Oferecido por
Em fevereiro de 2024, um poste de energia quebrado derrubou linhas de alta tensão perto da pequena cidade de Stinnett, no Texas. Ao longo das semanas seguintes, o incêndio, supostamente causado por esse equipamento elétrico, cresceu e queimou mais de 1 milhão de acres, tornando-se o maior incêndio florestal da história do estado.
Desde fogos de artifício a raios, muitos fatores podem iniciar um incêndio florestal. Embora seja natural que muitos ecossistemas passem por algum nível de atividade de fogo, as condições mais quentes e secas provocadas pelas mudanças climáticas estão alimentando temporadas de incêndios mais longas e com chamas que queimam mais território.
Isso torna a detecção precoce de incêndios cada vez mais crucial, e alguns grupos estão recorrendo à tecnologia para ajudar. Meu colega James Temple escreveu recentemente sobre um novo projeto do Google para financiar uma rede de satélites equipada com IA para detectar incêndios florestais. Enquanto isso, vamos analisar como este projeto se encaixa no panorama da tecnologia de detecção de incêndios e alguns dos desafios que ainda estão por vir.
Os primeiros momentos da progressão de um incêndio são essenciais. Hoje, muitos incêndios são relatados às autoridades por transeuntes que os avistam e ligam para os serviços de emergência. As tecnologias podem auxiliar as autoridades ao detectarem os incêndios mais cedo, antes de se transformarem em grandes incêndios incontroláveis.
Um desses projetos é chamado FireSat. É uma iniciativa da Earth Fire Alliance, uma colaboração entre os braços de pesquisa e filantropia do Google, o Fundo de Defesa Ambiental, a Muon Space (uma empresa de satélites), entre outros. Esse sistema planejado de 52 satélites deve ser capaz de detectar incêndios de até cinco por cinco metros, com imagens sendo atualizadas a cada 20 minutos.
Esses não seriam os primeiros satélites a ajudar na detecção de incêndios florestais, mas muitos esforços existentes conseguem oferecer imagens de alta resolução ou atualizações frequentes — não ambos, como o novo projeto busca fazer.
Uma startup baseada na Alemanha, chamada OroraTech, também está trabalhando no lançamento de novos satélites especializados na detecção de incêndios florestais. Os pequenos satélites (do tamanho de uma caixa de sapatos) irão orbitar perto da Terra e usar sensores para detectar calor. O objetivo a longo prazo da empresa é lançar 100 desses satélites no espaço e fornecer imagens a cada 30 minutos.
Outras empresas estão se concentrando em soluções terrestres, como o uso de câmeras para ajudar as autoridades a identificar, confirmar e monitorar incêndios. A Pano AI está utilizando estações de câmeras de alta tecnologia para detectar incêndios mais cedo. A empresa monta câmeras em pontos altos, como no topo de montanhas, e as faz girar para obter uma visão de 360 graus da área ao redor. A Pano AI afirma que sua tecnologia pode detectar atividades de incêndio dentro de um raio de 15 milhas. As câmeras trabalham em conjunto com algoritmos que enviam automaticamente alertas a analistas humanos quando um possível incêndio é detectado.
Ter mais ferramentas para ajudar a detectar incêndios florestais é ótimo. Mas, sempre que ouço falar desses esforços, penso em dois grandes desafios para essa área.
Primeiro, qualquer tipo de prevenção muitas vezes é subvalorizada, já que um problema que nunca ocorre parece menos urgente do que um que precisa ser resolvido.
A Pano AI, que já possui algumas estações de câmeras instaladas, aponta exemplos nos quais sua tecnologia detectou incêndios mais cedo do que as denúncias feitas por transeuntes. Em um caso no Oregon, o sistema da empresa emitiu um alerta 14 minutos antes de a primeira chamada de emergência ser feita, de acordo com um relatório fornecido ao TechCrunch.
Faz sentido pensar que detectar um incêndio cedo é algo positivo. E modelagens podem mostrar o que poderia ter acontecido se um incêndio não tivesse sido detectado a tempo. No entanto, é realmente difícil determinar o impacto de algo que não aconteceu. Esses sistemas precisarão ser utilizados por um longo período, e pesquisadores terão que realizar estudos em larga escala e de forma sistemática para podermos afirmar com certeza o quão eficazes eles são na prevenção de incêndios destrutivos.
Outro aspecto complicado é o custo. É de interesse público prevenir incêndios florestais, que não só emitem gases de efeito estufa como também colocam vidas humanas em risco. Mas quem vai pagar por isso?
Cada estação da Pano AI custa cerca de US$ 50 mil por ano. Os clientes da empresa incluem empresas de serviços públicos, que têm interesse em garantir que seus equipamentos não iniciem incêndios e em monitorar chamas que possam danificar sua infraestrutura.
A concessionária de energia Xcel, cujo equipamento alegadamente causou o incêndio no Texas no início deste ano, está enfrentando processos judiciais por seu papel. E as concessionárias podem ter grandes custos após incêndios. Os incêndios mortais no Havaí no ano passado causaram bilhões de dólares em danos, e a Hawaiian Electric recentemente concordou em pagar cerca de US$ 2 bilhões por sua participação nesses incêndios.
O sistema de satélites proposto pela Earth Fire Alliance custará mais de US$ 400 milhões no total. O grupo já conseguiu cerca de dois terços do financiamento necessário para a primeira fase do programa, que inclui os quatro primeiros lançamentos, mas ainda precisará levantar muito mais dinheiro para transformar sua constelação de satélites de detecção de incêndios equipada com IA em realidade.
—