Tecnologia em colapso: explorando a última temporada de Black Mirror
Humanos e tecnologia

Tecnologia em colapso: explorando a última temporada de Black Mirror

O debate proposto pela série de TV nos faz refletir sobre os riscos e os desafios das novas tecnologias baseadas em IA que já estão presentes em nosso cotidiano.

Na mais recente temporada da série Black Mirror, os telespectadores foram apresentados a um episódio que mergulha profundamente na intersecção entre Inteligência Artificial generativa e Computação Quântica. Com a trama situada em um futuro próximo, o primeiro episódio desta temporada final desencadeia uma discussão crucial sobre os desafios e os perigos que podem surgir dessa fusão tecnológica. 

Ao longo dos anos, Black Mirror tem sido aclamada por sua capacidade de provocar reflexões sobre os efeitos colaterais da tecnologia em nossa sociedade. O episódio de estreia desta temporada não é exceção, à medida que coloca o público em um mundo em que a IA generativa e a Computação Quântica se tornaram os pilares de inovação e progresso. 

O enredo segue os personagens principais, que são imersos em um ambiente controlado por uma IA generativa alimentada por um Computador Quântico. Essa combinação poderosa permite que a IA crie um simulacro quase perfeito do mundo real, levando os indivíduos a questionarem a própria natureza de sua realidade. O episódio levanta questões fundamentais sobre ética e privacidade, bem como os limites da tecnologia e a sua influência sobre o livre arbítrio humano. 

Uma das preocupações centrais exploradas no episódio é a ideia de que a tecnologia está se tornando tão onipresente e poderosa que a linha entre o real e o virtual está ficando cada vez mais tênue. A capacidade da IA generativa de criar uma realidade alternativa altamente convincente levanta questões sobre a autenticidade e a confiabilidade da informação e experiência que consumimos. O episódio adverte sobre a possibilidade de manipulação e controle que podem ser exercidos sobre as massas por meio dessa tecnologia avançada. 

Além disso, a fusão da IA generativa com a Computação Quântica também levanta questões sobre os limites da Inteligência Artificial em si. À medida que a IA se torna mais complexa e autônoma, há uma clara preocupação de que ela possa ultrapassar os limites estabelecidos pelos seres humanos e evoluir para um estado em que se torne incontrolável e até mesmo hostil aos seus criadores. Esse aspecto do episódio ressalta a importância de definir e implementar salvaguardas e regulamentações rigorosas ao lidar com o desenvolvimento e a aplicação de tecnologias tão poderosas. 

Perspectivas comportamentais e privacidade de dados  

De certa forma já estamos experimentando a dificuldade de diferenciar o que é real do que não é real, e a ideia do episódio foi aprofundar a percepção a partir das simulações digitais e algorítmicas, como se estivéssemos dentro do processo de associações de informações que os cruzamentos algorítmicos realizam para gerar resultados duvidosos ou não. A medida em que a trama se desenrola, os personagens são confrontados com o questionamento fundamental: “Se tudo o que experimentamos é gerado por uma IA, como podemos ter certeza de que nossa realidade é genuína?” A confusão e a desorientação se instalam, levando-os a reavaliar a confiabilidade de suas próprias memórias e percepções.  

As personagens vivem em uma realidade distópica em que são constantemente expostas a uma infinidade de estímulos visuais e auditivos, todos projetados para manter a sociedade imersa no espetáculo e na busca pela perfeição de personalidade. A ideia de personalidade sempre “boa” é valorizada acima de tudo, com os indivíduos sendo constantemente julgados e com suas características negativas colocadas como intoleráveis.  

