Cenário de exits é desafiador, mas perspectivas podem ser otimistas
Negócios e economia

Cenário de exits é desafiador, mas perspectivas podem ser otimistas

Perspectiva de queda na taxa de juros americana pode impulsionar retomada dos investimentos e reabertura da janela de desinvestimentos.

O que você encontrará neste artigo:

Fatores macroeconômicos
Opções de exit
Cenário otimista

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Existe um entendimento entre os investidores de startups de que o momento é desafiador para exits. Há motivos de sobra para explicar isso. Ainda assim, para aqueles investidores que anseiam por uma saída lucrativa de seus aportes feitos nos últimos anos, há razões para crer que, mais uma vez, o segmento de tecnologia irá se reinventar e propiciar uma nova janela de oportunidade para o desinvestimento.

Um conhecido ensinamento sobre negócios (e que pode servir para praticamente qualquer situação) diz que a melhor forma de resolver qualquer problema passa primeiro por identificar qual realmente é o problema. Nesse caso, é preciso identificar os sintomas e separar as razões que indicam por que há dificuldade para realizar o desinvestimento com as presentes condições. Tais justificativas mesclam e envolvem desde fatores macroeconômicos até mudanças no comportamento de LPs.

Dados globais compilados pelo PitchBook e da Associação Nacional de Venture Capital dos Estados Unidos apontam que foram destinados cerca de US$ 345,7 bilhões para startups. O número de rodadas realizadas ultrapassou 37,8 mil. Ainda que os números pareçam altos, eles são consideravelmente menores do que os registrados em 2022: US$ 531,4 bilhões em 51,8 mil deals. Outro dado alarmante: os fundos de venture capital receberam apenas US$ 66,9 bilhões de seus limited partners para investirem em startups. Foi o menor valor captado desde 2017.

No contexto macroeconômico, a taxa de juros americana pode ser colocada como a principal vilã dos investidores já posicionados em ativos ilíquidos e operações de renda variável. No fim de julho, o Federal Reserve (Fed) manteve a taxa de juros atual de 5,25% e 5,50% no país. A alíquota ficou congelada nesse intervalo desde o segundo semestre do ano passado. Há influência clara desse posicionamento americano em mercados emergentes.

A decisão do Fed impacta na taxa Selic (atualmente, em 10,50% ao ano) por conta de uma série de variáveis que podem influenciar a alocação de recursos por investidores internacionais na economia brasileira. Os juros elevados no Hemisfério Norte diminuem o apetite dos investidores por mercados emergentes. Ainda que a taxa de juros brasileira seja maior, ela também traz maior risco para os investidores. Outro ponto a ser considerado é como o juro americano influencia na taxa de câmbio (recentemente, cada vez mais alta).

Seja nos Estados Unidos ou no Brasil, a alta da taxa de juros gera o mesmo resultado: pressão na bolsa de valores e uma consequente redução do número de aberturas de capital ou IPOs.​​ O número chegou ao ápice em 2021, com 1.035 pedidos para a venda inicial de ações em bolsa de valores. Na época, a taxa de juros americana estava em patamares próximos de 1%. O aumento da taxa nos anos seguintes culminou na queda. Foram 181 IPOs em 2022 e 154 no ano passado, segundo dados da consultoria Statista. No Brasil, o último IPO foi realizado em setembro de 2021. Ou seja, infelizmente, vamos fazer aniversário de 3 anos por aqui…

As opções de exit

Os números de deals secundários mostram um cenário mais otimista. O valor das transações secundárias atingiu um máximo histórico no primeiro semestre de 2024, com um maior número de investidores buscando esses mercados para obter liquidez. Foram US$ 68 bilhões transacionados no primeiro semestre deste ano, alta de 58% em relação aos primeiros seis meses do ano passado.

É importante pontuar que os fundos secundários ainda têm uma grande quantidade de “dry powder”, ou seja, dinheiro não alocado. Dados do banco de investimento Jefferies apontam que são mais de US$ 135 bilhões ainda disponíveis para serem investidos por esses fundos. Outro dado que merece atenção é que o valor das transações secundárias impulsionadas por limited partners atingiu US$ 40 bilhões no primeiro semestre deste ano. Isso representa um aumento de 60% em relação ao ano anterior. Ainda vale mencionar que 45% dos LPs entraram no mercado secundário como vendedores pela primeira vez.

