Sustentabilidade ou marketing? O que existe por trás das promessas ambientais das Big Techs 
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Sustentabilidade ou marketing? O que existe por trás das promessas ambientais das Big Techs 

Com a corrida para zerar as emissões de carbono nas mãos das gigantes de tecnologia, é preciso estar atento às suas reais intenções.

Entre promessas e grandes campanhas para firmar suas metas sustentáveis, as Big Techs escondem algumas controvérsias. Um estudo da Accenture com o Pacto Global da ONU mostra que, faltando seis anos para o prazo estabelecido pela Organização das Nações Unidas, 48% das metas estão em estágio fraco ou insuficiente de entrega.

Por outro lado, o foco dos esforços dessas empresas deve estar na redução dos impactos climáticos e não na compensação das emissões com créditos baratos.

O que tudo isso nos mostra é que, como consumidores, também temos o papel importante de cobrar essas medidas e adotar uma postura mais consciente no consumo dos produtos e serviços oferecidos por essas empresas.

Neste episódio do podcast da MIT Technology Review Brasil, André Miceli, Carlos Aros e Rafael Coimbra discutem alguns dos pontos centrais desse tema.

Este podcast é um oferecimento do SAS.

Podcast Amazon MIT Technology Review Brasil

Podcast Apple MIT Technology Review Brasil

[Vinheta inicial] 

[Andre Miceli] 

Olá, eu sou André Miceli e esse é mais um podcast da MIT Technology Review Brasil. Hoje, eu, Rafael Coimbra e Carlos Aros vamos falar sobre as emissões de carbono das Big Techs.

Para salvar o mundo, a gente vai precisar resolver emissão de carbono. Enquanto a tecnologia vai avançando, as grandes empresas vão se tornando uma espécie de vilã dessa história toda. As empresas vão precisar lidar com esse desafio de outros formatos, de outras maneiras.

Antes de começar, eu quero dizer que esse podcast é um oferecimento do SAS, líder em Analytics, e também te convidar para entrar para nossa comunidade.

Rafa Coimbra,nos últimos anos grandes empresas de tecnologia, como a Alphabet, a Meta e a Amazon tem feito promessas ambiciosas para reduzir suas emissões de carbono e contribuir para um mundo mais sustentável, audar a resolver esse problema e esse desafio que nós temos pela frente. No entanto, existe uma preocupação sobre a autenticidade dessas afirmações, do quanto eles estão se esforçando de verdade e da eficiência desse esforço também.

Como a gente pode, Rafa, distinguir ações genuínas, eficazes e práticas de greenwashing quando as grandes empresas de tecnologia fazem promessas climáticas? E quais são os sinais que os consumidores e investidores precisam observar?

[Rafael Coimbra] 

André, dá para a gente observar se elas estão realmente cumprindo e, de que maneira, procurando os detalhes. O problema é que procurar detalhe dá muito trabalho. Então, pra maioria das pessoas no dia a dia, a gente confia muito nessas empresas, nos relatórios que elas emitem, nos eventos que elas fazem. Estou lembrando agora aqui do último da Apple, em que o Tim Cook, CEO da empresa, sentou com a mãe natureza. Tinha uma mulher lá representando a mãe natureza e ele estava prestando contas para a mãe natureza sobre as ações que a Apple estava fazendo, no sentido de ser mais limpa. Então, existe uma pressão muito grande por conta da sociedade que está exigindo que essas empresas parem de emitir carbono, sejam limpas, usem materiais recicláveis. Muitas dessas big techs fizeram planos com metas para 2030, 2030 é daqui a pouco. Elas têm o papel não só de fazer isso, mas de mostrar isso.Então, como eu disse, o que chega pra gente são relatórios, são números, mas quando a gente vai olhar ali por dentro, André, existem diferenças.

Como é que você zera emissões de carbono? A maneira mais simples é simplesmente você não emitir carbono. Você simplesmente não produz ou reduz a produção de alguma coisa. Você não está emitindo carbono. Mas o que essas empresas fazem, e a gente observa que nos últimos anos elas crescem de uma maneira absurda e o mundo está ficando mais digital, portanto, passando por alguma solução dessas grandes empresas, elas estão crescendo. É um paradoxo. Como é que você cresce e zera carbono?

