Em uma conferência dedicada à tecnologia energética que participei em meados de março, percebi uma atitude externa de otimismo e empolgação. Mas é difícil ignorar a corrente de incerteza que corre logo abaixo da superfície.
O Energy Innovation Summit da ARPA-E, realizado este ano nos arredores de Washington, DC, reuniu alguns dos inovadores de ponta que abrangem desde baterias de próxima geração até plantas que extraem metais do solo. Pesquisadores cujos projetos receberam financiamento da ARPA-E — parte do Departamento de Energia dos EUA que apoia pesquisas de alto risco na área de energia — se reúnem para apresentar seus resultados e interagir entre si, com investidores e jornalistas curiosos como esta que vos escreve. (Para saber mais sobre algumas das coisas mais interessantes que vi, confira esta matéria.)
Este ano, no entanto, havia um elefante na sala: o atual estado do governo federal dos EUA. Ou talvez seja a mudança climática? De qualquer forma, o clima estava estranho.
Na última vez em que estive nessa conferência, há dois anos, a mudança climática era um tema constante no palco e nas conversas. A pergunta central era, sem dúvida: como descarbonizar, gerar energia e tocar nossas vidas sem depender de combustíveis fósseis poluentes?
Desta vez, não ouvi a expressão “mudança climática” nem uma vez durante a sessão de abertura, que incluiu discursos do secretário de Energia dos EUA, Chris Wright, e do diretor interino da ARPA-E, Daniel Cunningham. O foco estava na dominância energética americana — em como conseguir mais, mais e mais energia para atender à crescente demanda.
Ainda em março, Wright falou em uma conferência de energia em Houston e fez diversos comentários sobre o clima, chamando as mudanças climáticas de um “efeito colateral da construção do mundo moderno” e classificando as políticas climáticas como irracionais e quase religiosas. Segundo ele, no que diz respeito à ação climática, o remédio havia se tornado pior que a doença.
Eu esperava ouvir argumentos semelhantes na cúpula, mas as mudanças climáticas mal foram mencionadas.
O que percebi no discurso de Wright e na escolha da programação ao longo da conferência foi que algumas tecnologias parecem estar entre as preferidas — e outras, claramente menos em evidência. A energia nuclear e a de fusão estavam definitivamente na lista das “queridinhas”. Houve um painel sobre energia nuclear na sessão de abertura, e em suas declarações, Wright destacou empresas como a Commonwealth Fusion Systems e a Zap Energy. Ele também elogiou os pequenos reatores modulares.
As renováveis, incluindo eólica e solar, foram mencionadas apenas no contexto de sua intermitência — Wright se deteve nisso, em vez de destacar outros fatos que, eu diria, são igualmente importantes, como o fato de serem hoje algumas das formas mais baratas de gerar eletricidade.
De toda forma, Wright parecia adequadamente entusiasmado com a energia, considerando seu papel na administração. “Pode me chamar de tendencioso, mas acho que não existe lugar com mais impacto para se trabalhar do que o setor energético”, disse ele em seus comentários de abertura na manhã do primeiro dia da cúpula. Ele exaltou a inovação energética, chamando-a de uma ferramenta para impulsionar o progresso, e apresentou seu longo histórico de atuação no setor.
Tudo isso acontece após alguns meses caóticos para o governo federal, que estão, sem dúvida, afetando o setor. Demissões em massa atingiram agências federais, incluindo o Departamento de Energia. O presidente Donald Trump tentou rapidamente congelar os gastos da Lei de Redução da Inflação, que inclui créditos fiscais e outros tipos de apoio para veículos elétricos e usinas de energia.
Enquanto circulava pela área de exposições e conversava com especialistas durante o café, ouvi uma variedade de reações à sessão de abertura e percepções sobre o momento atual do setor energético.
Pessoas que atuam em setores que a administração Trump parece favorecer, como a energia nuclear, tendiam a se mostrar mais positivas. Já alguns representantes do meio acadêmico, que dependem de subsídios federais para financiar suas pesquisas, estavam particularmente apreensivos quanto ao que vem pela frente. Um pesquisador recusou-se a falar comigo ao saber que eu era jornalista. Em resposta às minhas perguntas sobre por que não podiam comentar a tecnologia exposta no estande, outro integrante do mesmo projeto limitou-se a dizer que “estamos vivendo tempos malucos”.
Avançar na tecnologia energética não exige que todos concordem exatamente sobre o motivo pelo qual estamos fazendo isso. Mas, num momento em que precisamos de todas as tecnologias de baixo carbono possíveis para enfrentar a mudança climática — um problema que a comunidade científica, de forma esmagadora, concorda ser uma ameaça ao planeta —, considero frustrante que a política crie um efeito paralisante em alguns setores.
Na conferência, ouvi pesquisadores brilhantes falarem sobre seus trabalhos. Vi produtos e demonstrações fascinantes, e eu continuo otimista quanto ao potencial da energia. Mas também me preocupo com o fato de que a incerteza sobre o futuro da pesquisa e o apoio governamental às tecnologias emergentes possa deixar algumas inovações valiosas pelo caminho.