A tecnologia e a técnica por trás da seringa
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A tecnologia e a técnica por trás da seringa

Bom resultado de intervenção estética depende não apenas do produto, mas de um olhar integral do profissional e compreensão do processo de envelhecimento.

Em 2024, o mundo acompanhou no cinema a trajetória de uma atriz de 50 anos que é demitida por estar envelhecendo e, então, resolve experimentar uma droga que promete trazer uma versão mais jovem dela própria. A saga vivida por Demi Moore em “A Substância” levantou muitos questionamentos. Talvez até os mesmos que deixaram perplexos os leitores de Oscar Wilde (famoso poeta e dramaturgo) em 1890, ao se depararem com a frieza de Dorian Grey, personagem que faz um pacto com forças ocultas em troca de ter a aparência sempre jovem.

Seja homem ou mulher, atualmente ou no século XIX, os atributos de beleza e jovialidade sempre exerceram forte influência sobre os padrões sociais. Hoje, no entanto, observa-se uma inflexão importante: um movimento inovador que coloca a saúde no centro da cena — agora associada a valores como individualidade e naturalidade, cada vez mais incorporados à medicina estética.1

Para a dermatologista Silvia Zimbres, em um mundo bombardeado por informações, é imprescindível que o profissional de saúde consiga orientar o paciente da melhor maneira possível sobre a sua realidade, afinal toda a jornada é construída a partir deste primeiro momento2.

“Existem dois tipos de pacientes: aquele que chega sabendo o que quer e o que não sabe nada. É preciso estabelecer uma relação com esse paciente, ouvi-lo, ter empatia, emponderá-lo. Muitos chegam inseguros, por isso a necessidade de fornecer informações de qualidade, alinhar as expectativas, e aí sim entregar resultados”, explica a médica.

A naturalidade alcançada nos procedimentos estéticos é fruto do avanço tecnológico, do surgimento de novas técnicas e produtos que são mais seguros, mais eficazes e menos invasivos. A própria compreensão de como se dá o envelhecimento nas células e das diferentes camadas da pele contribuem para essa nova perspectiva de intervenções que se complementam para atingir um resultado bem-sucedido3.

Uma tecnologia para cada idade

Os hábitos de vida são tão determinantes para a saúde e o envelhecimento saudável quanto os fatores genéticos. Na visão da dermatologista Silvia Zimbres, quanto mais cedo se inicia a prevenção no cuidado com a pele, mais efetivos tendem a ser os resultados ao longo do tempo. Nesse sentido, as novas gerações largam na frente.

“Eu recebo cada vez mais pacientes jovens e eles já têm preocupação de como vão envelhecer. Há 20 anos, isso não existia. É uma geração que vai ter uma pele muito melhor do que a nossa, porque eles começam a tratar cedo, a prevenção é desejada, embora às vezes eles venham com muitas ideias de intervenções que são precipitadas”, observa a dermatologista.

As queixas sobre a aparência variam conforme a faixa etária dos pacientes. Se as rugas na área dos olhos são frequentes na faixa etária de 30 a 40 anos, a flacidez da pele é mais intensa dos 50 aos 60 anos. Para cada situação, há uma abordagem distinta. Geralmente, a intervenção estética envolve a combinação de diferentes tratamentos, uma vez que o envelhecimento facial é um processo complexo: “envolve alterações inter-relacionadas nos ossos, músculos, gordura e pele. Caracterizado pela deterioração do tônus ​​e textura da pele, deflação devido à perda de osso e gordura, declínio dos tecidos moles devido à perda do tônus ​​muscular e da elasticidade da pele, desproporção, pois o afundamento ocorre em diferentes áreas faciais em diferentes taxas e tempos cronológicos”4.

A dermatologista Lilia Guadanhim reforça que o sucesso de um tratamento relacionado ao envelhecimento é resultado do conhecimento da anatomia do rosto e do entendimento de como ocorre o processo nas diferentes camadas da pele. “Quanto mais estratégias forem combinadas, mais naturais serão os resultados e mais duradouros e satisfatórios”, conclui.

“Por exemplo, quando pensamos em tratamentos injetáveis, se fala muito sobre toxina botulínica a e preenchimento. Eu costumo dizer que sozinhos eles são bons, mas juntos são muito melhores, porque são tratamentos totalmente imbricados — um ajuda no resultado do outro. Por isso, eu acredito muito em construção de resultado em intervenções programadas e intencionais. Acho que essa é uma assinatura importante. E quanto mais a gente explica para o paciente os porquês de uma determinada estratégia, mais ele entende que aquilo faz sentido”, detalha a médica.

