Estudos indicam que drogas psicodélicas, como psilocibina e MDMA, possuem efeitos antidepressivos rápidos e duradouros. Embora a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) tenha rejeitado, em agosto passado, o primeiro pedido de aprovação de um tratamento médico envolvendo psicodélicos (uma terapia baseada em MDMA), essas substâncias parecem estar a caminho da medicina convencional. A pesquisa sobre psilocibina, liderada pela empresa de biotecnologia Compass Pathways, tem sido retardada em parte pela complexidade dos ensaios clínicos, mas os dados já mostram resultados promissores para o composto psicodélico presente nos chamados cogumelos mágicos. Eventualmente, a FDA decidirá se aprova ou não o uso da psilocibina para tratar a depressão. Se e quando isso acontecer — um passo que abriria um vasto mercado médico legal —, quem cultivará os cogumelos?
Scott Marshall já está fazendo isso. Como chefe de micologia da fabricante de medicamentos Optimi Health, na Colúmbia Britânica, Canadá, ele é um dos poucos cultivadores licenciados de cogumelos de psilocibina na América do Norte. Produtores e fabricantes terão que realizar uma extensa preparação para conseguir produzir psilocibina farmacêutica em escala industrial e aprovada pela FDA. É por isso que a Optimi quer sair na frente.
Uma indústria nascente
Marshall está na vanguarda da emergente indústria dos psicodélicos. A produção de cogumelos de psilocibina não era permitida legalmente no Canadá até 2022, quando o país estabeleceu um programa limitado de acesso compassivo. “Nosso trabalho é pioneiro no cultivo legal em larga escala de cogumelos de psilocibina, garantindo os mais altos padrões de segurança, qualidade e consistência”, afirma.
Com um investimento superior a US$ 22 milhões, a Optimi obteve, em 2024, uma licença de estabelecimento de drogas dos reguladores canadenses para exportar psilocibina de grau farmacêutico para psiquiatras no exterior, nos poucos lugares onde seu uso é permitido legalmente. Oregon legalizou sessões supervisionadas com cogumelos, a Austrália aprovou a terapia com psilocibina para TEPT e depressão, e um número crescente de governos — em nível nacional, estadual e local — está considerando a remoção de barreiras legais para os cogumelos psicodélicos para fins médicos, à medida que as pesquisas apoiando seu uso continuam a crescer. Há também sugestões de que a administração Trump possa estar mais inclinada a apoiar uma reforma federal nos EUA.
No entanto, o mercado legal, seja médico ou não, ainda é minúsculo. Por isso, por enquanto, quase todos os cogumelos de Marshall — ele cultivou mais de 225 kg desde que entrou na Optimi em 2022 — permanecem no cofre da empresa. “Ao estabelecer um padrão de produção e conformidade regulatória”, afirma, “estamos ajudando a expandir o entendimento científico e a acessibilidade dos psicodélicos para uso terapêutico.”
Aprendendo o ofício
Antes de começar a cultivar cogumelos, Marshall, de 40 anos, trabalhava na administração de propriedades. Mas isso mudou em 2014, quando um amigo experiente no cultivo lhe deu um exemplar do livro Mushroom Cultivator: A Practical Guide to Growing Mushrooms at Home (1983). Esse amigo também lhe forneceu uma impressão de esporos — essencialmente as “sementes” de um cogumelo — a partir da qual Marshall cultivou três cogumelos Psilocybin cubensis da variedade golden teacher, sua primeira incursão na área. “Continuei cultivando, cultivando e cultivando — para minha própria saúde e bem-estar — até chegar ao ponto em que queria ajudar outras pessoas”, diz ele.
Em 2018, ele fundou sua própria empresa, Ra Mushrooms, vendendo kits de cultivo para diversas variedades, incluindo a psilocibina ilegal. Ele também passou a publicar regularmente fotos de seus cogumelos no Instagram. Em 2022, foi contratado pela Optimi, marcando sua transição de cultivador clandestino para produtor no mercado legal — “um sonho inacreditável realizado”, afirma.