O que elas fazem, na verdade, é de um lado, poluir, gerar carbono e do outro lado, compensar essa emissão de carbono com alguma coisa. Então pode comprar, por exemplo, créditos de carbono. Você está emitindo aqui e alguém da outro lado está capturando carbono, por exemplo, plantando árvore, esse é um exemplo. Então, é um jogo de soma zero: você emite um e alguém vai lá, reduz um, zerou, beleza. Ou você já tem empresa comprando crédito de energia renovável. Então ela está apostando em empresas que estão jogando na rede de energia uma energia renovável. Mas a gente sabe que o consumo imediato, por exemplo, de energia de muitas dessas empresas, vamos pegar aqui, de Data Center. Aonde estão os computadores dessas empresas? Onde está todo o nosso serviço que nós, consumidores pessoais – muitas vezes você nem sabe, mas você está usando a nuvem de uma dessas empresas – ou outras empresas terceirizando, alugando hospedagem na nuvem. Da onde está vindo essa energia? Ela é limpa e renovável? Ela é gás e petróleo? A gente não sabe. A gente só usa os serviços e muitas vezes não tem ideia da onde vem isso.

Então, o que está se chamando atenção nesse momento é que muitas dessas empresas já estão dizendo que estão chegando lá no carbono zero e, quando a gente vai ver, elas não estão no carbono zero. Elas estão ao contrário, muitas vezes gerando mais carbono e, de uma outra maneira, tentando compensar isso, vamos chamar assim, no papel. Mas não é o que se espera de uma empresa. Quando a gente pensa em não poluir, seria imaginar que um data center de uma empresa dessas estivesse sendo, por exemplo, alimentada 100% por energia eólica e solar. Só que a gente sabe que isso, na prática, é muito difícil. Por que? Porque o sol roda ali e ele não vai ficar o tempo inteiro gerando energia solar, O vento de vez em quando para. Então, existem momentos em que a rede possível, é uma rede mais poluente. É uma termelétrica, por exemplo. É carvão, é gás. Isso tudo faz com que esse sistema não seja tão simples quanto a gente imagina.

A gente precisa ficar de olho e cobrar. E só para complementar, eu estou falando que só da camada mais visível, que são as Big Techs. Mas e os fornecedores dessas Big Techs? A cadeia toda que elas movimentam, por exemplo, no setor de transporte. Pega uma Amazon, que é um e-commerce que tem lá uma rede de transporte. Esse transporte que está emitindo carbono, ele está reduzindo o carbono? O que está sendo feito, que ações estão sendo feitas para que a gente realmente chegue num patamar, num momento em que a gente não emita. Melhor do que emitir e compensar, é não emitir.

[André Miceli]  

Aros, essa questão do carbono é, sem dúvida, uma questão fundamental, talvez a mais importante. No entanto, essas iniciativas raramente abordam questões que são subjacentes. Por exemplo, o consumo de recursos de produção e a produção de eletrônicos com o ciclo de vida muito curto. Esse processo de obsolescência programada acaba fazendo com que haja um descarte que nem sempre é da forma mais eficiente.

Em que medidas você acha que as iniciativas de energia renovável das empresas de tecnologia estão abordando, de fato, esses problemas mais amplos sobre sustentabilidade? Você acha que existe um foco desproporcional nas soluções de geração de energia em detrimento de outras questões climáticas?

[Carlos Aros] 

Eu acho que existe, André.

Primeiro, porque esse não é um fenômeno que afeta só a indústria de tecnologia. A gente está falando das Big Techs a qui, claro, é o nosso quintal. Mas se a gente olha para outras indústrias, o apelo de sustentabilidade ou dessa compensação de créditos de carbono, ele é muito vendável. É uma comunicação efetiva, um tema que já está acessível à população. Então, para as empresas é muito mais fácil, mais bonito e mais simples tratar os assuntos sob essa perspectiva e dizer que estão anulando o impacto ambiental de emissões para a atmosfera, com base nessa compra de créditos. E aí, tentam fazer isso de maneira acelerada, fazendo uma projeção e antecipando essa compra e tal.

Ocorre que em várias indústrias, você pega a indústria automotiva que discute severamente a eletrificação em vários países já com um estímulo importante do ecossistema para isso acontecer, mas ela desconsidera, primeiro, essa energia virá da onde? Então, qual é a fonte? Boa parte dos países ainda é o carvão para fazer geração de energia. Então, opa, pera aí, nós temos um problema aqui.

