Dados guiam a escolha do plano de saúde ideal  
Biotech and Health

Dados guiam a escolha do plano de saúde ideal  

Um habitante da cidade de São Paulo pode escolher entre mais de 200 opções de planos de saúde, e o maior preço supera em 100 vezes o menor. Entender o que justifica essa diferença é fundamental para uma contratação assertiva.  

Uma moradora da cidade de São Paulo com 30 anos de idade tem 276 opções de planos de saúde para contratar de maneira individual, de acordo com uma consulta feita na base de dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) neste mês. O produto mais barato para essa faixa etária pode custar de R$ 87 a R$ 113; o mais caro, de R$ 9 mil a R$ 12 mil – superando, em 100 vezes, o preço do primeiro.   

Ambos os planos são ofertados por operadoras de pequeno porte, e a diferença observada no valor da mensalidade nos dois extremos é explicada por alguns fatores técnicos. Entendê-los pode aumentar as chances de se fazer uma contratação mais assertiva ou, futuramente, uma troca.   

O plano de saúde individual ou familiar mais barato ofertado na capital paulista engloba apenas cobertura ambulatorial de menor complexidade, incluindo consultas, exames e terapias e exige coparticipação, ou seja, a contratante precisará pagar uma parte do valor total da assistência médica recebida. Nesse caso, o risco da operação é baixo, tornando viável a prática de um preço mais acessível, mas a usuária terá de lidar com limitações preestabelecidas.  

Já o mais caro contempla também o atendimento hospitalar, com obstetrícia, sem que a beneficiária precise contribuir diretamente com os custos em caso de utilização. O formato envolve mais risco, considerando que a cobertura é mais abrangente e permite o acesso aos procedimentos mais complexos, de valores mais elevados.  

A pesquisa que retorna o resultado exposto acima pode ser feita na ferramenta “Guia ANS de Planos de Saúde”, a partir da inclusão de informações pessoais, da seleção da modalidade de contratação individual ou familiar e de todas as possibilidades de cobertura disponíveis. O conteúdo será apresentado em ordem alfabética e, em seguida, basta aplicar um filtro para visualizar a lista por menor ou maior preço.   

Esse é um tipo de checagem familiar para consumidores que prezam pela economia em compras pela internet. Porém, mesmo para produtos e serviços mais simples, nem sempre o preço será determinante para a escolha final. Então, para tornar a busca pelo plano de saúde ideal mais efetiva, é possível filtrar ainda mais as opções e observar parâmetros além da mensalidade – mas que, devido à natureza da saúde suplementar, interferem diretamente nela.   

No Brasil, de acordo com dados disponibilizado no TabNet, existem 14,5 mil planos de saúde de assistência médica ativos e com beneficiários, sendo 3.372 na modalidade individual ou familiar, 7,7 mil na modalidade coletivo empresarial e 3,4 mil na modalidade coletivo por adesão. O número de usuários do sistema suplementar no país se aproxima de 50 milhões, e o comportamento de cada um tem impacto no todo.   

A interface desenvolvida pela ANS permite a seleção de preferências conforme as necessidades de cada beneficiário, grupo ou empresa interessados. As opções são: tipo de contratação; exigência de coparticipação ou franquia; abrangência territorial; tipo de acomodação; e complexidade da cobertura.   

Também é possível fazer uma consulta direta pelo nome da operadora de plano de saúde, a partir da qual a ferramenta retorna todos os planos comercializados pela empresa em análise. Há 696 operadoras de planos de saúde de assistência médica registradas junto à agência em diferentes categorias: 274 são cooperativas médicas; 241 são de medicina de grupo; 142 são de autogestão; 31 são filantrópicas; e oito são seguradoras especializadas em saúde.  

A ferramenta permite a comparação de até três produtos por vez, com resultados que podem ser salvos para uma consulta posterior.  

Beneficiário, paciente e também consumidor  

Em resposta a questionamento feito pela MIT Technology Review Brasil, a ANS orienta que o interessado em se tornar beneficiário seja ativo na busca pelas informações antes de contratar um plano de saúde. “A principal recomendação é que a contratação seja pensada de acordo com as necessidades do consumidor e de seus familiares, e que não seja uma decisão por impulso”.  

Nesse posicionamento, a plataforma “Guia ANS de Planos de Saúde” é descrita como “uma ferramenta de busca que fornece, de forma gratuita e isenta, as informações mais relevantes sobre todos os planos de saúde em comercialização no país, para que o consumidor conheça e compare os planos de saúde disponíveis”.  

De acordo com a agência, a pesquisa prévia deve incluir o valor das mensalidades, a rede conveniada ao plano, o tipo de acomodação (quarto ou enfermaria) e a abrangência do atendimento (local, estadual ou nacional), entre outros aspectos que sejam de interesse. Uma cartilha informativa explica as diferenças entre as opções de maneira didática.  

Mas, embora a reguladora faça referência ao beneficiário como consumidor em seu posicionamento, na avaliação do superintendente-executivo da Associação Brasileira dos Planos de Saúde (Abramge), Marcos Novais, essa visão é compartilhada pela menor parte dos usuários do sistema suplementar.   

“Para comprar passagens aéreas, as pessoas pesquisam em vários sites, em várias companhias, até encontrarem a melhor oferta. No supermercado, a mesma coisa. Quando se fala em plano de saúde, as pessoas pesquisam pouco e existe dificuldade em enxergar que há o consumo de um serviço, que esse serviço garante coberturas e que a depender da dinâmica dessas coberturas o preço vai ser maior ou menor”, avalia.   

