No jornalismo, é fácil se deixar levar pelas notícias mais recentes, seja uma nova rodada de investimentos, uma pesquisa publicada ou o fracasso de uma startup. Criar uma lista nos dá a chance de dar um passo atrás e observar o panorama mais amplo. Quais setores estão avançando ou ficando para trás? Quais países ou regiões estão passando por mudanças rápidas? Quem tem mais chances de se destacar?
Este ano, marca um momento especialmente interessante no mundo da tecnologia climática. A seguir estão três percepções principais do momento atual.
1. É difícil exagerar o papel da China na tecnologia de energia neste momento.
Falando de forma direta, o avanço da China em tecnologias limpas é impressionante. O país domina a instalação de energia eólica e solar, a produção de veículos elétricos e também está investindo grandes quantias de recursos públicos em tecnologias emergentes, como a energia de fusão.
A China está em ascensão como uma potência global em energia em dois setores estratégicos: energias renováveis e baterias.
Em 2024, a China respondeu pelos quatro maiores fabricantes de turbinas eólicas do mundo. A Envision ficou em segundo lugar, com 19,3 gigawatts de nova capacidade instalada no último ano. Mas a atuação da empresa vai além da energia eólica: ela está ajudando a abastecer indústrias pesadas, como aço e produtos químicos, com tecnologias como o hidrogênio verde.
O setor de baterias também está em alta no país, e já vemos avanços além das células de íons de lítio, que atualmente dominam os veículos elétricos e o armazenamento de energia nas redes elétricas. Representamos esse setor na lista com a HiNa Battery Technology, uma startup de destaque que desenvolve baterias de íon-sódio, potencialmente mais baratas que as opções atuais. As baterias da empresa já estão sendo usadas em motos elétricas e instalações de rede.
2. A demanda de energia de data centers e da IA está na mente de todos, especialmente nos Estados Unidos.
Outro tema que chamou nossa atenção este ano foi a preocupação crescente com o consumo de energia dos data centers, incluindo enormes instalações planejadas especificamente para alimentar modelos de Inteligência Artificial.
Mesmo quando sua tecnologia não tem relação direta com o tema, muitas empresas estão tentando mostrar como podem agregar valor em uma era de aumento da demanda energética. Algumas estão firmando acordos lucrativos com gigantes da tecnologia, que podem fornecer o capital necessário para levar seus produtos ao mercado.
A Kairos Power é uma dessas empresas de geração de energia, desenvolvendo reatores nucleares de nova geração. No ano passado, a companhia assinou um acordo com o Google, pelo qual a empresa comprará até 500 megawatts de eletricidade dos primeiros reatores da Kairos até 2035.
De forma mais direta, a Redwood Materials está conectando baterias usadas de veículos elétricos para construir microgrids capazes de alimentar, isso mesmo, data centers. A primeira instalação da empresa entrou em operação este ano e, embora ainda seja pequena, é um exemplo interessante de novo uso para uma tecnologia antiga.
3. O setor de materiais continua sendo um campo fértil para a inovação
Bill Gates destaca o papel fundamental da inovação no avanço da tecnologia climática atualmente. Um dado citado por ele me chamou a atenção: 30% das emissões globais de gases de efeito estufa vêm da indústria manufatureira, incluindo a produção de cimento e aço.
Tenho coberto o setor de materiais e indústrias pesadas há anos. Ainda assim, me impressiona o quanto ainda precisamos inovar nos materiais mais importantes que sustentam o nosso mundo.
O cimento é um material responsável por 7% das emissões globais de gases de efeito estufa. A Cemvision está trabalhando no uso de fontes de combustível alternativas e novos materiais de base para tornar essa indústria menos poluente.
Já a Cyclic Materials busca recuperar e reciclar ímãs de terras raras, uma tecnologia essencial que está presente em tudo, de alto-falantes a veículos elétricos e turbinas eólicas. Atualmente, apenas cerca de 0,2% das terras raras provenientes de dispositivos reciclados são reaproveitadas, mas a empresa está construindo várias instalações na América do Norte com o objetivo de mudar esse cenário.