O quanto devemos nos preocupar com os efeitos da IA na rede elétrica?
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O quanto devemos nos preocupar com os efeitos da IA na rede elétrica?

A IA consome muita energia. Isso é o que significa para a mudança climática

O que você encontrará neste artigo:

Demanda de Energia da IA
Impacto no Clima
Previsões Futuras

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As empresas de tecnologia continuam encontrando novas maneiras de trazer a IA para todos os âmbitos de nossas vidas. A IA assumiu o controle dos resultados dos mecanismos de busca, e os novos assistentes virtuais do Google e da OpenAI, estão se aproximando cada vez mais do filme Her, de 2013 (em mais de um sentido).

À medida que a IA se tornou mais integrada em nosso mundo, surgem muitas perguntas sobre a crescente demanda de eletricidade da tecnologia. Você já deve ter visto as manchetes dizendo que a IA usa tanta eletricidade quanto pequenos países, que ela dará início a um ressurgimento dos combustíveis fósseis e que já está desafiando a rede elétrica.

Então, até que ponto devemos nos preocupar com as demandas de eletricidade da IA? Bem, é complicado.

O uso da IA para determinadas tarefas pode ter um preço significativo de energia. Com alguns modelos poderosos de IA, gerar uma imagem pode exigir tanta energia quanto carregar seu telefone, como explicou Melissa Heikkilä em um artigo de dezembro. Crie 1.000 imagens com um modelo como o Stable Diffusion XL e você terá produzido tanto dióxido de carbono quanto dirigir pouco mais de seis quilômetros em um carro movido a gasolina, de acordo com os pesquisadores com quem Melissa conversou.

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No entanto, embora as imagens geradas sejam impactantes, há muitas outras tarefas de IA que não consomem tanta energia. Por exemplo, a criação de imagens consome milhares de vezes mais energia do que a geração de texto. E o uso de um modelo menor, adaptado a uma tarefa específica, em vez de um modelo generativo maciço e multifuncional, pode ser dezenas de vezes mais eficiente. De qualquer forma, os modelos generativos de IA requerem energia, e nós estamos usando muito eles.

O consumo de eletricidade dos data centers, da IA e das criptomoedas poderá atingir o dobro dos níveis de 2022 até 2026, de acordo com as projeções da Agência Internacional de Energia. Essas tecnologias, juntas, representaram cerca de 2% da demanda global de eletricidade em 2022. Observe que esses números não se referem apenas à IA – é difícil determinar a contribuição específica da IA, portanto, tenha isso em mente quando se deparar com previsões sobre a demanda de eletricidade dos data centers.

Há grandes incertezas nas projeções da IEA, dependendo de fatores como a rapidez com que a implantação aumenta e a eficiência dos processos de computação. No limite inferior, o setor poderia exigir cerca de 160 terawatts-hora de eletricidade adicional até 2026. No limite superior, esse número pode ser de 590 TWh. De acordo com o relatório, a IA, os data centers e as criptomoedas juntos, provavelmente irão acrescentar “pelo menos uma Suécia ou, no máximo, uma Alemanha” à demanda global de eletricidade.

No total, segundo os projetos da AIE, o mundo adicionará cerca de 3.500 TWh de demanda de eletricidade nesse mesmo período – portanto, embora a computação seja certamente parte da crise de demanda, ela está longe de ser a história completa. Os veículos elétricos e o setor industrial serão fontes maiores de crescimento da demanda de eletricidade do que os data centers na União Europeia, por exemplo.

Ainda assim, algumas Big Techs estão sugerindo que a IA poderia atrapalhar suas metas climáticas. A Microsoft se comprometeu, há quatro anos, a zerar suas emissões de gases de efeito estufa (ou reduzi-las ainda mais) até o final da década. Mas o recente relatório de sustentabilidade da empresa mostra que, em vez disso, as emissões ainda estão aumentando, e alguns executivos apontam a IA como o motivo. “Em 2020, revelamos o que chamamos de “carbon moonshot”. Isso foi antes da explosão da inteligência artificial”, disse Brad Smith, presidente da Microsoft, à Bloomberg Green.

O que é interessante, no entanto, é que não é a demanda de eletricidade da IA que está contribuindo para o aumento das emissões da Microsoft, pelo menos não no papel. A empresa tem acordos vigentes e compra créditos de energia renovável para que as necessidades de eletricidade de todas as suas funções (incluindo IA), sejam atendidas com energias renováveis. (O quanto esses créditos realmente ajudam é questionável, mas essa é uma história para outro dia).

Por outro lado, o crescimento da infraestrutura pode estar contribuindo para o aumento das emissões. A Microsoft planeja gastar US$ 50 bilhões, entre julho de 2023 e junho de 2024, na expansão de data centers para atender à demanda por produtos de IA, de acordo com a matéria da Bloomberg. A construção desses data centers requer materiais que podem ser intensivos em carbono, como aço, cimento e, é claro, chips.

Um contexto importante a ser considerado no pânico sobre a demanda de energia da IA é que, embora a tecnologia seja nova, esse tipo de preocupação não é, como Robinson Meyer expôs em uma matéria de abril no Heatmap.

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Meyer aponta para estimativas de 1999 de que as tecnologias da informação já estavam representando até 13% da demanda de energia dos EUA e que os computadores pessoais e a Internet poderiam consumir metade da capacidade da rede, na década seguinte. Isso acabou não acontecendo e, mesmo naquela época, a computação era responsável por algo em torno de 3% da demanda de eletricidade.

Teremos que esperar para ver se as previsões apocalípticas sobre a demanda de energia da IA irão se concretizar. No entanto, do meu ponto de vista, a IA provavelmente será uma pequena parte de uma história muito maior. Por fim, o aumento da demanda de eletricidade da IA não é, de certa forma, diferente do aumento da demanda de veículos elétricos, bombas de calor ou crescimento de fábricas. O que realmente importa é como atenderemos a essa demanda.

Se construirmos mais usinas de combustíveis fósseis para atender à nossa crescente demanda de eletricidade, teremos consequências negativas para o clima. Mas se usarmos o aumento da demanda de eletricidade como um catalisador para nos aproximarmos mais da energia renovável e outras fontes de energia de baixo carbono, e pressionarmos a IA para se tornar mais eficiente, fazendo mais com menos energia, poderemos continuar a limpar lentamente a rede, mesmo que a IA continue a expandir seu alcance em nossas vidas.


Sobre o autor

Por , repórter de clima na MIT Techonology Review, especializada em assuntos ligados a energia renovável, transporte e como a tecnologia pode combater as mudanças climáticas.

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