A explosão de investimentos na área de saúde
Biotech and Health

A explosão de investimentos na área de saúde

Descentralização dos investimentos, empresas de saúde mais globais, M&A e muito mais. Entenda os motivos para a escalada nos investimentos em healthtechs no mundo.

Talvez esse enredo seja familiar para você, pois, na verdade, já vimos essa história acontecer no passado em diferentes mercados, da área de logística e transporte com o Uber, passando por Fintechs com bancos digitais, como Nubank, Picpay e outros meios de pagamentos. A digitalização desses outros mercados começou inevitavelmente com grandes quantias de investimentos vindos de fundos de Venture Capital.

E ao que tudo indica, a saúde é a bola da vez no cenário de Venture Capital global, onde segundo pesquisa da Startup Health, os investimentos desse ano já superaram e muito o recorde que vimos no setor de healthtechs no ano de 2020, e ao que tudo indica, a tendência é vermos esse valor chegar ao dobro do investido no ano passado, onde os investimentos chegaram próximos de US$ 22 bilhões.

[Foto: Global Health Innovation Funding Year over Year – Startup Health 2021Q3 Report]

Descentralização dos investimentos: o mercado se aquece também fora dos Estados Unidos

Historicamente o mercado norte-americano recebia grande parte da atenção dos investidores em saúde. Por ser um setor muito regulado, em muitos casos é difícil para empresas de tecnologia buscarem uma estratégia global de crescimento, logo muitas optam por atuar nos Estados Unidos, seja pela abundância de investimentos, ou pelos gastos gigantes em saúde do país, que representam mais de 17% do PIB americano, ou cerca de US$ 3,8 trilhões anualmente. Essa combinação tornava os Estados Unidos prioridade para os investimentos em saúde, porém, ainda que os aportes nos EUA sigam fortes, alguns fatores fizeram com que a tese de investimentos passasse a ser mais global.

Elenco abaixo os pontos que, em minha opinião, tornaram os investimentos mais descentralizados:

Covid & Telemedicina:

A pandemia trouxe consigo a necessidade de digitalização do setor, começando por um tópico que era citado há anos, mas que ganhava escala a passos lentos, a telemedicina. Com o setor precisando de uma rápida resposta para atendimentos de menor complexidade, esse formato de consulta caiu como uma luva, e em países onde a regulamentação ainda não era prioridade, passou a ser colocada em pauta rapidamente.

Na Europa e na América Latina, vimos a telemedicina como a porta de entrada para a digitalização do setor, como comentei em um dos meus artigos sobre passado, presente e futuro da saúde digital no Brasil. E da minha experiência pessoal liderando a área de Patient Experience da Doctoralia, pude constatar que foi um processo muito acelerado de digitalização, mas principalmente com muitas similaridades entre Brasil e Europa. No Brasil, por exemplo, foram mais de 10 mil médicos utilizando nosso sistema de telemedicina nos 3 primeiros meses após a aprovação para o uso em caráter emergencial, números similares ao que vimos em outros países europeus nos quais atuamos, como Itália, Espanha e Polônia, se compararmos a proporção de médicos em cada país.

Oceano azul de oportunidades em muitos países:

A competição no mercado americano de saúde já é muito elevada, bem como seu sistema de saúde é muito particular e complexo, o que dificulta que se replique o que dá certo por lá em outros locais, porém abrindo oportunidades para que empreendedores regionais pudessem atacar as dores particulares de cada país. Mesmo que o os gastos em saúde em outros países não cheguem aos números que vemos nos EUA, ainda estamos falando de bilhões de dólares em oportunidades, o que é um prato cheio para empreendedores e investidores.

De soluções para reembolsos médicos, operadoras de saúde digitais e agendamento de consultas e chat online, o mercado vai diversificando suas apostas para difundir o uso de tecnologias no setor.

Bom exemplo de captação de investimento recorde no Brasil foi da Alice, uma operadoras de saúde digital que captou no início de 2021 R$ 180 milhões, números expressivos para uma empresa que estava oficialmente no mercado há apenas 7 meses.

[Foto: Plano de saúde digital Alice]

M&A: investimentos trazem também mais aquisições e fusões no mercado

A medida que os investimentos no setor aumentam, torna-se também natural o surgimento de outras estratégias, como aquisições ou fusões, para que as empresas cresçam mais rapidamente. Um bom exemplo é da Teladoc, que fornece soluções de telemedicina no mundo todo e que nos últimos anos já realizou mais de 12 aquisições e fusões, sendo uma das últimas delas, a da Livongo, na casa dos bilhões de dólares.

Essa estratégia não é utilizada somente por empresas 100% de base tecnológica, mas também por empresas tradicionais que buscam se digitalizar ou pensar no futuro de seus empreendimentos com mais vertentes de atuação. E no Brasil temos bons exemplos dessa estratégia, como o laboratório Dasa e o seu braço de investimento DNA Capital, que investiu em empresas que no futuro podem complementar seus negócios, casos de suas investidas Memed, de prescrição digital, e Sanar, de educação médica. Outra empresa brasileira que segue uma linha parecida é a rede de farmácias Droga Raia/Drogasil, que fez diversas aquisições de empresas menores para adicionar ao seu portfólio.

Os investimentos em saúde seguirão em alta em 2022?

Tudo indica que sim. Se considerarmos os exemplos de outros mercados, como Fintech e Transportes, os investimentos devem seguir crescendo por mais alguns anos, especialmente porque muitas dessas empresas de base tecnológica ainda operarem no vermelho, e portanto, precisam de mais capital para seguir em um ritmo de crescimento acelerado, algo comum no setor de tecnologia. Soma-se a isso que as empresas de saúde tradicionais ainda estão só começando em seus processos de digitalização, logo novas aquisições e fusões podem ser esperadas nos próximos anos.


Este artigo foi produzido por Gustavo Comitre, Product Manager na DocPlanner e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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