Você investiria em roupas que só existem digitalmente?
Inovação

Você investiria em roupas que só existem digitalmente?

Roupas virtuais têm ganhado espaço entre os maiores players de moda do mundo, não só por conta da inovação imagética, mas pela capacidade de resolver antigos problemas da indústria.

A marca de luxo Gucci reacendeu a pauta da mistura entre moda e tecnologia ao lançar seu primeiro par de tênis totalmente virtual, em realidade aumentada. O “Virtual 25” custa US$ 12 no app da marca e poderá ser usado em redes sociais — como filtro do Instagram — na plataforma de realidade virtual VRChat e no jogo Roblox, por exemplo.

Fonte: IstoÉ Dinheiro

Para os próximos anos, a ideia da marca é ampliar o catálogo de tênis e sapatos virtuais, criando novos modelos que possam ser utilizados em aplicativos, além de digitalizar o portfólio de sapatos do mundo real para que clientes possam “testar” os produtos antes da compra.

A notícia causou espanto em quem não conhecia o tema, e interesse em outros, de olho em ter um tênis de luxo pelo preço de um lanche. Movimentou as redes sociais e no meio disso, muita gente passou a se questionar, se compraria ou não uma roupa que só existe digitalmente.

Apesar da repercussão, não é a primeira vez que a indústria da moda flerta com a tecnologia. Em 2018, a marca escandinava Carlings vendeu uma coleção de roupas digitais que se esgotou em uma semana. A proposta era combater a lógica look do dia na qual influencers usam a roupa apenas uma vez para postar o conteúdo nas redes sociais e depois descartar.

Fonte: Crystallize

Em 2019, o estúdio holandês de moda digital The Fabricant vendeu um vestido virtual por US$ 9.500. A venda do vestido ‘Iridescence’, representa um momento marcante na alta costura digital, como uma transação de blockchain pioneira, a peça única é uma obra de arte digital rastreável e colecionável.

Fonte: The Fabricant

Depois disso, a Louis Vuitton já criou roupas para os jogadores do League of Legends e a Moschino colaborou com Sims numa coleção-cápsula. Durante a pandemia vimos diversos desfiles feitos dessa forma, como o outono-inverno 2021/22 da Balenciaga, em que a grife criou um jogo para todo mundo curtir as peças de forma virtual. Sem contar com as semanas de moda totalmente dedicadas ao tema, como a BR Immersive Fashion Week, que aconteceu em no final do ano passado.

Quando se pensa no uso do consumidor final, uma peça de roupa digital ajuda a cumprir uma série de benefícios culturalmente difundidos pela indústria da moda. Além de vestir fashionistas e influencers virtuais, como @lilmiquela e @shudu.gram, ela cumpre os papeis de expressão, integração, comunicação… motivos pelos quais algumas pessoas consomem e usam roupas.

Fonte: Fotos @lilmiquela e @shudu.gram

A roupa virtual pode cumprir estes papeis, além de ser uma forma de se relacionar com marcas que de alguma forma estariam inacessíveis, por barreiras geográficas ou econômicas. E ao mesmo tempo pode nos fazer refletir sobre porquê e o quanto precisamos de marcas para construção da nossa identidade.

Agora, tirando o foco pessoal, quando olhamos de forma mais abrangente, e para outras tecnologias utilizadas para fazer as tais roupas tecnológicas, percebemos que roupas virtuais têm ganhado espaço entre os maiores players de moda do mundo, não só por conta da inovação imagética, mas pela capacidade de resolver antigos problemas da indústria.

A transformação digital e a adoção de novas tecnologias 3D criam um fluxo de trabalho mais eficiente, preciso e sustentável, eliminando a roupa física usada durante vários momentos ao longo da cadeia de produção, como a pilotagem para aprovação, produção de amostras para showroons e parceiros e até para utilização em campanhas e desfiles.

Considerando que para produzir qualquer peça de roupa no mundo físico há um consumo de matérias primas e recursos naturais. Não seria somente otimista dizer que as peças virtuais são mais sustentáveis. Sejam elas feitas em realidade aumentada ou em 3D, para clientes finais ou para a indústria. Veja algumas possibilidades:

Design, Prototipagem e Produção em 3D: sem gastos de materiais.
Planejamento de Coleção: visualização da disposição de produtos em ambientes 3D.
Showroom virtual: ambiente imersivo para venda de atacado, varejo e experimentação de arrumação de loja.
Personalização: produção de vestuário sob demanda e peças únicas.
Comunicação: campanhas, desfiles, games e outras iniciativas de conteúdo virtual.

No Brasil, o designer carioca Lucas Leão é o primeiro a aderir a criação e produção de roupas digitais e comercializar em grande escala. Entre seus destaques estão jaquetas e vestidos digitais para serem usadas e compartilhadas nas redes sociais.

Fonte: Lilian Pacce

Lucas também está à frente, junto da turma do BR Immersive Fashion Week, da primeira exposição de moda digital da América Latina em metaverso, que acontecerá em junho. A expansão do mundo físico para novas possibilidades digitais e a utilização de tecnologia, parece ser maior que apenas uma peça de roupa ou acessórios. Pode ser a pontinha de um iceberg de transformações que a indústria da moda irá passar rumo à sustentabilidade e ao que parece ter mais sentido nos dias de hoje.


Este artigo foi produzido por André Carvalhal, consultor, palestrante, TEDxSpeaker, especialista em design para sustentabilidade e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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