Por outro lado, os M&As também diminuíram nos últimos anos. Segundo a empresa de dados e análises GlobalData, foram pouco mais de 30,8 mil operações realizadas no mundo inteiro no ano passado, queda de 17% em relação a 2022. O valor dos negócios caiu 12% para US$ 2,2 trilhões. No Brasil, segundo dados da TTR Data reportados pelo jornal Valor Econômico, foram 774 transações no primeiro semestre de 2024, que movimentaram R$ 101,5 bilhões, queda de 26% ante o primeiro semestre de 2023.

Há perspectivas positivas para uma retomada dos M&As nos próximos meses. O PitchBook, por exemplo, reporta que mais de 27 mil empresas (de todos os setores, não apenas tecnologia) estão na carteira de fundos de private equity ao redor do mundo. No final do ano passado, mais da metade dessas empresas completou ao menos quatro anos na carteira desses fundos. Sete meses já se passaram desde então, e a pressão dos limited partners de firmas de private equity para a realização dos lucros aumentou. E deve continuar crescendo – fomentando o mercado de M&A.

Reluzente aos olhos, a aquisição da Pismo pela Visa por US$ 1 bilhão, ocorrida ainda no ano passado, indica uma possível volta dos investidores internacionais ao mercado de M&A brasileiro. Os sinais de 2024 mostram que os maiores M&As foram aqueles que envolveram empresas de um mesmo setor que juntaram forças por estar endividadas ou em um mercado difícil. Vide as transações de Petz e de Cobasi, por exemplo.

O que também atrapalha os M&As são as empresas que podem ter se tornado “grandes demais” para serem negociadas. No mercado brasileiro, por exemplo, o número de “unicórnios” se multiplicou nos últimos anos. Ainda que o crescimento de empresas bilionárias possa ser visto como um bom sinal – principalmente para os empreendedores –, há de se considerar quantas dessas companhias irão conseguir realmente multiplicar seus valuations a partir de um IPO ou de uma operação de M&A vantajosa.

Segundo análises do CB Insights, mais de 1,2 mil startups no mundo já se tornaram “unicórnios”. No Brasil, um levantamento da consultoria e empresa de pesquisas Distrito aponta que existem 24 companhias com valuation acima de US$ 1 bilhão. Os dados, no entanto, não excluem empresas que atualmente parecem bem distantes de conseguir provar que realmente valem esse valor.

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Cenário otimista

Se o Fed ditou o tom da economia americana (e global) nos últimos anos ao elevar sua taxa de juros para patamares históricos, agora a expectativa do mercado é de que o Banco Central americano finalmente faça o recuo da alíquota. Projeções da ferramenta FedWatch, do CME Group, indicam que, em sua próxima reunião, marcada para os dias 19 e 20 de setembro, o Federal Open Market Comitee (FOMC) irá reduzir 0,25 p.p. ou 0,50 p.p. de sua taxa de juros. A queda nos juros deve reacender a chama do mercado privado.

Isso posto, outro reaquecimento que deve ocorrer é o de IPOs nos Estados Unidos. A próxima janela deve contar com a abertura de capital de empresas como Databricks, ServiceTitan e Jeeves. A primeira, por exemplo, atua diretamente com Inteligência Artificial e já foi avaliada de forma privada em mais de US$ 43 bilhões. A lista de postulantes a ingressar em bolsa de valores em 2024 e no ano que vem ainda conta com companhias como Stripe, Shein, Klarna, StubHub, Liquid Death, Panera, Fanatics, entre outras.

O que se espera é um efeito cascata no mercado privado, com as grandes gestoras de venture capital voltando a ter apetite pelas startups – principalmente em rodadas mais avançadas. O Brasil, sempre visto como um mercado barato, poderá se aproveitar dessa retomada de investimentos em venture capital para pavimentar um caminho de retorno de IPOs.

Prevendo ou não essa queda de juros nos Estados Unidos, alguns grandes investidores americanos começaram a olhar para a América Latina com novos olhos. Com mais de três fundos que já levantaram mais de US$ 5,5 bilhões, a Bond, de Mary Meeker, por exemplo, fez seu primeiro aporte em uma empresa brasileira em maio deste ano, quando investiu na operação da CRMBonus. A startup aumentou seu valuation para R$ 2,2 bilhões com a rodada de R$ 400 milhões, que contou também com a Valor Capital. Outro investimento parrudo foi o realizado pela Summit Partners na Celcoin. A startup brasileira recebeu R$ 650 milhões em rodada, que contou também com a participação da Innova Capital. Ou seja, o cenário parece que está voltando a melhorar.

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