Eleições americanas e blockchain
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Eleições americanas e blockchain

O coronavirus tem impactado a vida de todas as pessoas, a relação entre governos e cidadãos, a economia mundial e, como não poderia deixar de ser, teve grande repercussão na eleição presidencial dos Estados Unidos.

Por conta do isolamento social, grande parte dos eleitores americanos optou pela votação via correio, o que aumentou o tempo de contagem de votos, levou o candidato Donald Trump a judicializar o processo eleitoral com ações em diversos Estados, e desencadeou intensos debates sobre a veracidade e legitimidade do atual sistema eleitoral americano.

Mas não existiria uma maneira de acompanhar a contagem dos votos em tempo real? Ou um modo de conferir maior legitimidade e veracidade ao sistema de votação?

O sistema de votação atual na Era Digital

Atualmente, muitos têm proposto que a votação seja “móvel” uma alternativa mais compatível com os tempos atuais, permitindo que as pessoas votem sem sair de suas casas. Conseguimos fazer compras online, já há profissões que são desempenhadas de maneira 100% remota, o que se intensificou com a atual pandemia, mas ainda a participação eleitoral precisa ser exercida de forma presencial em determinado local.

Ora, isto não vai na contramão da Era Digital onde a informação e a tecnologia servem como facilitadores da comunicação, transferência de dados e transações comerciais? A adição de soluções blockchain ao processo de votação móvel pode conferir confiança ao sistema de votação e trazer tranquilidade ao processo eleitoral.

A combinação de hashing sequencial, criptografia, em uma estrutura distribuída, permite a proteção da identidade dos eleitores, e a verificação de absolutamente todos os votos inseridos na plataforma blockchain, o que pode viabilizar mecanismos de votação seguros e transparentes, com monitoramento eleitoral voto a voto.

Imagine como seria bom verificar se o seu voto foi realmente contabilizado para o candidato escolhido por você, com a garantia absoluta do sigilo do seu voto? Tudo isso é possível com a tecnologia blockchain.

Jurisdições eleitorais americanas e os projetos-piloto baseados em blockchain

As jurisdições eleitorais em vários estados dos EUA testaram a votação em blockchain baseada em aplicativos móveis para eleições estaduais, federais, municipais e municipais – principalmente para viabilizar o voto remoto de militares e civis residentes no exterior via smartphones e tablets, em vez dos tradicionais e-mail, fax, e outros métodos de papel.

West Virginia, por exemplo, possibilitou votação móvel via blockchain para as eleições estaduais e federais em 2018. Os condados de Utah, Denver e Colorado, também testaram projetos piloto para as eleições municipais de 2019. Ao todo, 29 condados em cinco estados testaram o aplicativo de votação móvel da Voatz em eleições oficiais de 2019.

Os condados de Jackson e Umatilla do Oregon, bem como o condado de Utah, ampliaram seus projetos-piloto para incluir eleitores com deficiência nas eleições locais de 2019.

Em todos estes exemplos acima, para surpresa de muitos e de acordo com as autoridades responsáveis pela votação via blockchain, o processo eleitoral se mostrou mais fácil e acessível. Bem por isso, já há defensores do uso dessa tecnologia nas eleições americanas.

O posicionamento de personalidades da política americana sobre a votação móvel

Como resultado do bom desempenho dos pilotos de Blockchain Voting, já há figuras notáveis ​​na política americana levantando a bandeira da votação blockchain móvel.

Como exemplo, pode-se citar Bradley Tusk, empresário americano, filantropo, estrategista político e fundador da Tusk Montgomery Philanthropies; Mike Queen, Vice-Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Virgínia Ocidental; e Jocelyn Bucaro, vice-diretora de eleições em Denver.

Mas como estamos vivendo na era da polarização, também há pessoas de peso contra a votação móvel, incluindo votação via blockchain. Nesse sentido, podemos citar Jeremy Epstein, vice-presidente da Comissão de Política de Tecnologia dos EUA e da Association for Computing Machinery.

Aqui, importante destacar que Epstein foi co-autor do relatório de segurança eleitoral intitulado “Email and Internet Voting: The Overlooked Threat to Election Security,(em tradução livre: “Votação por e-mail e Internet: a ameaça negligenciada à segurança eleitoral”) elaborado em conjunto com the Common Cause, the National Election Defense Council and the R Street Institute.

