Precisão no diagnóstico precoce influencia o futuro da Covid-19
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Precisão no diagnóstico precoce influencia o futuro da Covid-19

Pesquisas buscam mais eficiência e agilidade em testes rápidos e exames de imagem para redução de casos graves do coronavírus e tratamento de pacientes com sequelas.

Mesmo com uma queda significativa nos registros de casos de Covid-19 no Brasil, sociedades médicas e infectologistas ainda se debruçam sobre pesquisas para entender como proteger, principalmente, grupos identificados como mais vulneráveis. A ciência indica que algumas pessoas, além de terem maior risco de apresentação da doença de forma grave, são mais suscetíveis à apresentação do prolongamento dos sintomas e de outras sequelas (1). 

A vacinação, segundo especialistas, é importante medida (2) para a redução dos índices de transmissão do coronavírus, mas a evolução na área de diagnóstico assume um papel fundamental na redução de casos graves entre pacientes dos grupos de risco. 

“O diagnóstico precoce diminui as chances de uma pessoa evoluir para uma Covid grave e precisar internar na UTI. Também temos a chance de poder prescrever antivirais em pacientes do grupo de risco”, explica Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio-Libanês. 

Mas para que o diagnóstico precoce de fato tenha efetividade, Mirian diz ser necessário oferecer testes rápidos da Covid-19 com desempenho acima dos que são fornecidos atualmente, a um preço mais baixo. 

“Os testes atuais não conseguem detectar o vírus quando a carga viral do paciente está muito baixa, por exemplo, no início do quadro. Então, no melhor desempenho que eles têm, acabam perdendo até 30% de casos positivos”, afirma a infectologista. 

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas corroborou a informação da infectologista do Sírio-Libanês. De acordo com o estudo, os testes caseiros têm uma sensibilidade “relativamente alta”, entre 75% e 80%, para identificar pessoas com alta probabilidade de contágio, ou seja, apenas durante o pico da carga viral, não no início da contaminação. Os resultados também sugerem que pacientes sintomáticos que testaram negativo inicialmente devem realizar o exame novamente em até dois dias (3). 

Por esse motivo, a infectologista Sumire Sakabe, do Hospital 9 de Julho, reforça a necessidade do isolamento de pessoas com suspeita da doença, mesmo com a redução do índice de transmissão do vírus.  

“Os primeiros sintomas podem variar de pessoa para pessoa e podem incluir coriza, dor de garganta, obstrução nasal, tosse, febre, calafrio, dor no corpo, diarreia, alteração do paladar ou olfato e dor de cabeça. Estamos aprendendo e ainda vamos aprender mais. Sabemos hoje que os sintomas e a duração da doença variam e têm diferentes graus de gravidade”, lembra. 

Mas o cenário deve ser alterado conforme o aprimoramento tecnológico, antecipa Mirian, do Sírio-Libanês. Pesquisas científicas avançam para melhorar a acurácia dos testes caseiros e ampliar o diagnóstico das doenças virais como um todo. “Existem algumas iniciativas para trazer testes mais acessíveis do ponto de vista de custo e de tempo, mas a ideia é que façam o diagnóstico de forma rápida, detectando três ou quatro vírus ao mesmo tempo. Esse seria o mundo ideal”, avalia a infectologista. 

Assertividade com IA 

A equipe da pesquisadora Claudia da Costa Leite, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), adota o conceito de inovação para a eficiência do diagnóstico de forma literal. O time criou em 2020 a plataforma RadVid-19, que identifica lesões pulmonares em tomografias por meio da Inteligência Artificial (IA) e auxilia os médicos no diagnóstico da Covid-19 (4).  

A ferramenta contribuiu com o diagnóstico mais assertivo de pacientes da rede pública e privada durante a fase mais crítica do vírus e, por esse motivo, foi selecionada para o Fleury Lab, espaço de fomento à inovação e à tecnologia da rede de laboratórios Fleury. 

Com a queda da transmissão do vírus, o estudo recentemente ganhou um novo foco: identificar o nível de agravamento da doença nos pacientes, principalmente dos que fazem parte do grupo de risco, para prescrição do melhor tratamento. Com os indicadores, a avaliação da tomografia pelos médicos se torna mais acurada e menos subjetiva (4). 

“A equipe já tinha tentado criar algoritmos para detectar quando o pulmão não está normal. Então, aproveitaram que já existia esse desenvolvimento e colocaram o padrão de Covid-19. Treinaram a Inteligência Artificial e isso acabou dando certo mesmo para pacientes que não desenvolvem casos graves. Conseguimos fazer o diagnóstico precoce e oferecer um tratamento melhor”, explica a pesquisadora da USP. 

