Antes de ingressarmos na temática do artigo e falarmos diretamente sobre a aplicação da Inteligência Digital (ID) nos negócios, é importante darmos um passo para trás. Precisamos explicar o significado desse termo, que vem ganhando força nos últimos tempos e que, atualmente, tornou-se determinante para as empresas.
Primeiro, é importante ressaltar que a Inteligência Digital envolve muito mais do que utilizar inovações nos processos internos da companhia. Afinal, ela tem a capacidade de usar diferentes tecnologias de maneiras mais estratégicas e assertivas, a fim de expandir os negócios e torná-los competitivos em seus mercados de atuação.
Esse termo foi criado em 2016, pelo DQ Institute, organização internacional ligada ao Fórum Econômico Mundial, com a seguinte definição: “Inteligência digital é a soma das habilidades técnicas, mentais e sociais que permitem que um indivíduo encare os desafios e se adapte às demandas da vida digital”.
Isso nos traz diversas reflexões e um mar de oportunidades que podemos aproveitar dentro das empresas, mas é preciso uma análise muito minuciosa de como esse conceito será implementado. Mais do que isso, é fundamental criar métodos educativos para todos os colaboradores, pois, agora, eles devem estar inseridos 100% nesse conceito e com entendimento pleno sobre todas as possibilidades que envolvem a ID.
Inicialmente, existem três níveis de Inteligência Digital, segundo o DQ Institute, que ajudam as pessoas a compreender as novas tecnologias e desenvolver oportunidades em seus negócios.
O primeiro nível é a cidadania digital, que está relacionada a entender o uso das ferramentas tecnológicas com responsabilidade, segurança e efetividade. Já o segundo diz respeito à criatividade digital, que condiz com a prática e a habilidade de fazer parte do ecossistema digital.
Dessa maneira, soluções tecnológicas são usadas para desenvolver conteúdo online e tornar simples ideias em realidade. Já a categoria de empreendedorismo digital utiliza tecnologias de ponta e canais digitais para gerar novas oportunidades e solucionar problemas reais.
Para que esses critérios sejam aplicados, é necessário formar crianças e adolescentes aptos para lidar com soluções altamente inovadoras e tudo o que envolve o ecossistema digital, além de capacitar os profissionais já inseridos no ambiente corporativo.
Essa tarefa se torna ainda mais fácil para os nascidos na Geração Z, que possuem uma relação com a tecnologia diferente quando comparada a outras gerações. Eles já se desenvolveram inseridos em um contexto de amplo uso de computadores e celulares. Por terem essa facilidade natural para se adaptar às tecnologias, passam pelo processo de aprendizagem e manuseio delas dentro das companhias de maneira mais tranquila e rápida.
Pensando nisso, o setor educacional deve focar seus esforços em capacitar professores; explicar às crianças todos os riscos das tecnologias, para que entendam a importância do que é feito; delimitar horário para o manuseio da solução; e incluir a Inteligência Digital no dia a dia.
Essa postura certamente proporcionará um cenário muito otimista para o mercado como um todo, pois traz novas possibilidades de crescimento, um ambiente propício para novos aprendizados e testes, além de maior capacidade para antecipar tendências e inovações tecnológicas.
Seguindo esse contexto, é fato que o ambiente corporativo está mudando em ritmo acelerado, por isso, o uso de soluções tecnológicas é fundamental para tornar os processos mais rápidos e ágeis.
De acordo com um estudo da McKinsey & Company, empresa global de consultoria de gestão, a Inteligência Artificial pode aumentar em 30% a produtividade das empresas, mas apenas 14% delas têm sucesso ao aplicar a inovação. Isso acontece principalmente porque algumas companhias não possuem equipes qualificadas e um alinhamento contínuo com toda a equipe. .
Outro relatório foi feito pelo Boston Consulting Group (BCG), consultoria global que faz parceria com líderes empresariais e da sociedade para enfrentar seus desafios mais importantes e capturar suas maiores oportunidades. A análise aponta que 70% das companhias não alcançam seus objetivos em transformação digital por não terem uma estratégia integrada. Dessa forma, é importante implementar a Inteligência Digital em seus negócios para que se desenvolvam de maneira saudável e escalonável.
No fim das contas, a Inteligência Digital aplicada em uma empresa é formada por três dimensões, segundo uma pesquisa realizada pela Massachusetts Institute of Technology (MIT) com 250 companhias.
A primeira é chamada de dimensão estratégica, centrada nas reais necessidades do público-alvo. Ela deve estar alinhada aos objetivos gerais da companhia, tanto os de curto, quanto médio e longo prazo, e à antecipação de disrupções tecnológicas no setor de atuação.
A segunda é a dimensão cultural, caracterizada pela melhoria da capacidade de mudança da empresa. Ela agiliza a tomada de decisão, dá oportunidade a um ambiente de aprendizado, estimula a parceria entre todos da equipe e conta com a ajuda de parceiros externos para elaborar novas soluções.