Essa representação ecoa a ideia do filósofo francês Guy Debord sobre a “sociedade do espetáculo”. Debord argumentava que, na sociedade contemporânea, as relações sociais são mediadas por imagens e representações, resultando em uma alienação das experiências autênticas. A ênfase na aparência e na imagem externa obscurece as verdadeiras qualidades humanas e promove uma cultura superficial e baseada no consumo.  Os algoritmos desempenham um papel fundamental na economia da atenção atual, onde as empresas buscam capturar nossa atenção e nos expor a conteúdos e anúncios específicos. Esses algoritmos são projetados para analisar nossos dados e comportamentos online, criando perfis detalhados e personalizados que alimentam uma constante personalização do conteúdo que consumimos. Isso se relaciona com a sociedade do espetáculo de Debord, pois os algoritmos moldam nossas experiências online, direcionando nossa atenção para conteúdos que supostamente correspondem aos nossos interesses. Isso pode levar à formação de “bolhas de filtro” ou “câmaras de eco”, onde somos expostos apenas a perspectivas e opiniões semelhantes às nossas, reforçando nossas crenças e limitando nossa visão de mundo. 

Diante disso, o episódio traça um paralelo com ética e privacidade, já que não existe um ator ou um criador da simulação e nem da imagem, como se fosse um loop de percepções, caminhos e conteúdos, não há possibilidade de reivindicar a autoria ou o responsável já que os conteúdos são criados em cima de criações de outros. E isso não é um problema do futuro, já está acontecendo.  

Um dos problemas éticos levantados em relações ao uso de IAs é sobre os termos de privacidades não serem transparentes o suficiente sobre a utilização dos dados que caracterizam um pessoa. Neste tópico, a Lei Geral de Proteção de Dados, que vigora no Brasil, aborda os seguintes temas: 

  1. Consentimento: A LGPD requer que o tratamento de dados pessoais seja realizado com base no consentimento livre, informado e inequívoco do titular dos dados. Isso significa que as organizações devem obter uma autorização explícita dos indivíduos antes de coletar, usar ou compartilhar seus dados pessoais. 
  2. Finalidade: Os dados pessoais só podem ser coletados e tratados para finalidades específicas e legítimas, que devem ser informadas aos titulares dos dados. Os dados não podem ser utilizados para finalidades diferentes daquelas para as quais foram coletados, a menos que haja uma base legal para tal. 
  3. Transparência: A LGPD enfatiza a importância da transparência no tratamento de dados pessoais. As organizações devem fornecer informações claras e acessíveis aos titulares dos dados sobre como seus dados serão coletados, usados, compartilhados e armazenados. 
  4. Direitos dos titulares: A lei garante aos titulares dos dados uma série de direitos, incluindo o acesso, correção, exclusão, anonimização, portabilidade, informação e revogação do consentimento. Os titulares têm o direito de exercer esses direitos de forma simples e eficaz. 
  5. Segurança e sigilo: As organizações são responsáveis por adotar medidas técnicas e organizacionais adequadas para garantir a segurança dos dados pessoais, protegendo-os contra acessos não autorizados, perda ou qualquer forma de tratamento inadequado. 
  6. Responsabilidade e prestação de contas: A LGPD atribui responsabilidade às organizações pelo cumprimento da lei. Elas devem adotar uma abordagem de prestação de contas, implementando políticas e procedimentos internos que garantam a conformidade com os princípios e regras estabelecidos pela LGPD. 

No caso do episódio, a personagem não consegue reivindicar nenhum destes pontos, já que assinou um termo de privacidade que me pareceu ser atualizado em tempo real a cada lançamento de conteúdo, um dos furos do episódio, sob meu ponto de vista, pois passa a ideia de que a empresa detentora que realizou os testes conseguiu todos os próximos passos e cenários possíveis e colocou em um único termo assinado uma única vez. Sabemos que atualizações de termos de privacidade envolvem sempre uma nova leitura e aceite ou nao por parte dos indivíduos.  

Sobre propriedade e autoria 

Quem possui os direitos autorais sobre o trabalho gerado por um sistema de IA? Como garantir que os criadores humanos sejam devidamente reconhecidos e recompensados por seu trabalho? Essas questões exigem uma análise aprofundada e a criação de marcos legais e éticos que abordem a autoria e a propriedade intelectual em contextos gerativos. 

Realidade Virtuail : dimensões e simulações  

A ideia de experimentar diversas dimensões sem a necessidade de óculos de Realidade Virtual é um conceito que se baseia mais em especulação e teorias do que em tecnologias existentes atualmente. As dimensões são entendidas geralmente como extensões espaciais além das três dimensões com as quais estamos familiarizados (comprimento, largura e altura). 

