Quando o furacão Helene atingiu a Carolina do Norte, nos EUA, em setembro de 2024, a rádio AM WWNC de Asheville permaneceu no ar, transformando-se em um centro de comunicação improvisado para ajudar moradores e equipes de emergência a se manterem conectados e informados, de interdições em estradas a dicas sobre onde encontrar água.
O rádio AM sempre foi uma ferramenta crítica de comunicação. Quando falta energia e os serviços de celular e internet caem, o rádio continua funcionando. E, embora estejamos a anos-luz dos tempos em que as famílias se reuniam ao redor do aparelho para ouvir os discursos presidenciais, o sistema de alerta de emergências atual, gerido pela FEMA (Agência Federal de Gerenciamento de Emergências), pela FCC (Comissão Federal de Comunicações) e pela NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica), ainda é estruturado para permitir que o presidente dos Estados Unidos se comunique com a população em até 10 minutos após uma emergência nacional. Isso é feito por meio de 71 estações de rádio (além da televisão). Dessas estações preparadas para transmitir alertas, 85% são rádios AM.
A maioria dos americanos ouve rádio AM em seus carros, mas talvez não por muito tempo. Nos últimos anos, diversas fabricantes de carros elétricos, como Tesla e Volvo, começaram a eliminar completamente o rádio AM de seus modelos.
O rádio AM foi a forma mais antiga e simples de transmissão, ganhou popularidade na década de 1920 e dominou até os anos 1950. Na década de 1960, com os avanços tecnológicos, os rádios ficaram menores e mais acessíveis, surgindo em bolsos e carros. No final dos anos 1970, teve início a era do rádio FM, mais barato, com maior fidelidade sonora e menos suscetível a interferências. O AM, no entanto, manteve sua presença como meio tradicional para rádio falada — esportes, notícias e clima. Mas, com o avanço das transmissões via satélite e do rádio digital, sua participação continua diminuindo.
No cenário atual de crise climática, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, muitos defendem que este não é o momento de abandonar o rádio AM. Há um esforço bipartidário no Congresso dos Estados Unidos para manter a presença obrigatória do rádio AM em todos os veículos, justamente por causa de seu papel em conectar a população durante emergências.
Além do aquecimento global, a poluição que lançamos na atmosfera está resfriando a ionosfera, camada da atmosfera responsável por refletir as ondas de rádio, o que vem enfraquecendo a propagação dessas ondas.
Ainda não sabemos exatamente como essas tendências irão afetar a comunicação e o clima. Mas sabemos que a mudança já está em curso. Fomos nós que a provocamos. E somos nós que precisamos corrigi-la.