Já a terceira refere-se à dimensão organizacional, que consiste em ter habilidades e setores destinados ao digital, com líderes digitais, governança e indicadores de performance, além de favorecer os investimentos nessa área.
Nesse contexto, todas as instituições que adotam a Inteligência Digital possuem as seguintes características: uso dos dados para auxiliar na tomada de decisão, criação de conteúdo online, gestão de TI e integração dos canais de atendimento ao cliente.
Dessa maneira, é possível afirmar que a Inteligência Digital está mudando muitos mercados e, consequentemente, transformando processos que, antes, eram usados pelas organizações e, agora, já não fazem mais tanto sentido. Por isso, é inevitável que as companhias, independentemente do porte de atuação e segmento, acompanhem essa evolução, ou ficarão para trás.
Segundo a 27ª edição da Global CEO Survey, 41% dos entrevistados no Brasil e 45% no mundo têm medo de que suas empresas não serão rentáveis por mais de uma década, caso mantenham o rumo nos negócios. A pesquisa foi realizada pela PwC com mais de 4.700 líderes empresariais de mais de 100 países.
Esses números mostram o quanto a tecnologia impacta positivamente os negócios. Por outro lado, revelam que também é preciso muita cautela e atenção na hora de escolher a solução mais adequada para cada finalidade, para não desperdiçar dinheiro e esforços.
Por isso, profissionais que atuam nessa área precisam contar com oito competências básicas, como: identidade digital – desenvolver uma identidade e administrá-la de maneira íntegra no digital; gestão do cyberbullying – identificar ocorrências de intimidação no ambiente online e conseguir reverter a situação da melhor forma; Gestão da privacidade – gerenciar discretamente os dados pessoais disponíveis na internet para defendê-las de ataques; Pegadas ou rastros digitais – entender a origem das pegadas digitais, sua gestão responsável e suas consequências; Gestão do tempo online – ter autocontrole sobre o tempo destinado para as redes sociais e jogos online; Gestão da cibersegurança – gerenciar os ataques cibernéticos e proteger os próprios dados com senhas seguras; Pensamento crítico – saber diferenciar informação verdadeira de falsa, conteúdos saudáveis e prejudiciais e aqueles contatos confiáveis e questionáveis; e Empatia digital – ter solidariedade com as suas próprias necessidades e também com outras pessoas em um ambiente online.
Além dessas habilidades, é importante que as empresas adotem soluções altamente inovadoras e disruptivas. É o caso da Inteligência Artificial (IA) e sua vertente generativa, algo já implementado na maioria das companhias. Uma pesquisa divulgada pela Microsoft e Edelman Comunicação constatou que 74% das micro, pequenas e médias empresas do Brasil utilizam IA, porém, para 20% delas, isso ainda é um desafio.
O estudo indica também que 46% dos entrevistados já investiram em IA em um período anterior e devem continuar neste ano, valor que representa 29% do total dos investimentos dessas empresas no setor de tecnologia. Quando se trata de organizações de médio porte, essa taxa chega a 33%.
O relatório apontou ainda que os investimentos em Inteligência Artificial passaram de 27% para 47%, comparando 2022 com 2023. Desse total, as tecnologias que estão dominando são o armazenamento na nuvem, passando de 45% para 56%, e a própria IA, que ocupou a segunda colocação no ranking.
Quando se trata dos impactos causados por ela, a maioria das empresas ouvidas classificou como positivos (94%). Nessa soma, 91% afirmaram que ela ajuda na qualidade do trabalho, 90% disseram que ela melhora a experiência do cliente, 88% declararam que ela ajuda a motivar e engajar os colaboradores, e, para 48%, a IA aumenta a produtividade.
Tais dados demonstram o quanto a Inteligência Artificial (IA) tem ajudado no crescimento dos negócios e sido fundamental para automatizar e otimizar processos, analisar hábitos de consumo do seu público-alvo e definir novos padrões de comportamento. Desse modo, a IA, aplicada junto à Inteligência Digital, trará inúmeros benefícios para as empresas.
Portanto, é fundamental que as companhias entendam o conceito de Inteligência Digital e como ela pode ser implementada no seu cotidiano. Desse modo, será possível diminuir o churn dos clientes, além de melhorar a experiência e jornada dos clientes e a eficiência operacional.
Por fim, com a integração dos dados e o uso de informações de fontes confiáveis e verificadas, as empresas conseguem ter uma visão ampla de todos os processos internos. Consequentemente, poderão treinar a equipe para que todos aprendam e saibam manusear as novas tecnologias, elevar o nível de maturidade digital, trazer segurança e proteção às informações e se alinhar ao seu mercado de atuação. Logo, você, empreendedor que ainda não olhou para a Inteligência Digital com bons olhos, agora é a hora de mudar.
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*Gustavo Caetano é fundador da Samba