Por que usar os oceanos para absorver CO2 pode não ser tão fácil quanto o esperado
Natureza e espaço

Por que usar os oceanos para absorver CO2 pode não ser tão fácil quanto o esperado

Novos estudos sugerem que simplesmente adicionar minerais ou cultivar algas marinhas pode ser uma forma limitada ou cara de remover o dióxido de carbono (CO2).

Os oceanos do mundo são esponjas de carbono incríveis. Eles já capturam 1/4 do dióxido de carbono (CO2) produzido pelo homem quando as águas superficiais reagem com o gás de efeito estufa no ar ou os organismos marinhos o engolem à medida que crescem.

A eficácia dos oceanos gerou esperanças crescentes de que poderíamos, de alguma forma, acelerar esses processos naturais para aumentar a quantidade que eles capturam, ajudando a desacelerar as mudanças climáticas.

Uma ideia que está ganhando atenção e investimentos é adicionar nos oceanos minerais dissolvidos que possam reter carbono.

Mas um estudo publicado na revista Frontiers in Climate em março sugere que pode haver limitações para uma versão promissora da estratégia, que se baseia em um mineral vulcânico conhecido como olivina. Em teoria, a adição de olivina moída deve aumentar a alcalinidade da água do mar, o que ajuda a converter o carbono na água em uma forma estável e permite que os oceanos absorvam mais dióxido de carbono da atmosfera.

Pesquisadores do GEOMAR – Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel, na Alemanha, dissolveram recentemente areia fina composta principalmente de olivina em água do mar artificial. Durante um período de 134 dias, eles descobriram que a alcalinidade da água realmente diminuiu. De acordo com os pesquisadores, este e outros fatores reduziram a quantidade de carbono removido por um fator de cinco em comparação com o potencial teórico da olivina.

Outros grupos de pesquisa também descobriram recentemente que a dissolução da olivina na água do mar filtrada e artificial produziu um aumento na alcalinidade menor do que o esperado, observou o estudo. Ainda outro artigo recente de pré-impressão encontrou resultados igualmente confusos para outros minerais que se esperava aumentar a alcalinidade do oceano.

Enquanto isso, vários estudos adicionais recentemente levantaram dúvidas sobre uma abordagem distinta: cultivar algas marinhas e afundá-las para absorver e armazenar carbono.

Encontrar maneiras viáveis de reduzir os gases de efeito estufa será vital nas próximas décadas. Um relatório das Academias Nacionais em dezembro sobre a remoção de carbono oceânica observou que o mundo pode precisar absorver mais 10 bilhões de toneladas anualmente até meados do século para limitar o aquecimento a 2˚C.

De acordo com o grupo de pesquisa Ocean Visions, aumentar a alcalinidade do oceano poderia teoricamente remover dezenas de bilhões de toneladas a cada ano por conta própria. Mas o relatório das Academias Nacionais observou que exigirá mineração, moagem e transporte de rochas em escalas aproximadamente semelhantes, todas as quais também teriam consequências ambientais substanciais.

Os novos estudos não deram a palavra final e definitiva sobre se algum desses métodos será uma forma viável de ajudar a alcançar essas metas de remoção de carbono.

Mas Michael Fuhr, um dos autores do estudo da olivina e estudante de doutorado na GEOMAR, diz que suas descobertas sugerem que essas ideias “não são tão fáceis quanto o esperado até agora”. Ele acrescenta que pode funcionar bem apenas em certos lugares onde a química do oceano está adequada. Isso pode incluir áreas onde as águas são de baixa salinidade, mas ricas em sedimentos orgânicos, o que aumentará a acidez.

Fuhr e outros dizem que serão necessários experimentos de laboratório adicionais e trabalho de campo para determinar quão bem esse método funciona no mundo real, quais são as condições ideais ou se outros materiais são mais promissores.

Maria-Elena Vorrath, pesquisadora do Alfred Wegener Institute for Polar and Marine Research (Alemanha), disse em um e-mail que o estudo mostra que o processo de olivina não funciona da maneira que assumimos. Mas ela enfatizou que o mineral continua sendo “um dos métodos mais permanentes e promissores que a natureza nos dá”.

“Só precisamos entender e ler o manual”, escreveu ela, observando que a mistura de água e outras variáveis nos oceanos reais podem alterar os resultados vistos em laboratório.

A empresa Project Vesta planeja realizar um teste de campo no Caribe há vários anos, o que implicaria espalhar areia de olivina ao longo das praias ou em águas rasas. Também está realizando experimentos de laboratório, testes de toxicologia e planejamento de testes de campo na costa leste dos EUA, diz Tom Green, CEO da empresa.

A Project Vesta começou como uma organização sem fins lucrativos, mas agora é conhecida como uma corporação de benefícios sociais: tem o duplo objetivo de obter lucro ao mesmo tempo em que alcança o bem social. A esperança é eventualmente vender créditos de carbono para qualquer gás de efeito estufa removido com olivina, diz Green.

Um punhado de outras startups está trabalhando em maneiras distintas de aumentar a alcalinidade do oceano, por meio de abordagens que incluem processos eletroquímicos. Isso inclui Ebb Carbon, Planetary Technologies e Seachange, todos os quais venderam promessas de remoção de toneladas de carbono que esperam alcançar para empresas como Shopify e Stripe.

Enquanto isso, o estudo das Academias Nacionais pediu a criação de um programa de pesquisa de US$ 125 milhões nos EUA para avaliar se é possível desenvolver maneiras de aumentar ou acelerar esses processos, identificar efeitos colaterais ambientais e descobrir como medir e verificar com segurança se a remoção de carbono está ocorrendo.

“A geoquímica oceânica é muito complexa”, diz Wil Burns, professor visitante da Northwestern University (EUA) que se concentra na remoção de carbono. “Vamos precisar fazer muitas iterações desta pesquisa, sob condições e escalas muito diferentes, para tirar conclusões de que é possível fazer isso em larga escala e monetizar essa solução”.

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