No caso das Big Techs, a mesma coisa. Nós estamos falando sobre ainda uma indústria que está patinando na tentativa de fazer a reciclagem e aproveitamento dos materiais que vão para a composição de diversos dispositivos. Uma indústria que tem um alto índice de lixo eletrônico. E aí com um tema, um ciclo de vida extremamente curto. Uma indústria que não conseguiu dar fim, por exemplo, às baterias de maneira efetiva. As baterias de dispositivos eletrônicos, computadores, celulares, tablets, tudo isso ainda geram problemas e têm soluções já endereçadas e encaminhadas, mas não é uma indústria que conseguiu sanar essa questão.

Então a gente tem, lateralmente a esse tema, do core dessas companhias, um debate importante sobre a compensação. Sim, é importante. A IA está fazendo com que haja um aumento das emissões. Perfeito. A conta é essa. O problema é que fica num campo muito focado em um único tópico, ignorando-se convenientemente a cadeia e todo o impacto da cadeia no longo prazo. E ao ignorar, escolher ignorar, essa longa cadeia a gente também presta um desserviço com a população, porque o consumidor passa a não ser educado também sobre risco, sobre como tratar melhor o descarte dos produtos, como endereçar uma utilização mais consciente que possa, lá na frente, reduzir o impacto ambiental. Então, quando a gente fala sobre emissão, na verdade nós estamos falando sobre a ponta de um iceberg que é a de algo muito maior. Há inúmeros elementos que, no fim do dia, geram impacto severo.

A gente tem uma discussão cada vez maior sobre o quanto fica cada vez mais caro buscar matéria-prima, eu acho que para um sem número de materiais que são produzidos para a indústria de eletrônicos. E aí, não é só o quanto fica caro, mas o quanto as alternativas que são colocadas para buscar esses materiais também implicam em um aumento dessas emissões. Então, a discussão sobre energia renovável, ela não passa só lá na ponta pela emissão, mas pela recuperação e pela integração de uma cadeia, identificando onde estão os pontos fortes, onde estão as vulnerabilidades e como encadear isso em uma nova cadeia que seja eficiente do ponto de vista de uma poluição que vai ser reduzida, talvez não em um ano, mas ao longo de um período, mas com uma perspectiva bastante sustentável.

E aí tem um ponto que é preciso ser colocado em perspectiva. Esse movimento no qual as Big Techs fazem parte, ele é abraçado pelo mercado financeiro com muita força. Por quê? Porque houve um incentivo muito grande do mercado financeiro para que essas companhias que foram aglutinadas em fundos e grupos que recebem aporte para movimentar uma suposta economia verde, fizessem essa movimentação da compensação de carbono. Então, existe um movimento que é premiado, vamo colocar dessa maneira, e que, na mesma linha das três letrinhas do ESG, tem nos seus símbolos, então, a sustentabilidade tem ali o crédito de carbono, compensação de carbono e tal como um símbolo mas que não necessariamente é levado a sério o cenário geral.

Então as empresas brigam por números muito bonitos. A gente vê a Amazon fazendo anúncios de um lado, o Google fazendo anúncios do outro. A Apple fez uma introdução gigantesca, não sei se foi nesse lançamento, o último agora ou no anterior, sobre mudanças de materiais, dizendo que não ia mais trabalhar com determinado material, que estava fazendo uma compensação X. Fez lá todo um mise en scene para poder mostrar que também estava fazendo a parte dela e tal. Mas por que? Porque isso faz com que essas empresas sejam melhores rankeadas. Que essas empresas sejam mais bem avaliadas, estejam mais bem posicionados. Porque existe uma espécie de premiação para quem adota isso, mas no fim do dia, a cadeia como um todo não é contemplada. E aí a gente tem buracos. Porque o cara que é pequenininho faz parte de um pedaço ali, ele está invisível dentro do todo. Por enquanto. A gente está avançando no cenário, isso é muito positivo, de rastreabilidade cada vez maior, de integração, de um olhar mais apurado. Até porque já se entendeu o movimento que a gente está discutindo aqui, e aí começa a haver uma cobrança mais efetiva.

