Nos próximos dias, o Catar estará no centro das atenções mundiais não só por sediar a edição de 2022 da Copa do Mundo de Futebol, mas também porque o país, considerado um dos mais ricos do mundo, prometeu uma série de novidades em termos de tecnologia. Em entrevista à MIT Technology Review Brasil, Benjamin Back, comunicador e apresentador do Arena SBT, faz uma análise do que os torcedores podem esperar em termos de mudanças neste mundial.
MIT Technology Review Brasil – Considerado um dos países mais ricos e tecnológicos do mundo, o Catar ergueu do zero uma metrópole inteligente no meio do deserto, chamada Lusail, a tempo de apresentá-la como uma das atrações da Copa do Mundo de 2022. Além disso, o país promete um evento com interatividade total, conexão mais rápida, estável e escalável, proporcionada pelo 5G. Diante disso, qual sua expectativa com relação à experiência do público e imprensa durante o mundial, no que diz respeito à tecnologia?
Benjamin Back: Não acho que o fato de o mundial ser no Catar garanta um salto em termos de tecnologia. O futebol acompanha e segue os avanços tecnológicos, e a Copa do Mundo, por ter um intervalo de quatro anos entre uma e outra, evolui radicalmente a cada edição. Não somente dentro das quatro linhas, mas principalmente na forma de assistir aos jogos.
MIT TR.: A Al Rihla, bola oficial da Copa, promete ser a mais rápida e precisa de todos os tempos, em virtude de sua principal tecnologia, chamada de Speedshell. Na sua opinião, qual o impacto dessa tecnologia nos jogos? Isso pode beneficiar as seleções mais fortes?
B.B.: A tecnologia empregada na produção das bolas utilizadas nas Copas ao longo dos anos (exceção à polêmica bola Jabulani) ajudou a melhorar a qualidade do espetáculo, e dessa vez acredito que também será assim, mas não fará milagres. Ela pode mudar um pouco a velocidade e a curvatura num chute à longa distância ou numa grama mais rápida e molhada, mas se o jogador não souber bater na bola, ela não fará tanta diferença.
MIT TR.: A Copa de 1994, nos Estado Unidos, ficou marcada pela conquista do tetracampeonato da Seleção Brasileira e também pelas altas temperaturas em que as partidas foram realizadas. No Catar, para tentar amenizar o problema, drones sobrevoarão o estádio e lançarão um composto de hélio, formando nuvens para encobrir os raios solares. Você acredita que essa tecnologia poderá ajudar a reduzir os prejuízos para a qualidade das partidas, evitando um maior desgaste dos atletas?
B.B.: Sim. Jogar em temperaturas muito altas prejudica o desempenho dos jogadores, a partida fica mais lenta, com mais erros de passes. Essa tecnologia ajudará muito, mas sua eficácia vai depender também do horário dos jogos.
MIT TR.: O VAR e a bola, que terá um sensor instalado no centro da esfera, também trarão novidades em termos de tecnologia. Chamada pela FIFA de “impedimento semiautomático”, a tecnologia promete reduzir o tempo de verificação dos lances de impedimento. Após algumas copas terem sido definidas em lances não detectados pelo olho humano — como por exemplo, a final da Copa de 1966 entre Inglaterra e Alemanha — qual a sua expectativa para o uso da tecnologia nas partidas? Teremos, finalmente, uma Copa sem gols polêmicos?
B.B.: Acredito que sim. Ainda mais pelo fato de não termos árbitros de vídeo brasileiros nessa Copa. No Brasil, esses profissionais conseguem, mesmo com toda tecnologia, cometer erros lamentáveis. Mas, nessa Copa, acredito que tudo funcionará perfeitamente, até porque um erro grosseiro com o uso do VAR acarretará um prejuízo moral à FIFA gigantesco.
MIT TR.: Com as redes sociais e os dados cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas, a FIFA criou um app chamado FIFA Player App, restrito aos jogadores que disputarão a Copa do Mundo. O app fornecerá aos atletas informações táticas, técnicas, físicas, além de fotos, que poderão ser publicadas por eles em suas redes. Você acredita que a medida pode ser benéfica para os jogadores ou isso poderá tirar o foco da competição? Como você analisa o uso de dados atualmente no futebol e qual o peso que eles têm nas decisões dos treinadores e comissões técnicas?
B.B.: Esse tipo de procedimento já acontece faz tempo. Por exemplo, na CBF existe um centro de inteligência que realiza esse serviço aos jogadores da seleção brasileira. Todos os adversários do Brasil são estudados e analisados de todas as formas, e depois cada jogador recebe as informações por WhatsApp. Isso funciona até para amistosos. Acredito que esse APP da FIFA ajudará muito os treinadores, principalmente. Mas, convenhamos, todas as comissões técnicas já vão para o Mundial sabendo tudo sobre os seus adversários!
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