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O setor de energia tem passado por mudanças significativas nos últimos anos, principalmente porque o mundo está sofrendo consequências incalculáveis devido à falta de cuidado das pessoas e empresas com o meio ambiente durante todos esses anos. Como exemplo, reforço o caso das enchentes causadas pelas chuvas torrenciais em muitas cidades brasileiras, mudanças climáticas, destruição da camada de ozônio, extinção de espécies, erosões, destruição de habitats, diminuição dos mananciais e alto nível de poluição.
Por isso, temas como tecnologia verde, sustentabilidade e ESG (Environmental, Social and Governance) vêm ganhando força e têm atraído a atenção da população em geral, principalmente de companhias de médio e grande porte e que atuam em diferentes segmentos, com o objetivo de criar soluções para diminuir o consumo de energia, reduzir a emissão de gases de efeito estufa, minimizar o desperdício e a poluição a fim de preservar os recursos naturais e a biodiversidade.
Segundo dados do relatório ESG Radar 2023, feito pela Infosys, multinacional de tecnologia da informação, os investimentos das empresas em ESG devem alcançar a marca de US$ 53 trilhões até o ano de 2025, ou seja, R$ 273 trilhões. O estudo teve a participação de 2.565 executivos e gerentes de companhias que faturam mais de US$ 500 milhões por ano em países como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Nova Zelândia, Austrália, Índia e China. Para 61% dos entrevistados, investir em ESG garantiu uma melhora moderada nas organizações e 29% do total identificaram resultados positivos. Enquanto isso, 10% não sentiram diferença.
De acordo com a Aliança Global pelo Investimento Sustentável (GSIA), em 2022 o cenário era diferente, pois a soma de investimentos com questões relacionadas a ESG foi de US$ 35 trilhões, ou seja R$ 180 trilhões, o que pode representar um crescimento de 51% em três anos.
Já no âmbito nacional, 67% das companhias brasileiras já adotaram o ESG como pilar estratégico, segundo dados do estudo Tendências de RH 2023, feito pela Korn Ferry. O relatório, que foi elaborado entre junho e julho do ano passado, contou com a participação de 125 empresas da Argentina, 265 do Brasil, 117 participantes do Chile, 78 da Colômbia e 67 companhias do Peru. Com relação às prioridades de cada companhia, podemos destacar redução de emissões, investimentos em projetos filantrópicos, uso de energias renováveis e uso eficiente de recursos.
Outro levantamento feito pelo Information Services Group (ISG), empresa global de pesquisa e consultoria tecnológica, aponta que o Brasil foi o primeiro país a incluir padrões globais enviados pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) em seu quadro regulatório. Isso representa um avanço significativo, pois fez com que aumentasse o número de demandas por soluções sustentáveis.
IA aplicada no gerenciamento de energia inteligente e sustentável
A tecnologia passou a ser fundamental nesse processo, pois ela é capaz de analisar um volume alto de dados, reconhecer padrões, identificar tendências e aplicar práticas sustentáveis. Além disso, a Inteligência Artificial consegue ter uma estimativa sobre as emissões de carbono em diferentes cenários, com o uso de dispositivos conectados.
Outra vantagem é que a IA pode ser aplicada para tornar o gerenciamento de energia inteligente e sustentável. Isso porque ela coleta as informações em tempo real e dependendo do nível ajusta automaticamente o abastecimento de energia, melhorando o uso de fontes renováveis. Essa máxima incentiva cada vez mais a criação de novas empresas e, principalmente, startups utilizando soluções inovadoras e disruptivas.
De acordo com o relatório feito pela Liga Ventures, maior rede de inovação aberta da América Latina que conecta startups e grandes empresas para geração de negócios, com apoio estratégico da PwC Brasil, existem atualmente 241 startups de energia que estão ativas e utilizam diferentes tecnologias para otimizar e potencializar o setor energético.
Elas estão divididas em 11 categorias, como eficiência energética (18,67%); geração compartilhada (18,26%); data analytics (12,03%); gestão de consumo (10,79%); comercialização e financiamento de energia (9,54%); sustentabilidade (8,71%); e-mobilidade (7,88%); gestão de equipes e operações (4,98%); novos equipamentos (4,15%); baterias (2,49%) e inspeção por imagem (2,49%).
O levantamento traz também as tecnologias mais aplicadas e entre elas destacam-se Data Analytics (10%), Mercado Livre de Energia (9%), Big Data (7%), Machine Learning (7%) e Geolocalização (3%). Já referente ao público-alvo, o estudo mostra que 53% das startups têm como foco o mercado B2B.
Nesse cenário, podemos dizer que o setor elétrico está se desenvolvendo e trazendo novas possibilidades para a população em geral, principalmente porque ela tem funções altamente estratégicas para manter o funcionamento das cidades. Segundo um estudo da Clean Energy Latin America (CELA), até 2040 o armazenamento de energia deve aumentar 12,8% por ano no Brasil, com capacidade de 7,2 GW, movimentando cerca de US$ 12,5 bilhões/ano.