Mas o grande ponto é: é muito bonito e premiado. Existe um incentivo do mercado financeiro, sobretudo, para esse movimento, mas ele é pouco eficiente, segundo alguns estudiosos, porque não dá conta da complexidade do todo. Então, é uma escolha bem interessada e muitoconsciente das empresas por fazer essa opção em detrimento de um outro modelo.

[André Miceli] 

Rafa, tem um aspecto importante nessa discussão sobre práticas ambientais, que é a transparência. Muitas vezes as métricas que essas grandes empresas usam, quando a gente fala de sustentabilidade, são auto declaradas e aí, naturalmente, há um monte de dúvidas sobre tanto a precisão, quanto a imparcialidade dessas informações. E ai como existe uma falta de padronização nessa divulgação de dados, há também uma dificuldade de se comparar as empresas, tanto no que diz respeito à emissão propriamente dita, quanto no que diz respeito às conversas com a Mãe Natureza, como você ilustrou a linha do  Tim Cook. De que forma, efetivamente, essas empresas estão atuando para melhorar o cenário no qual estamos todos inseridos.

Como você acha, Rafa, que essa falta de transparência, de padronização nas métricas, afeta nossa capacidade de avaliar o verdadeiro impacto ambiental das empresas, em geral, mas, claro, dando aqui um zoom nas empresas de tecnologia? E também quais são as soluções possíveis para melhorar a transparência nesse segmento?

[Rafael Coimbra] 

André, primeiro é preciso deixar claro que esse é um desafio mundial e que não envolve apenas empresas de tecnologia. Medir carbono, medir impacto não é algo tão trivial quanto pode parecer num primeiro momento.

Como eu falei, existe essa dificuldade inicial do primeiro escopo de quem são as empresas mesmo, que estão gerando algum tipo de dano ao meio ambiente. Mas existem, sobretudo nessas gigantes, uma cadeia toda interconectada e, muitas vezes, você não consegue saber ou medir tão precisamente quem é lá o quarto, quinto na cadeia que está fornecendo algum serviço para você.

Eu não estou dizendo que isso é uma desculpa. Eu estou dizendo que isso é realmente um dos grandes desafios. Como medir, se possível, em tempo real, o impacto de uma cadeia? Então, existe muita gente trabalhando, eu já vi várias startups, tentando encontrar soluções para que esse essa medição – se você não mede, você não vai ter uma clareza da realidade – para que se use tecnologia colocando sensor, colocando inteligência artificial, fazendo o que for possível para que a gente tenha essa clareza.

Vindo por parte da empresa, André, eu acho que mesmo se a gente atingisse esse nível de excelência, digamos assim, com clareza, com transparência; olha, tá tudo aqui visível. Eu penso sempre do lado do consumidor e acho que, no fim das contas, consumidores, todos nós, tendemos a dar uma ignorada. Eu não sei até que ponto o consumidor, por exemplo, ele já pode deixar de trocar um telefone todo ano. Se ele tiver uma consciência, não precisa nem medir, você sabe que se você trocar de celular todo ano, você está gerando algum impacto. Pergunta: as pessoas param para pensar nisso? To falando de uma maneira geral.

Agora, a gente começa a ter também uma maior invisibilidade desses serviços. Estou dando um exemplo concreto, que é um telefone, por exemplo, mas toda vez que a gente começar a usar serviços de inteligência artificial para entrar agora aqui na crista da onda, a gente está consumindo mais energia. Parece uma busca simples. Você vai lá, faz um questionamento, coloca uma inteligência artificial para trabalhar para você e acha que está tudo bem. A gente já parou para pensar no custo energético que está sendo gerado para te dar uma simples resposta, para te dar uma simples imagem? Tem muita gente está fazendo essas contas e comparado ao modelo anterior, ele custaria energeticamente muito mais. Da onde está vindo essa energia? O mundo está sendo transformado, a gente está trabalhando com essas camadas, que eu estou chamando aqui de mais invisíveis, e quanto mais fácil fica a nossa vida do ponto de vista de cidadania, de consumidor, a gente tende a fazer essa opção, muitas vezes ignorando, conscientemente ou não os impactos, como se fosse a sujeira: “eu não estou vendo essa sujeira. Está lá do outro lado do mundo. Não sei. Está vindo lá das 12h00 de fuso horário de distância daqui. Não estou vendo. Então não está poluindo”