Novais entende que, muitas vezes, os interessados desconsideram seus próprios hábitos no momento da contratação, o que pode colocá-los em uma situação de desvantagem que poderia ser evitada. Uma pessoa que não tem o costume de viajar, por exemplo, poderia optar por um plano de saúde com cobertura municipal ou regional.  

“A saúde tem um custo elevado devido a toda a tecnologia envolvida, ao tamanho da expertise necessária. Sabemos disso, mas não adianta só falar que o preço é alto. Vemos algumas pessoas que possuem planos com coberturas nacionais, mas que mal saem da cidade. Por que pagar um plano que custa mais caro?”, exemplifica o executivo.   

Adaptando preferências 

Se a moradora da capital paulista mencionada no início do texto preferir ter acesso a uma cobertura completa, com internação em quarto particular e sem coparticipação ou franquia, suas opções serão reduzidas a 45 planos de saúde, com mensalidades que variam de R$ 186 a R$ 5.300. Ao pesquisar apenas produtos com abrangência municipal, ela encontrará oito planos que atendem a essas mesmas exigências, com preços que vão de R$ 189 a R$ 565.   

Caso a interessada viaje frequentemente e seja uma jovem saudável, com hábitos que promovam seu bem-estar e faça pouco uso do sistema, uma opção é avaliar planos de saúde de referência, com abrangência nacional, mas com coparticipação ou franquia. Dessa forma, serão 23 opções, que podem custar entre R$ 666 e R$ 2.137.   

No entanto, é preciso destacar que há desigualdade na distribuição dos serviços no país. Do total de beneficiários de planos de saúde no Brasil, mais de 60% estão concentrados na Região Sudeste, sendo 13% apenas na cidade de São Paulo. Na Região Norte, por sua vez, a porcentagem é de apenas 3,6%.  

Na mesma faixa etária, uma mulher que mora em Rio Branco, no Acre, terá apenas 23 planos de saúde ofertados para avaliar, com preços que vão de R$ 87 a R$ 1.488, considerando todas as opções de cobertura. No interior, o cenário ficaria ainda mais restritivo. Esse é um dos desafios estruturais do setor.  

Preço versus valor 

Para além das preferências pessoais, outros dados ajudam a entender que o valor de um plano de saúde, na perspectiva do custo-benefício, está também relacionado a aspectos qualitativos. “Não olhe só o preço, olhe o valor. Olhe o preço e o que está sendo entregue dentro daquele preço”, reforça Novais.   

A rede conveniada de hospitais e de outros prestadores, como laboratórios e clínicas, deve ser consultada antes da contratação para que o beneficiário saiba em que locais ele poderá ser atendido. Se um plano de saúde garante o atendimento em hospitais considerados renomados, por exemplo, é possível que ele tenha um preço mais elevado.   

A agência ainda tem avaliações sobre o setor de saúde suplementar que podem ser pesquisadas pelos interessados, como dados do Programa de Qualificação de Operadoras, do Índice de Reclamação das Operadoras, da Acreditação das Operadoras e do Monitoramento da Garantia de Atendimento.  

No próprio guia da ANS, é possível checar tanto a rede de prestadores do plano analisado, ao clicar no link vinculado ao nome do produto, quanto scores de qualidade da operadora, clicando no nome da empresa.   

Portabilidade de carências 

Outra informação de interesse para os beneficiários é que existe a opção de troca de plano de saúde sem prejuízo das carências já cumpridas, desde que o produto seja compatível. As regras para a mudança estão definidas na Resolução Normativa 438/2018 da ANS e a agência também disponibiliza uma cartilha informativa para explicar como funciona o processo.   

Se enquadram nessa possibilidade os beneficiários de planos ativos contratados após 1º de janeiro de 1999 ou que tenham sido adaptados à Lei dos Planos de Saúde (Lei 9656/98), que estejam regulares quanto ao pagamento das mensalidades e que tenham cumprido o prazo mínimo de permanência no plano.   

A primeira portabilidade é permitida após dois anos no plano de origem ou de três anos no plano de origem, se tiver sido cumprida cobertura parcial temporária para alguma doença ou lesão preexistente. A segunda portabilidade pode ser feita após o período de pelo menos um ano ou de dois anos, caso ela tenha sido feita para um plano com coberturas não previstas no anterior.   

Em algumas situações excepcionais, em que o beneficiário precisa mudar de plano por motivos alheios à sua vontade, ele fica dispensado do cumprimento do prazo de permanência e da escolha de um produto com preço compatível. Isso acontece em casos em que há morte do titular ou falência da operadora, por exemplo.   

O Guia ANS também tem uma parte direcionada à portabilidade de carências. A ferramenta permite visualizar quais planos são compatíveis com o plano de origem e gera uma documentação para que o interessado faça o pedido à operadora.  

Na avaliação de Marcos Novais, a portabilidade é um dos caminhos possíveis para o beneficiário quando há insatisfação em relação aos serviços contratados ou até mesmo quanto ao valor da mensalidade do plano de origem, que pode ficar mais caro quando houver reajuste ou recomposição de preço por faixa etária.   

“A mudança de um plano para outro não tem impacto nenhum, do ponto de vista de coberturas. A portabilidade está aí para fazer com que a migração seja suave. Você não precisa cumprir carências, você já entra no novo produto fazendo o uso da nova rede”, finaliza o superintendente da Abramge.  


Este artigo foi produzido por Manoela Albuquerque, Repórter e Editora de Saúde na MIT Technology Review Brasil.

Último vídeo

Nossos tópicos