Duas em cada três organizações já precisam redefinir sua estratégia nesta década. Daqui a dez anos, esse cenário atingirá três em cada quatro organizações, afirma Chris Zook, ex-chefe de estratégia global da Bain & Company. Autor do livro “Unstoppable”, Zook é claro: a velocidade das mudanças e as novas tendências limitam mais rápido a fórmula de crescimento e as empresas precisam, cada vez mais, mudar o negócio principal com mais frequência para sobreviverem.
Oportunidade para mudar, no entanto, não falta. Chegamos a uma maturação de certas tecnologias-base nas últimas duas décadas e o que vivenciamos agora é combinação única – e potente – de várias delas. Vivemos uma onda histórica de crescimento.
Considerando o impacto econômico total da convergência de certas tecnologias, o crescimento real do PIB poderia acelerar para 7% ao ano, em média, segundo um relatório deste ano da ARK Investment Management LLA. Esse resultado supera qualquer resultado de inovações desde 1950.
Confluência de tecnologias
A base de tudo começou com a internet, o mobile, a nuvem, o Big Data. A inovação apareceu com o 3D, a energia renovável, o IoT, a nanotecnologia, a robótica, o blockchain. Da combinação de tudo isso, construímos o smart grid, carro conectado, casas e cidades inteligentes, a IA estreita. Abrimos caminho para educação digital chegar e se difundir, para os sistemas de saúde se digitalizarem, para a economia compartilhada ser testada, para a expansão do 5G, dos veículos autônomos e da automação em várias frentes. Camadas e camadas de inovações para termos agora a chance da combinação extrema, da simbiose de tudo isso.
Um exemplo interessante é o que poderemos obter ao convergir os avanços de três áreas específicas: Inteligência Artificial generativa (Gen IA) + computação espacial + blockchain/web 3.0 e redefinir, por completo, nossa interação entre os mundos físico e digital. Um artigo publicado no Fórum Econômico Mundial (WEF) indica que a convergência dessas três tecnologias pode desde aprimorar experiências de varejo até melhorar processos de segurança em aeroportos. No futuro breve, essa convergência vai transformar estruturas sociais profundas: na administração de uma cidade inteligente, por exemplo, o blockchain seria a espinha dorsal para um engajamento cívico, seguro e transparente; a IA generativa otimizaria os serviços com base em dados em tempo real e a computação espacial forneceria as interfaces imersivas e intuitivas para cidadãos interagindo no ambiente urbano.
“Haverá até mesmo um futuro próximo em que nossas interações com a tecnologia não serão limitadas a hardware específico. O futuro é sobre diversidade na interação tecnológica, transitando perfeitamente entre dispositivos e plataformas, permitindo um engajamento mais natural e intuitivo entre nossos mundos físico e digital, e aprimorando nossas capacidades sem estarmos presos a um único tipo de dispositivo”, afirmam os autores do artigo no WEF.
Tecnologias mais maduras amplamente adotadas servem como facilitadoras para o surgimento de outras. Entre as 15 mapeadas recentemente pela McKinsey, as mais adotadas atualmente (em fase de adoção completa, implementação ou piloto) são computação em nuvem/edge; conectividade avançada; IA generativa, IA aplicada e a próxima geração de softwares. Logo depois aparecem cibersegurança, eletrificação e renováveis, machine learning nas indústrias e mobilidade.
A IA redesenha a Internet
Enquanto a convergência acontece em várias áreas, a frente digital mais visível a todos nós (Internet) é redesenhada. Em tempo real. Para todos verem. Se ontem tínhamos a chamada ‘internet de ação’, onde acessávamos o buscador/Google para procurar o que desejávamos, hoje a IA nos apresenta a ‘internet de automação’.
É a Internet possível com a evolução – e confluência – dos grandes modelos de linguagem (LLM), das redes neurais, dos dados sintéticos, dos agentes autônomos. É a Internet que será estruturada e operada pelos ‘agentes da IA’, que buscarão o que preciso, no momento certo, sem precisar de uma ordem ou indicação explícita. Tudo regulado por contratos inteligentes (oi, blockchain) e remunerado via tokenização (oi, dinheiro 2.0). Mais de 50 startups surgiram desde 2022 com foco exclusivo em criar agentes da IA.
Em um texto publicado no dia 23 de setembro, Sam Altman, fundador da OpenAI (dona do ChatGPT), disse que os modelos de IA em breve servirão como assistentes pessoais autônomos que realizarão tarefas específicas em nosso nome, como coordenar cuidados médicos. “Em algum momento mais adiante, os sistemas de IA ficarão tão bons que nos ajudarão a fazer melhores sistemas de próxima geração e a fazer progresso científico em todos os aspectos”, afirmou.
A ansiedade da mudança
Nessa nova Internet e confluência de tecnologias, é difícil saber onde focar. Até porque ainda há limitações expressivas da adoção de muitas dessas combinações pelas empresas, há dilemas éticos, de privacidade, sigilo e transparência. Há também barreiras culturais e sociais.
Mas é preciso ter em mente que há poucos momentos na vida – e na nossa história – com tamanha capacidade de crescimento gigante do que o atual. Se esperarmos a oportunidade se abrir, todo mundo já estará dentro. Steve Jobs disse uma vez que essas ondas de tecnologia são sim visíveis bem antes de acontecerem. “Você só precisa escolher sabiamente quais delas você vai surfar. Se você escolher sem sabedoria, então você pode desperdiçar muita energia”.
O historiador israelense Yuval Harari termina o seu novo livro “Nexus – da Idade da Pedra à IA” afirmando que tudo o que é velho hoje foi novo um dia. “A única constante da história é a mudança”.