É preciso que as empresas, como você bem colocou, façam a sua parte e deixem muito transparente o que elas estão gerando de impacto. Mas é preciso que aqui, puxando a orelha de nós enquanto sociedade, que a gente também faça a nossa parte e fique de olho e reflita sobre o nosso comportamento. Até que ponto nós queremos mais um gadget? mais não sei quantos serviços para que tudo fique bem para a gente? Mas a gente não tem ideia do que está acontecendo lá do outro lado do mundo. Você pode estar, provavelmente, que está nos ouvindo, gerando carbono, mas não está vendo essa fumacinha. Você está vendo ali a facilidade diante das suas múltiplas telas.

[André Miceli]  

Se fizer uma comparação simples sobre uma busca no Google e uma consulta ao ChatGpt, são mais ou menos 20 vezes a quantidade de energia de carbono gerado quando a gente opta pelo ChatGPT. E obviamente, esse juízo de valor não é feito grande parte das vezes. A gente pode de fato contribuir com esse processo.

Carlos Aros, existe um paradoxo pelo que a gente está vendo aqui no papel da tecnologia. Ela é parte da solução, mas também é parte do problema sobre a crise climática. Enquanto a gente consome quantidades grandes de energia e de recursos, também oferece soluções inovadoras. Essas soluções podem ajudar a mitigar esse movimento de mudanças climáticas.

Como você acha que o setor de tecnologia pode equilibrar o seu papel como um consumidor significativo de recursos, com a capacidade de desenvolver soluções inovadoras? Onde está esse ponto de equilíbrio entre a inovação e o impacto negativo?

[Carlos Aros] 

Está no direcionamento que é dado não só às empresas de tecnologia, mas às empresas de maneira geral. Eu tive a oportunidade, no Energy Summit, de mediar um painel que tratou justamente desse tema. E ali, com os especialistas da mesa, ficou claro para mim que não é só a capacidade que se tem de entregar respostas, que é o que você coloca aqui; a inovação a serviço da resolução deste tipo de problema, mas é como lá na ponta, as premissas são estabelecidas para nortear esses investimentos e a atenção que essas empresas vão dar.

Então um exemplo que surge sempre muito facilmente para a gente citar, é o da indústria automotiva, que em que se busca a eletrificação da frota e não se considera que, em alguns países, para sustentar esse aumento da demanda por energia que haverá, vai ter que se queimar mais carvão para garantir o fornecimento dessa energia. E aí, no contexto geral, a premissa, portanto, está, daqueles que formatam as políticas públicas – e aí também as empresas em conjunto, as associações, academia, os entes governamentais juntos – precisa identificar esses cenários e atacar essas questões de maneira mais ampla e muito menos focada em um único problema, em uma única questão pontual.

“Ah, porque os motores a combustão são um problema. Ah, porque os motores de inteligência artificial são problemáticos”. São e não são, e sempre vai ser essa a grande questão. O ponto é como a mediação se dá com base em um direcionamento mais claro, um direcionamento mais crítico em relação a contextos mais amplos, entendendo particularidades, entendendo onde estão as eficiências e onde estão, muitas vezes, algumas das fraquezas dos modelos que estão sendo estabelecidos. Porque, aquilo que já foi colocado aqui de maneiras diferentes nessa nossa conversa, as soluções existem, elas estão aí. Algumas delas estão sendo testadas, mas bem sucedidas, outras estão sendo testados, menos exitosas, mas elas caminham.

O grande ponto é a premissa, como a gente vai é resolver isso com uma visão mais macro. A gente ainda continua atacando essa questão sob uma ótica muito fragmentada, de problemas muito pontuais, e não com uma visão sistêmica. E o meio ambiente, por si só, traz essa ideia já de ecossistema. Então a gente precisa trabalhar isso também com essa visão sistêmica aplicada, por que a gente está deixando pedaços de fora.

Agora, é inegável que a tecnologia cumpre um papel importante na solução, muito mais do que na criação de problemas. Porque a gente tem conseguido avançar…nós citamos aqui, por exemplo, na semana passada, na outra semana, não me lembro, falando sobre os gêmeos digitais. Mostramos como há uma eficiência muito grande, uma redução de custos e uma otimização enorme na cadeia. É a tecnologia oferecendo respostas para que você consiga mais eficiência e menor impacto ambiental, etc, em um sem número de aplicações.

