Sediamos, em novembro, o EmTech MIT, a principal conferência anual da MIT Technology Review, em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. Ao longo de três dias com sessões no palco principal, aprendi sobre inovações em Inteligência Artificial, biotecnologia e robótica.
Mas, como você pode imaginar, alguns dos momentos favoritos desta repórter de clima aconteceram nas sessões sobre esse tema. Eu estava ouvindo com atenção especial a conversa do meu colega James Temple com Lucia Tian, chefe de tecnologias avançadas de energia do Google.
Eles falaram sobre a crescente demanda de energia da big tech e sobre que tipo de tecnologias a empresa está buscando para ajudar a atendê-la. Vamos nos aprofundar nessa sessão e considerar como a empresa está pensando sobre energia diante da rápida ascensão da IA.
Tenho acompanhado de perto o trabalho do Google em energia neste ano. Como o restante da indústria de tecnologia, a empresa está vendo a demanda de eletricidade em seus data centers disparar. Isso pode atrapalhar uma meta importante sobre a qual a companhia vem falando há anos.
Veja: ainda em 2020, a empresa anunciou um objetivo ambicioso. Até 2030, pretendia operar com energia livre de carbono 24 horas por dia, sete dias por semana. Basicamente, isso significa que o Google compraria energia renovável suficiente nas redes elétricas onde opera para atender a toda a sua demanda de eletricidade. As compras teriam de coincidir, de modo que a eletricidade precisasse ser gerada quando a empresa estivesse, de fato, usando energia.
A meta do Google é ousada e, no palco, Tian disse que a empresa ainda está mirando esse objetivo, mas reconheceu que, com a ascensão da IA, o desafio é grande.
“Sempre foi um projeto ambicioso”, ela disse. “É algo muito, muito difícil de ser alcançado, e fica ainda mais difícil diante desse crescimento. Mas a nossa perspectiva é que, se não nos movermos nessa direção, nunca vamos chegar lá.”
A demanda total de eletricidade do Google mais do que dobrou, de 2020 a 2024, segundo seu relatório ambiental mais recente. E quanto à meta de energia livre de carbono 24 horas por dia, sete dias por semana? A empresa, basicamente, está patinando. Enquanto, em 2020, estava em 67% para seus data centers, no ano passado ficou em 66%.
Não andar para trás é, de certa forma, um feito, dada a rápida alta da demanda por eletricidade. Mas isso ainda deixa a empresa a alguma distância da linha de chegada.
Para fechar essa lacuna, o Google vem assinando o que parecem ser acordos constantes no setor de energia. Dois anúncios recentes sobre os quais Tian falou no palco foram um projeto envolvendo captura e armazenamento de carbono em uma usina a gás natural, em Illinois, e planos para reabrir uma usina nuclear desativada, em Iowa.
Vamos começar pela captura de carbono. O Google assinou um acordo para comprar a maior parte da eletricidade de uma nova usina a gás natural, que vai capturar e armazenar cerca de 90% de suas emissões de dióxido de carbono.
O anúncio foi controverso, com críticos argumentando que a captura de carbono mantém a infraestrutura de combustíveis fósseis em operação por mais tempo e ainda libera gases de efeito estufa e outros poluentes na atmosfera.
Uma pergunta que James levantou no palco: por que construir uma nova usina a gás natural, em vez de adicionar equipamentos a uma instalação já existente? Acrescentar equipamentos a uma usina em operação significaria cortar emissões em relação ao status quo, em vez de adicionar uma infraestrutura totalmente nova de combustíveis fósseis.
A empresa, de fato, considerou muitas usinas existentes, disse Tian. Mas, como ela colocou, “adaptações não vão fazer sentido em todos os lugares”. O espaço pode ser limitado em usinas já existentes, por exemplo, e muitas talvez não tenham a geologia adequada para armazenar dióxido de carbono no subsolo.
“Queríamos começar com um projeto que pudesse comprovar essa tecnologia em escala”, disse Tian. Esse local tem um poço Classe VI em operação, o tipo usado para sequestro permanente, acrescentou ela, e também não exige uma grande expansão de gasodutos.
Tian também comentou o anúncio recente de que a empresa está colaborando com a NextEra Energy para reabrir o Duane Arnold Energy Center, uma usina nuclear em Iowa. A empresa vai comprar eletricidade dessa usina, que está programada para voltar a funcionar em 2029.
Como mostrei em uma reportagem no início deste ano, Duane Arnold era basicamente a opção final nos EUA para empresas que buscavam reabrir usinas nucleares desativadas. “Há apenas alguns anos, ainda estávamos fechando usinas nucleares neste país”, disse Tian no palco.
Embora cada reabertura seja um pouco diferente, Tian destacou os grupos que trabalham para reativar a usina de Palisades, em Michigan, que foi a primeira reabertura a ser anunciada, na primavera passada. “Eles são os verdadeiros heróis da história”, disse ela.
Sempre me interessa dar uma olhada por trás da cortina de como as big techs estão pensando energia. Sou cética, mas certamente interessada em ver como as metas do Google, e as do restante da indústria, vão se configurar nos próximos anos.



