O interesse pela energia nuclear está crescendo. Isso será suficiente para construir novos reatores?
EnergyEnergy Summit

O interesse pela energia nuclear está crescendo. Isso será suficiente para construir novos reatores?

Reabrir antigas usinas nucleares tem suas limitações.

O que você encontrará neste artigo:

O aumento do apoio público e empresarial à energia nuclear
A reabertura e expansão de usinas nucleares
O papel dos pequenos reatores modulares e tecnologias avançadas

Recentemente, o cenário tem sido positivo para a energia nuclear. O apoio público está aumentando, e o financiamento público e privado tornou a tecnologia mais econômica em mercados importantes. Grandes empresas também estão demonstrando interesse em abastecer seus data centers com energia nuclear.

Essas mudanças têm beneficiado as usinas nucleares existentes. Há esforços para aumentar sua capacidade, prolongar a vida útil de reatores antigos e até reabrir instalações fechadas. Isso é uma boa notícia para a ação climática, já que os reatores produzem eletricidade de forma constante com emissões muito baixas de gases do efeito estufa.

Em meu último artigo, explorei essas tendências e o futuro da energia nuclear em 2025 e além. Contudo, uma questão central persistiu em minhas conversas com especialistas: todo esse progresso será suficiente para construir novas estações?

Para entender melhor essas tendências, vamos observar os Estados Unidos, que possuem a maior frota de reatores nucleares do mundo (e a mais antiga, com uma idade média de mais de 42 anos).

Nos últimos anos, o apoio público à energia nuclear nos EUA tem aumentado gradualmente. Hoje, cerca de 56% dos norte-americanos apoiam mais energia nuclear, comparados a 43% em 2020, segundo uma pesquisa do Pew Research Center.

O cenário econômico também se tornou mais favorável à tecnologia. O Inflation Reduction Act de 2022 incluiu créditos fiscais específicos para usinas nucleares em operação, com o objetivo de mantê-las ativas. Usinas qualificadas podem receber até 15 dólares por megawatt-hora, desde que cumpram certos requisitos trabalhistas. (Para contexto, em 2021, seu último ano de operação completa, a usina de Palisades, em Michigan, gerou mais de 7 milhões de megawatts-hora.)

Grandes empresas de tecnologia também têm impulsionado a indústria. Gigantes como Microsoft, Meta, Google e Amazon estão fechando acordos para aproveitar a energia nuclear.

Esses desenvolvimentos tornaram as plantas nucleares existentes (ou recentemente fechadas) um recurso valioso. Instalações que poderiam ter sido desativadas há alguns anos agora estão sendo consideradas para extensão de licença. Usinas já fechadas estão vendo a possibilidade de uma segunda chance.

Também há potencial para aumentar a capacidade das instalações existentes por meio de ajustes chamados uprates, que basicamente permitem a produção de mais energia ao modificar instrumentos e sistemas de geração. A Comissão Reguladora Nuclear dos EUA aprovou um total de seis gigawatts em uprates nas últimas duas décadas. Isso representa uma fração pequena, mas significativa, dos cerca de 97 gigawatts de capacidade nuclear atualmente disponíveis na rede.

Reatores que continuam operando, são reabertos ou aumentam sua capacidade representam boas notícias para as emissões. No entanto, expandir a frota nuclear nos EUA exigirá não apenas maximizar os recursos existentes, mas também construir novas instalações.

Além disso, provavelmente precisaremos de novas usinas apenas para manter a frota atual, já que muitas estão programadas para serem desativadas nas próximas décadas. Será que o entusiasmo por manter antigas estações em funcionamento também se traduzirá na construção de novas?

Em grande parte do mundo (com a China sendo uma notável exceção), construir novas capacidades nucleares tem sido historicamente caro e demorado. Um exemplo claro é a Usina Vogtle nos Estados Unidos: os reatores três e quatro dessa instalação começaram a ser construídos em 2009. Inicialmente, estavam programados para entrar em operação em 2016 e 2017, com um custo estimado em cerca de 14 bilhões de dólares. No entanto, eles foram conectados à rede somente em 2023 e 2024, com o custo total do projeto ultrapassando os 30 bilhões de dólares.

Algumas tecnologias avançadas prometeram solucionar os problemas da energia nuclear. Pequenos reatores modulares poderiam ajudar a reduzir custos e tempos de construção, enquanto reatores de próxima geração prometem melhorias em segurança e eficiência, o que poderia resultar em construções mais baratas e rápidas. Realisticamente, porém, colocar esses projetos pioneiros em prática ainda exigirá muito dinheiro e um compromisso sustentado para que se concretizem. “Os próximos quatro anos serão decisivos para a energia nuclear avançada”, afirma Jessica Lovering, cofundadora do Good Energy Collective, uma organização de pesquisa em políticas públicas que defende o uso da energia nuclear.

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Existem alguns fatores que podem ajudar a estender o progresso recente da energia nuclear para novas construções. Por exemplo, o apoio público do Departamento de Energia dos EUA inclui não apenas créditos fiscais, mas também empréstimos públicos e subsídios para projetos de demonstração, que podem ser etapas cruciais para plantas comerciais que gerem eletricidade para a rede.

Alterações no processo regulatório também poderiam ajudar. O Advance Act, aprovado em 2024, visa modernizar a Comissão Reguladora Nuclear (NRC, na sigla em inglês), na esperança de tornar o processo de aprovação mais eficiente (atualmente, pode levar até cinco anos para ser concluído).

“Se você perceber que a NRC realmente começa a se modernizar para se tornar um órgão regulador mais eficiente, eficaz e previsível, isso ajuda bastante os projetos comerciais, pois a NRC deixará de ser vista como uma barreira à inovação”, afirma Patrick White, diretor de pesquisa da Nuclear Innovation Alliance, um Think Tank sem fins lucrativos. Devemos começar a ver mudanças decorrentes dessa legislação neste ano, embora boa parte delas dependa da administração Trump.

Os próximos anos serão cruciais para a tecnologia nuclear de última geração, e como a indústria se sairá entre agora e o final da década poderá ser um indicativo importante do papel que essa tecnologia desempenhará em nossos esforços de longo prazo para descarbonizar a energia.

Por Casey é repórter de clima na MIT Technology Review,
especializada em assuntos ligados a energia renovável, transporte e como a tecnologia pode combater as mudanças climáticas.

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