Então a tecnologia tem um papel interessante. Ela consegue oferecer respostas positivas mas a gente está tateando na política. Esse é o grande ponto. A gente está criando fricção na política, onde as premissas são estabelecidas para que o jogo seja jogado. E aí, no meio dessa celeuma toda, é óbvio que a inovação não vai parar. Nós não vamos deixar de ter a versão quatro, cinco, seis, dez do ChatGPT. Nós vamos buscar porque é uma demanda, as pessoas estão usando, está oferecendo soluções para um sem número de problemas que vêm se apresentando, soluções até para coisas que não existem, que também é um outro problema, é motivo para uma outra discussão, mas vem ganhando espaço.

Isso não vai retroceder. Então, as premissas precisam ser repensadas. Tudo precisa ser colocado no eixo para a gente poder saber medir onde estão vantagens e onde estão os prejuízos. A tecnologia só é responsável por atender e por endereçar as questões que já foram apresentadas.

[Andre Miceli] 

É isso. Está na hora de virar a chave. Eu pergunto para o Rafa Coimbra; Rafa, no que você vai ficar de olho essa semana?

[Vinheta do quadro] 

[Rafael Coimbra] 

Estou de olho, André, na batalha dos buscadores. Pegando aí um gancho ainda em inteligência artificial, essa semana passada, o CEO da OpenAI, o Sam Altman e sua empresa fizeram anúncio do SearchGPT, que é basicamente o Google da OpenAI.

O que a gente já vinha observando era uma movimentação. O Google também já vinha se transformando, tentando fazer ali uns testes com novos modelos de busca, em vez daquela clássica que a gente já conhece há mais de duas décadas de uma lista de links. O Google já estava trabalhando nele com respostas mais personalizadas e mais diretas e a OpenAI vem agora com essa proposta.

Por enquanto é um protótipo, por isso que eu estou de olho, mas muita gente já vinha usando o ChatGPT como um buscador. Ele não foi feito para isso, é preciso deixar bem claro. Muita gente usa o ChatGPT como se fosse o Google, mas ele não foi criado para essa finalidade. Ele é um gerador de textos mas, obviamente, acabou muita gente, dentro dessa pegada de poupar tempo, de ter uma resposta mais direta, mais simples, mais objetiva, fazendo com que a ferramenta fosse usada para essa finalidade.

E aí, isso é um detalhe importante, André, porque muda ou pode mudar completamente o jogo de Big Techs. O modelo do Google está todo ancorado em venda de anúncios digitais por conta desses links, desse modo que a gente vem usando a busca há muitos anos. Virou um padrão, virou verbo: Googlar. No momento em que você tem um competidor que oferece uma solução muito parecida, só que de uma maneira mais pragmática, a gente pode estar vendo o início de uma grande competição e de mexer com o gigante que estava dominante, praticamente monopolista até outro dia. Um detalhe interessante, e aí fica como cuidado para a gente também enquanto consumidor observar, é que essas respostas únicas, elas podem muitas vezes vir com vieses. Quem disse que essa é a resposta certinha? Então a gente, obviamenteo, como é um protótipo, tem que ficar de olho e entender se essas respostas que vão vir de uma maneira mais fácil, elas vão vir sem esses vieses, sem um olhar que vai nos direcionar tanto.

Agora, o modelo da OpenAI, por enquanto, é um modelo de assinatura. Então você tira os anúncios, faz com que a pessoa pague e aí dentro de um processo de analisar memória, de personalização, as buscas e os resultados vão ser feitos para aquela pessoa. No entanto, essa pessoa está pagando uma mensalidade. Por enquanto, é o que está sendo apresentado. Do outro lado, você tem um modelo, entre aspas, de graça do Google, mas a gente sabe que essa atenção conquistada de graça é revertida em lucros para a empresa por meio de anúncios digitais.

Então, o que a gente está falando aqui são de dois grandes modelos por trás de grana, de financiamento que, por sua vez, vão colocar esses dois gigantes para definir, talvez, o nosso próximo passo enquanto busca, como é que vai ser esse modelo.