Neste relatório, Epstein apontou o blockchain e a votação pela internet como um alvo de ataques online pela inteligência estrangeira, e disse que a transmissão de “cédulas de votação” pela internet, incluindo e-mail, fax e sistemas de blockchain, são vulneráveis.

Apesar dos prós e contras, já existem soluções capazes de proteger os cidadãos de fraudes eleitorais? Como a verificação de identidade seria utilizada no processo? Quais projetos e soluções podemos pensar em implementar para verificação de identidade no processo de votação e, como isso funcionaria?

Como uma solução blockchain que pode possibilitar uma eleição virtual nos EUA

O aplicativo Voatz, por exemplo, busca vulnerabilidades e sinais de comprometimento ou vulnerabilidade desde o início. Se o aplicativo descobrir que o smartphone foi comprometido, ele não permite que o usuário vote.

Se o aplicativo passar nos testes de segurança e em ferramentas de terceiros atreladas a ele, o eleitor é autenticado no celular por impressão digital ou reconhecimento facial.

O eleitor, então, efetua sua identificação governamental – geralmente uma carteira de motorista ou passaporte – e tira uma selfie, para autenticação adicional. A seguir, o eleitor toca o leitor de impressão digital do celular para comprovar que o smartphone está realmente nas mãos do eleitor.

Feito isto, o aplicativo Voatz combina a selfie tirada pelo eleitor com a imagem do documento de identidade e, após nova verificação de todas as informações de registro, confirma que o eleitor pode votar.

Ainda, os eleitores podem usar seu próprio fator de autenticação adicional, como Apple Watch, Google Authenticator e Yubikey. E caso desejem, ainda podem inserir o SMS ou e-mail como fator de autenticação adicional.

Segurança cibernética em uma votação via blockchain

Sobre segurança cibernética, como “todo” software tem vulnerabilidades, não pode ser ignorado que ataques do tipo DoS (Denial of Service) e não pode ser ignorado que ataques do tipo DoS (Denial of Service) e DDoS (Distributed Denial of Service) são um risco legítimo numa votação móvel. Por isso, é importante procurar métodos de backup para eventual falha de infraestrutura no caso de um DoS ou DDoS no sistema de votação móvel via blockchain.

A parte do blockchain no processo, contudo, é a menos preocupante em termos de cibersegurança. Isto porque blockchain é apenas um componente do processo de votação, que também inclui as etapas de segurança de identidade, verificação e validação.

O blockchain, no caso do Voatz, opera no aplicativo específico para o qual foi construído, com a função de distribuir registros de votação, tornando mais difícil o ataque remoto durante o processo de votação online. E ainda, possui prova criptográfica da auditoria de cada transação.

Em razão disto, o principal risco de segurança na votação via blockchain está na interface com a jurisdição eleitoral, porque a cédula também é impressa, com um hash ou chave criptografada no topo que, depois de armazenada é, por fim, digitalizada nos sistemas de leitura de cédulas. Note que, nesta etapa, o processo eleitoral “está fora do alcance” do Voatz.

Pois bem, além das questões de segurança, outro ponto em uma votação em blockchain que é comumente questionado é: como o livro de votação seria processado e as cédulas de votação verificadas numa solução blockchain?

A verificação das cédulas de votação, dos registros em um blockchain

Valendo-se novamente do aplicativo Voatz como exemplo, ele usa uma infraestrutura de blockchain de 32 nós em Amazon AWS e Microsoft Azure, cada um hospedando 16 “nodes” nos Estados Unidos. A Cloudflare está entre várias empresas que fornecem serviços de DDoS, e Voatz diz que o sistema emprega criptografia de ponta a ponta e autenticação multifator para os nodes de infraestrutura.

Takeaway

Pelo que vimos até aqui, não é exagero imaginar que num futuro próximo muitos países enxerguem a tecnologia blockchain como método de votação ideal para uma sociedade a cada dia mais digitalizada e veloz.

No entanto, ainda que a maturidade da tecnologia seja alcançada e efetivamente traga maior legitimidade ao processo eleitoral e veracidade ao sistema de votação, seremos capazes de superar as barreiras culturais e o analfabetismo digital ainda existente no mundo atual?


Tatiana Revoredo é Membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. Blockchain Strategist pela Said Business School – University of Oxford, e pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology. Convidado pelo Parlamento Europeu para a Intercontinental Blockchain Conference. Liaison no European Law Observatory on New Technologies. CSO na the Global Strategy.

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