Modernização do segmento
Mas nem sempre o fornecimento de energia é feito de maneira justa, e por conta disso que é necessário que haja uma regulamentação eficaz e planejamentos mais assertivos.
Assim, o processo evolutivo do setor traz algumas vantagens, como uma maior transparência nos preços sugeridos; aumento da autonomia e flexibilidade; implemento de novas tecnologias; novas diretrizes regulatórias e normativas; melhora a segurança energética e proporciona liberdade ao consumidor.
Nesse caso, há quatro fatores que devem ser levados em consideração durante a modernização do segmento e que serão tendências para os próximos anos. O primeiro é a diversificação da matriz energética que ajuda a manter o fornecimento de energia, diminui a vulnerabilidade dos eventos climáticos extremos e reduz os gastos para as pessoas.
Conforme aponta o relatório Especial sobre Perspectivas Energéticas Mundiais para a Indústria de Petróleo e Gás, feito para o COP28, a matriz energética deve se tornar renovável até 2026, alcançando a taxa de 95% de fontes de energia renováveis.
Um exemplo disso é a energia solar, que vem ganhando espaço significativo no setor. Isso porque ela é uma das principais fontes de energia limpa, bem como altamente eficiente e econômica. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o mercado espera que haja um aumento de 9,3 GW na capacidade instalada de energia solar neste ano, o que elevaria a potência acumulada para 45,5 GW até dezembro.
Além disso, a previsão é que os investimentos provenientes da indústria fotovoltaica devem alcançar a marca de R$ 38,9 bilhões em 2024, com a possiblidade de abrir mais de 281,6 mil empregos e captar mais de R$ 11,7 bilhões aos cofres públicos extra.
Somente em janeiro deste ano, a energia solar alcançou 38 gigawatts (GW) de potência, representando cerca de 16,8% da matriz elétrica do Brasil. Já com relação à geração distribuída de energia, o valor acumulado chega a 26,3 GW e no segmento de geração centralizada atinge 11,7 GW de potência instalada.
Esses dados comprovam a sua alta capilaridade, a capacidade de crescimento exponencial e o quanto ela pode contribuir para o meio ambiente, tornando-o mais sustentável. Isso se dá ao fato de que a inovação está cada vez mais evidente neste setor.
Com isso, as cinco tendências tecnológicas que podem ser aplicadas são: célula Solar de Perovskita nos painéis solares, que aumenta a eficiência operacional, garante uma conversão energética que varia de 13% a 37% a mais e exige tecnologias menos complexas; os painéis fotovoltaicos orgânicos, que substituem os módulos fotovoltaicos convencionais de silício barateando os projetos, além de serem mais leves, com alta durabilidade, modernos também podem ser recicláveis; o módulo Fotovoltaico Ondulado consegue receber a incidência solar em diferentes ângulos; células de filme fino são maleáveis e com isso eles podem ser colocados locais mais flexíveis, diferentemente dos módulos fotovoltaicos que são pesados; e o armazenamento de energia gerada pelos módulos fotovoltaicos onde são usadas baterias de chumbo ácido.
Diante dessas tendências, podemos afirmar que a energia solar traz vantagens significativas para o setor como um todo, como, por exemplo, proporcionar maior autonomia na geração de energia; descarbonizar e reduzir a emissão de gases; incentivar o desenvolvimento tecnológico e diversificar a matriz elétrica. Por isso, essa tendência deve ficar cada vez mais fortalecida e passará a dominar essa área, como sendo uma inovação disruptiva e que traz resultados significativos para o segmento.
Outro fator que ajuda na modernização do setor elétrico é o Mercado Livre de Energia, que passou a ser acessível a partir de janeiro de 2024, para aproximadamente 100 mil pequenas e médias empresas que estão interligados à rede de média e alta tensão. De acordo com dados da Associação Brasileira de Comercializadoras de Energia, ele conseguiu economizar R$ 41 bilhões nos gastos com energia elétrica em 2022.
Isso acontece porque, com esse novo momento, as pessoas têm o poder de escolher os fornecedores de energia elétrica que mais lhe agradam e que atendem às suas reais necessidades, diferentemente do que acontece nos dias de hoje onde os clientes são obrigados a usar apenas uma companhia regulamentada, tornando essa prática um monopólio.
Essa atividade traz novas possiblidades, já que os contratos podem ser redigidos nos termos que levam benefícios para ambos os lados e permitem mais flexibilidade nesses casos e preços mais competitivos, além de estimular ainda mais a inovação e o surgimento de novas startups.
O setor de energia está em constante evolução e com inúmeras possibilidades para trazer mais eficiência operacional, ganhos financeiros, aumento da capacidade aplicada e principalmente garantir que as práticas sustentáveis sejam adotadas no segmento e investindo em fonte de energia limpa e renovável, e por isso que a tecnologia tem um papel fundamental nisso e o segmento deve crescer de forma exponencial nos próximos anos. Mas, para isso, as empresas devem ficar atentas as novidades que vão surgir.
*Gustavo Caetano é fundador da SambaTech