Sequelas do vírus 

Segundo Marco Tulio Cintra, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o diagnóstico precoce é fundamental para evitar o agravamento da Covid-19 em idosos, que integram o grupo de risco. 

“Quando esse tipo de paciente está com a saturação baixa, o tratamento com antibiótico e corticoide pode levar mais tempo, o que desfavorece a sua evolução. Além disso, ele perde a chance de utilizar medicamentos específicos para o vírus”, diz. 

Outra preocupação de Cintra está relacionada à chamada Covid longa, quando os sintomas persistem por mais de três meses após o contágio. O médico afirma que existe risco de os sintomas do prolongamento da doença serem acompanhados pela perda cognitiva do idoso. “Qualquer medida, seja farmacológica ou não farmacológica, que possa reduzir a gravidade da doença faz diferença para a pessoa, principalmente nessa idade”. 

A inquietação do VP da SBGG está baseada em evidências científicas. Artigo publicado em 2022 na revista The Lancet destaca que o risco de pessoas desenvolverem a Covid longa pode estar relacionado com a idade. Ao avaliarem 279 pacientes hospitalizados com coronavírus acima de 65 anos, os pesquisadores concluíram que 25 (9%) deles tiveram o prolongamento da doença, sendo que os principais sintomas foram fadiga, tosse e falta de ar. Segundo o estudo, o índice aumenta até os 70 anos e depois cai “drasticamente” (5). 

Na comemoração ao Dia do Rim, em 9 de março, a Sociedade Brasileira de Nefrologia destacou a necessidade de a sociedade estar preparada para eventos globais, como a Covid-19, enchentes e desabamentos, para proteger e cuidar dos mais vulneráveis (6). 

“Entre os pacientes com doença renal crônica, aqueles que são socialmente mais vulneráveis acabam tendo o diagnóstico em fases mais avançadas. Nesses casos, o próprio diagnóstico da doença renal é um desafio inesperado tanto para os pacientes quanto para seus familiares”, informa a entidade (6). 

Transtornos mentais como depressão e ansiedade também integram a lista de sequelas da Covid-19 e afetam, principalmente, quem sofre com o agravamento da doença, afirma Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil. “Todo mundo foi impactado pela Covid-19. Mesmo quem não teve a doença passou por um momento de aflição, de medo. Então, temos um impacto em saúde mental gigantesco em termos numéricos e em termos da profundidade dos casos”, comenta. 

Na avaliação de Soares, a telemedicina se tornou canal fundamental para a reabilitação e para o tratamento de pessoas com sequelas da Covid-19. Além de reduzir custos de transporte do paciente até o consultório, a ferramenta estimula a sustentabilidade do setor e a diversidade na contratação de médicos. 

Referências 

  1. Sudre CH, Murray B, Varsavsky T, Graham MS, Penfold RS, Bowyer RC, et al. Attributes and predictors of long Covid. Nature Medicine [Internet]. 2021 Apr 1;27(4):626–31. Available from: https://www.nature.com/articles/s41591-021-01292-y 
  2. Marcelin JR, Pettifor A, Janes H, Brown ER, Kublin JG, Stephenson KE. Covid-19 Vaccines and SARS-CoV-2 Transmission in the Era of New Variants: A Review and Perspective. Open Forum Infectious Diseases. 2022 Mar 10;9(5).  
  3. Stohr JJJM, Zwart VF, Goderski G, Meijer A, Nagel-Imming CRS, Kluytmans-van den Bergh MFQ, et al. Self-testing for the detection of SARS-CoV-2 infection with rapid antigen tests for people with suspected Covid-19 in the community. Clin Microbiol Infect. 2022 May;28(5):695–700. 
  4. Lab F. O Projeto RadVid-19 [Internet]. Fleury Lab. 2022 [cited 2023 May 23]. Available from: https://fleurylab.com.br/labnarotina/o-projeto-radvid-19/ 
  5. Mansell V, Hall Dykgraaf S, Kidd M, Goodyear-Smith F. Long Covid and older people. Lancet Heal Longev. Elsevier; 2022 Dec;3(12):e849–54. 
  6. Sociedade Brasileira de Nefrologia. StackPath [Internet]. www.sbn.org.br. Available from: https://www.sbn.org.br/dia-mundial-do-rim/dia-mundial-do-rim-2023/ 

 

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