Na ciência, as teorias da física exploram a possibilidade de existirem dimensões adicionais além das três perceptíveis. Por exemplo, a teoria das cordas sugere a existência de múltiplas dimensões extras, mas essas dimensões são conceituais e não diretamente acessíveis pela percepção humana. 

No entanto, em termos de experiência humana cotidiana, não há tecnologia atual que permita a exploração direta de outras dimensões sem o uso de dispositivos especiais, como óculos de VR ou tecnologias semelhantes. 

No entanto, até o momento, a experiência de dimensões adicionais além das três conhecidas é principalmente um conceito teórico, abordado na física e na matemática, mas não disponível para a experiência direta em um sentido prático. 

Portanto, embora a ideia de experimentar dimensões adicionais sem o uso de óculos de Realidade Virtual possa ser um tema interessante para especulação ou ficção científica, atualmente não há tecnologia ou meios conhecidos para tornar essa ideia uma realidade palpável na experiência humana cotidiana. 

Dito isso, a ideia de que dimensões são criadas e sem o uso de óculos você pode vivenciar diversos cenários e sensações é, atualmente, mais uma narrativa de ficção cientifica. Também vale considerar que, por exemplo,  a quantidade de tempo que uma pessoa pode passar em imersões de Realidade Virtual pode variar dependendo de vários fatores, incluindo o conforto pessoal, a intensidade da experiência e a fadiga visual e física. Embora a realidade virtual seja uma tecnologia fascinante e envolvente, é importante considerar alguns pontos relacionados ao tempo de uso: 

  1. Conforto: algumas pessoas podem começar a sentir desconforto ou náusea após um período prolongado de uso do óculos de Realidade Virtual. Isso é conhecido como “cinetose” ou “enjoo de movimento”, e pode ocorrer devido à discrepância entre os movimentos percebidos e a falta de movimento físico correspondente. Portanto, é recomendável fazer pausas regulares para descansar e permitir que o corpo se ajuste. 
  1. Fadiga visual: essa sensação por surgir devido à constante exposição a telas e ao foco próximo dos olhos. É aconselhável fazer pausas regulares para descansar os olhos e evitar esforço excessivo. Além disso, ajustar as configurações da Realidade Virtual para um conforto visual adequado e garantir uma iluminação adequada no ambiente também pode ajudar a reduzir a fadiga ocular. 
  1. Exaustão física: dependendo do tipo de experiência, pode haver um componente físico envolvido, como movimentos corporais, jogos ativos ou atividades que demandam esforço físico. Nesses casos, é importante evitar a exaustão física excessiva e garantir que o corpo tenha descanso adequado. 
  1. Orientação no tempo: ao se envolver em experiências imersivas, é fácil perder a noção do tempo. Por isso, é importante definir limites pessoais e monitorar o tempo gasto na Realidade Virtual para evitar longos períodos de uso sem intervalos adequados. 

A tentativa de tentar nos confundir com um episódio que parece ser do futuro, mas que, na verdade, é sobre o presente, é mais uma das tentativas de nos prender na narrativa de que são necessários acontecimento bizarros para pensarmos criticamente o uso de ferramentas de IA e algoritmos em nossas vidas. Black Mirror desde a primeira temporada entendeu que isso nos prende e mexe com o nosso imaginário, que também tem sido abalado por uma realidade que foge do nosso controle social e que é dimensionada pelas nossas horas em telas imersivas com recomendações feitas por um desconhecido que nos conhece muito bem: o algoritmo. 

Em última análise, o episódio inaugural da última temporada de Black Mirror nos faz refletir sobre os desafios e dilemas éticos que enfrentamos no mundo da tecnologia em constante evolução. À medida que a IA generativa e a Computação Quântica se aproximam da realidade, é imperativo que consideremos as implicações sociais, éticas e psicológicas dessas inovações. Precisamos de uma abordagem equilibrada que promova o progresso, mas ao mesmo tempo proteja os direitos individuais e preserve a integridade da experiência humana. 

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