E um último detalhe, tem um terceiro concorrente correndo por fora que é o Perplexity. Se você ainda não testou, vale a pena dar uma olhada, que é uma mistura dos dois. E uma coisa interessante do Perplexity é que ele mostra as fontes. Ele mostra o caminho da pesquisa para gerar aquele resultado e, pelo que eu vi no protótipo do SearchGPT, tem uma coisa parecida. Eles estão ali com citações de fonte, o que é, novamente, muito importante para dar essa transparência, para a gente sabe da onde chegou aquele resultado.

[André Miceli] 

E você, Carlos Aros?

[Carlos Aros] 

Estou de olho no mercado de smartphones, André, em específico na China.

Já havia sido anunciado por alguns especialistas nas listas de consultorias diversas, a movimentação que apontava o crescimento das empresas regionais. Então, uma série de fabricantes, algumas conhecidas aqui do mercado brasileiro, como Huawei, Xiaomi, ganhando mais espaço no mercado chinês. E aí, à medida que isso aconteceu, quem mais sangrou para que esse crescimento das fabricantes locais acontecesse foi a Apple e, pela primeira vez, ela chegou a um semestre, dobrou o semestre com uma posição fora do top cinco. Ela passou abril, maio e junho deste ano para a sexta posição de vendas de smartphones na China. E ai isso, claro, tem algumas razões. Não é o melhor trimestre de vendas para Apple, que em geral é o último de cada ano porque tem lançamento, você tem ali toda a movimentação de marketing, etc. Mas a Apple não tem tido um grande apelo com os chineses em função de um movimento que as fabricantes chinesas identificaram e que a Apple talvez tenha deixado passar.

Primeiro, a integração da inteligência artificial generativa aos produtos. Então fabricantes que já têm, como a Huawei, trazido para o core dos produtos a inteligência artificial generativa, estão ganhando na preferência dos usuários. A experiência de uso está muito melhor, houve um crescimento, uma melhora bastante importante ali na relação com os aparelhos.

Um outro fator importante que tem sido colocado, é a venda da integração, o ecossistema. Ou seja, boa parte desses fabricantes também tem dispositivos eletrônicos que são inteligentes. O IoT e o IoT dominando as casas de chineses. O mesmo movimento de venda do IoT na integração da interface puxa também a venda dos smartphones. E aí, você tem preferência por marca locais, e aí entram alguns outros fatores.

Mas o grande ponto, que vem sendo alertado pelos especialistas é; talvez a Apple esteja voltando a ter uma presença similar àquela que ela tinha lá no começo dos anos 2020. Ou seja, vamos voltar quase cinco anos para trás, em que a Apple tinha algo em torno de 10% dos smartphones vendidos lá no mercado chinês, com uma tendência de que isso seja reduzido à medida que o tempo passa. Um movimento que não é interessante, uma vez que a China é um grande mercado, mas que está no alinhamento com o que a gente vê de movimentação no mercado global. E a China se fechando, olhando cada vez mais para dentro e fortalecendo os fabricantes regionais.

É um sinal de alerta para a Apple que também, apesar de ter anunciado a inteligência artificial dela, a Apple Intelligence, só vai colocar (sua IA) no mercado para que as pessoas possam saber do que se trata, no começo do ano que vem, e também com restrição apenas para uso nos Estados Unidos.

Ou seja, a Apple dando alguns passos e perdendo alguns territórios que, nessa brincadeira de WAR ai nas últimas décadas, ela já tinha conquistado de maneira bem importante.

A China, sem dúvida nenhuma, é um lugar que precisa estar muito, muito próximo e com um olhar atento para essas movimentações.

[André Miceli] 

Bom, meus amigos, é isso. Antes da gente ir, eu quero lembrar que esse podcast é um oferecimento do SAS.

Rafa Coimbra, até a semana que vem.

[Rafael Coimbra] 

Até semana que vem, André, Aros e a todos que nos ouvem. Eearemos de volta com novidades no mundo da tecnologia.

[André Miceli] 

Carlos Aros, até a semana que vem.

[Carlos Aros] 

Um grande abraço, André Miceli. Um grande abraço, Rafael Coimbra e a você que nos acompanha. N semana que vem a gente se encontra aqui.

[Andre Miceli] 

É isso. Um abraço, Aros, Rafa, e para você que nos ouve também. Semana que vem a gente se encontra por aqui para falar sobre tecnologia, negócios e sociedade. Tchau, tchau.

[Vinheta final] 

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