de janeiro de 2021, Zuckerberg gabou-se perante o Congresso sobre o “programa de verificação de fatos líder da indústria” do Facebook e baniu Donald Trump da plataforma. Mas, apenas dois anos depois, ele o aceitou de volta. E em 2025, Zuckerberg garantiu em privado ao congressista conservador Jim Jordan que a Meta deixaria de rebaixar conteúdo questionável enquanto estivesse sendo verificado.
Agora, além de encerrar completamente a verificação de fatos, a Meta está relaxando as regras sobre discurso de ódio, permitindo ataques pessoais contra migrantes e pessoas trans em suas plataformas.
E Zuckerberg não é o único CEO de mídia social tomando decisões imprevisíveis: Elon Musk, desde que comprou o Twitter em 2022 e proclamou a liberdade de expressão como “o alicerce de uma democracia funcional”, suspendeu jornalistas, restaurou dezenas de milhares de usuários banidos (incluindo nacionalistas brancos), trouxe de volta a publicidade política e enfraqueceu as políticas de verificação e de combate ao assédio.
Infelizmente, esses bilionários podem fazer o que quiserem devido a um modelo de propriedade que privilegia o controle singular e centralizado em troca de retorno aos acionistas.
Isso criou um ambiente digital instável, onde as pessoas podem perder suas formas de comunicação e meios de subsistência em um instante, sem recurso, à medida que regras opacas mudam.
A internet não precisa ser assim. Felizmente, uma nova abordagem está surgindo na hora certa.
Se você já ouviu falar do Bluesky, provavelmente o conhece como um clone do Twitter onde liberais podem buscar refúgio. Mas, em sua essência, ele é estruturado de forma fundamentalmente diferente — de um jeito que pode apontar para uma internet mais saudável para todos, independentemente de política ou identidade.
Assim como o e-mail, o Bluesky se baseia em um protocolo aberto, neste caso chamado Protocolo AT. Na prática, isso significa que qualquer pessoa pode construir sobre ele. Da mesma forma que você não precisa de permissão para iniciar uma empresa de newsletters baseada em e-mail, as pessoas estão começando a compartilhar versões remixadas de seus feeds de mídia social baseados no Bluesky. Isso pode parecer algo pequeno, mas pense nos danos causados pelos algoritmos das redes sociais na última década: insurreições, radicalização, autoagressão, bullying. O Bluesky permite que os usuários colaborem na verificação e moderação compartilhando listas de bloqueio e rótulos. Deixar as pessoas moldarem sua própria experiência nas redes sociais é algo revolucionário.
E, mais importante, se você decidir que não concorda com as decisões de design e moderação do Bluesky, pode construir algo diferente na mesma infraestrutura e usar isso como alternativa.
Isso é fundamentalmente diferente das mídias sociais centralizadas que dominaram o mercado até agora.
No cerne da filosofia do Bluesky está a ideia de que, em vez de ser centralizada nas mãos de uma pessoa ou instituição, a governança das mídias sociais deve obedecer ao princípio da subsidiariedade. A economista Elinor Ostrom, vencedora do Prêmio Nobel, descobriu, ao estudar soluções locais para problemas ambientais ao redor do mundo, que alguns problemas são melhor resolvidos localmente, enquanto outros exigem uma abordagem em nível mais elevado.
No que diz respeito à moderação de conteúdo, postagens relacionadas a abuso sexual infantil ou ao terrorismo devem ser tratadas por profissionais treinados para proteger milhões ou bilhões de pessoas. No entanto, muitas decisões sobre liberdade de expressão podem ser resolvidas dentro de cada comunidade ou até mesmo por cada usuário, à medida que as pessoas montam suas próprias listas de bloqueio no Bluesky.
Todos os elementos certos estão atualmente presentes no Bluesky para inaugurar essa nova arquitetura para as mídias sociais: propriedade independente, popularidade crescente, um forte contraste com outras plataformas dominantes e uma liderança bem-intencionada. Mas os desafios permanecem, e não podemos contar com o Bluesky para fazer tudo certo sem o apoio necessário.
Críticos apontam que o Bluesky ainda não obteve lucro e atualmente opera com capital de risco, a mesma estrutura corporativa que deu origem ao Facebook, Twitter e outras empresas do setor. Até o momento, não há como sair do Bluesky levando seus dados e sua rede, porque não existem outros servidores que operem com o Protocolo AT. A CEO do Bluesky, Jay Graber, merece crédito por sua liderança até agora e por tentar evitar os perigos dos incentivos publicitários. Mas o processo pelo qual o capitalismo degrada os produtos tecnológicos é tão previsível que Cory Doctorow cunhou um termo agora popular para isso: enshittification.
É por isso que precisamos agir agora para proteger a base desse futuro digital e torná-la à prova de enshittification. Esta semana, tecnólogos proeminentes lançaram um novo projeto, que nós, do New_ Public, estamos apoiando, chamado Free Our Feeds. Ele possui três partes: primeiro, criar uma fundação sem fins lucrativos para governar e proteger o Protocolo AT, fora da empresa Bluesky. Também é preciso construir servidores redundantes, para que todos os usuários possam sair com seus dados ou construir o que quiserem — independentemente das políticas estabelecidas pelo Bluesky. É importante, por fim, impulsionar o desenvolvimento de todo um ecossistema baseado nessa tecnologia, com financiamento inicial e expertise.
Vale ressaltar que isso não é uma tomada hostil: o Bluesky e Graber reconhecem a importância desse esforço e já sinalizaram sua aprovação. Mas o ponto é que isso não pode depender deles. Para nos libertarmos de bilionários volúveis, parte do poder precisa estar fora da Bluesky, Inc.
Se fizermos isso certo, o potencial é enorme. Não faz muito tempo, a Internet era cheia de construtores e pessoas colaborando: a web aberta. E-mail. Podcasts. Nesse contexto, a Wikipédia é um dos melhores exemplos — um projeto colaborativo para criar um dos melhores recursos públicos gratuitos da web. E a razão pela qual ainda a temos hoje é a infraestrutura construída ao seu redor, materializada na Fundação Wikimedia, uma organização sem fins lucrativos, que protege o projeto e o isola das pressões do capitalismo. Quando foi a última vez que construímos coletivamente algo tão bom?
Podemos mudar o equilíbrio de poder e recuperar nossas vidas sociais dessas empresas e de seus bilionários. Esta é uma oportunidade de trazer muito mais independência, inovação e controle local às nossas conversas online. Com isso, é finalmente possível construir a “Wikipédia das mídias sociais”, ou qualquer outra coisa que desejarmos. Mas precisamos agir, porque o futuro da internet não pode depender de um dos homens mais ricos do mundo acordar de mau humor.
Eli Pariser é autor de The Filter Bubble e co-diretor da New_ Public, um laboratório sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento que trabalha para reimaginar as mídias sociais.
Deepti Doshi é co-diretora da New_ Public e foi diretora na Meta.