A médica Silvia Zimbres acrescenta que a falta de conhecimento sobre o processo de envelhecimento pode não apenas comprometer os resultados, mas também levar à estigmatização de determinados produtos, especialmente quando são utilizados de forma inadequada.

“O ácido hialurônico — que é um produto espetacular, sem equivalente quando se trata de estruturação facial — muitas vezes ganha uma fama negativa por conta do uso inadequado”, observa a dermatologista. “Quando comecei a utilizá-lo, em 2002, tratávamos apenas rugas. Hoje, sabemos que o envelhecimento é um processo multidimensional e multifatorial. Por isso, tratamos as causas da ruga: o sulco, a perda de gordura, a reabsorção óssea. O envelhecimento é um processo de centralização — tudo escorre para a frente, e as queixas se concentram na parte central do rosto: olheiras, sulcos, o famoso ‘bulldog’, lábios mais finos. Mas o tratamento começa de trás para a frente. Ao devolver sustentação à estrutura facial posterior, já conseguimos melhora na região central, com menor quantidade de produto e resultados muito mais naturais.”

Diferenças entre gêneros

Com base em suas experiências clínicas, ambas as médicas avaliam que houve aumento da procura de tratamentos estéticos pelo público masculino. Porém, de uma maneira geral, eles tendem a chegar mais tarde ao consultório médico.

“O processo de envelhecimento tende a ser mais benevolente com os homens, por características anatômicas como a maior espessura da pele e a quantidade de colágeno”, explica a dermatologista Silvia Zimbres. “Além disso, a perda hormonal nas mulheres — especialmente com a chegada da menopausa — é muito mais abrupta do que a andropausa nos homens. Nos primeiros cinco anos após a menopausa, se não houver nenhum tipo de tratamento, a mulher pode perder cerca de 30% do colágeno da pele. É muita coisa.”

As queixas masculinas também costumam ser diferentes. Enquanto, para as mulheres, a área dos olhos geralmente motiva as primeiras intervenções, a médica destaca que, entre os homens, o foco inicial tende a ser o terço inferior do rosto, especialmente o contorno da mandíbula e a papada.

Independentemente do gênero, a personalização, adaptada a cada caso, é sempre a estratégia buscada por profissionais de referência. E não apenas do ponto de vista técnico, ao oferecer a melhor combinação de terapias, mas também na capacidade de se conectar, com empatia, às dores e necessidades de cada paciente.

“É fundamental compreender as nuances da individualidade de cada paciente: entender de fato o que ele enxerga e o que o incomoda, e identificar se há outros gatilhos além do desejo próprio de tratar, como a vontade de agradar o parceiro ou uma mudança de emprego”, alerta Lilia Guadanhim.

A médica destaca que os impactos psicossociais da medicina estética são uma faceta extremamente relevante e que, felizmente, os estudos científicos têm valorizado cada vez mais a visão do paciente — o chamado patient-reported outcome (resultado relatado pelo paciente) —, em que a narrativa se concentra mais nos benefícios percebidos e nas mudanças vivenciadas do que no resultado técnico do tratamento em si.

“As intervenções podem ter um impacto ainda maior na qualidade de vida. Falamos até de atributos emocionais, como deixar o paciente com uma aparência menos triste, menos cansada. Tudo começa nesses aspectos: como o paciente se vê e como é visto pelos outros. Essa intersecção é muito interessante”, complementa Lilia.

Silvia Zimbres destaca que há diversos estudos que relatam evidências da criação de expressões faciais mais felizes e seus impactos na atividade de duas regiões-chave do cérebro envolvidas no processamento emocional: a amígdala e o giro fusiforme.

“O procedimento estético proporciona um bem-estar emocional real, algo que também já está documentado na ciência. Publicações recentes sobre a toxina botulínica, por exemplo, mostram que pessoas que fazem o procedimento sentem-se melhor” afirma a médica.

Embora reconheçam que ainda é necessário continuar avançando nesse conhecimento com pesquisas, os especialistas observam no dia a dia um fenômeno já bastante perceptível: resultados positivos que vão muito além da estética.

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