A Revolução do Digital Twin
Inovação

A Revolução do Digital Twin

Os gêmeos digitais são os protagonistas da transformação tecnológica em andamento. Vão reprogramar o mundo ao nosso redor, permitindo mais interatividade na relação com pessoas, produtos e empresas.

Nos últimos trinta anos, a internet construiu um novo mundo para todos nós. Abriu as portas daquilo que chamamos de “mundo virtual”. Levamos fragmentos e conexões da nossa realidade para as telas de computadores enormes, que depois viraram celulares. Tornaram-se tão sofisticados com os anos quanto o nosso grau de dependência deles. Mas esse mundo virtual ao qual estamos acostumados é ainda um mundo frio. Há uma divisão, embora cada vez menos clara, entre o “eu” conectado e o “eu” offline. Entre aquilo que fazemos online e o que, prioritariamente, fazemos sem ajuda de tecnologia. A revolução, porém, está nos detalhes – e essa pequena divisão está prestes a se quebrar. É a hora e a vez do Digital Twin.

A prática desse conceito irá mudar não somente nossas interações diárias (da visão que temos das gôndolas do supermercado até a forma como olhamos o céu), como também a produção de grandes turbinas, aviões e edifícios, e a nossa relação de consumo com o mundo. O digital twin é o nome que damos à possibilidade, proporcionada pela confluência de várias tecnologias, de criar uma réplica do mundo real no virtual. Existem várias camadas dessa nova experiência. As mais simples nós já começamos a conhecer há alguns anos quando, por exemplo, fomos às ruas para caçar Pokémon no celular ou, dentro de casa, viajamos com óculos de realidade virtual. CEOs e executivos usaram o Hololens durante a pandemia para visitar, do home office, plantas industriais.

Na indústria, aliás, os gêmeos digitais são considerados os protagonistas das fábricas inteligentes. A Ericsson criou um gêmeo digital, conectado por 5G, em um terminal portuário em Livorno [BB1]. A Microsoft lançou uma plataforma para gerenciar digital twins e já está implementando o sistema para construir edifícios inteligentes com a Johnson Controls [BB2].  A Siemens vende há pelo menos dois anos a tecnologia para replicar, no ambiente digital, máquinas de fábricas, integrando toda a produção [BB3].

O que todos esses exemplos têm em comum é a criação de uma representação “viva e real” no mundo até então “frio” do digital. Os terminais do porto e as máquinas, por exemplo, têm sensores instalados que capturam dados em tempo real e alimentam os sistemas. O fluxo coletado é processado com inteligência artificial e computação em nuvem. Para engenheiros, os gêmeos digitais são muito úteis porque, tendo um histórico detalhado do modelo anterior, eles podem corrigir erros e criar versões digitais novas mais confiáveis. Essas versões irão orientar como o produto será fabricado – sem perder tempo com protótipos físicos, nem interromper processo das fábricas para testes. É a Airbus, por exemplo, usando um gêmeo digital para indicar onde a máquina precisa realizar o furo na fuselagem da aeronave. Em 2018, a consultoria IDC detectou melhorias de 30% nos processos críticos das empresas que investiram em sensores para conectar, prever e antecipar a produção.

No dia a dia dos indivíduos, os gêmeos digitais têm um potencial enorme à medida que a realidade virtual e aumentada vão evoluindo, as redes de 5G vão sendo implementadas e os óculos de VR ganhando novos designs, formatos e funções. Em uma demo recente que participei, fiz uma visita a um supermercado usando um óculos especial. As prateleiras estavam conectadas por sensores que coletam dados em tempo real. A minha visão mostrava não apenas os produtos que poderia colocar no carrinho, mas quais deles estavam vendendo mais e quais gôndolas garantiam, naquele momento, o maior tíquete médio de vendas. Com histórico de dados, será possível mudar produtos de lugar e tornar a experiência mais atrativa para mim – e, por que não, mais lucrativa para o mercado.

Leve essa experiência para outros momentos e nós poderemos olhar para o céu e ver os dados da previsão do tempo, andar de metrô e se deparar com publicidades personalizadas para nós (bem diferentes daquelas que nossa companhia, na mesma hora e lugar está vendo) ou capturar cupons digitais que aparecem no nosso caminho para comprar um pão de queijo na saída da estação. Perceba a diferença de integração que estamos falando. Enquanto tudo que fizemos até agora, em todas as transformações digitais vividas, envolveu levar o mundo real para o virtual, o digital twin traz o virtual para o real.

Não somos capazes de perceber hoje o tamanho dessa mudança porque a evolução das interfaces ainda está ocorrendo. Os óculos de VR são caros, pesados e desconfortáveis. O celular provém ferramentas, mas integra pouco as realidades. O 5G ainda está chegando nos leilões. Mas as empresas estão se mexendo: Apple, Samsung e Sony preparam-se para lançar seus novos óculos, startups investem em lentes de contato capazes de interagir com tecnologia, a computação em nuvem fica mais acessível e o blockchain está evoluindo para chegar mais fácil até todos. Na indústria, o Gartner prevê que até 2021, metade das grandes empresas industriais usará gêmeos digitais, o que se traduzirá em uma melhoria de 10% em sua eficiência.  

Costumo dizer que, para entendermos o futuro, precisamos analisar as novas tecnologias e, mais do que isso, o que elas criam quando combinam. É a partir da confluência delas que veremos os novos mundos, cenários e produtos. O Uber não fez uma revolução em tecnologia. Mas juntou o que tinha disponível e fez sua revolução em design de serviços: redesenhando como os táxis funcionam e como nós interagimos com eles. A mesma lógica vale para o WeWork, que conferiu uma nova forma de existir, frequentar e ver o escritório. O digital twin irá reprogramar tudo que temos ao nosso redor. Permitirá um novo grau de interatividade e feedback da nossa relação com pessoas, produtos e empresas.

Viveremos sob outros sinais e novas linguagens. A partir do momento que tudo isso entrar, como vivermos sem os gêmeos digitais? Será quase como sair hoje sem celular e ficar perdido. Você vai esperar que alguém te diga qual é o caminho?

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