Plantas são geneticamente modificadas para potencializar qualidades de purificação do ar
Natureza e espaço

Plantas são geneticamente modificadas para potencializar qualidades de purificação do ar

Diferente do que se pode imaginar, plantas de interior não tem um impacto significativo na qualidade do ar. No entanto, a startup Neoplants pretende consertar isso.

O que você encontrará neste artigo:

O Neo P1: Primeira planta geneticamente modificada
A importância do microbioma nas neoplants
O potencial futuro das plantas geneticamente modificadas

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No final da década de 80, a NASA conduziu um estudo para determinar como plantas de interior como babosa, hera chinesa e crisântemos em vasos reduziam a poluição do ar. Os resultados foram extremamente positivos e vantajosos para os proprietários de estufas em todo o mundo: a pesquisa mostrou que as plantas domésticas podiam eficientemente neutralizar poluentes nocivos, incluindo benzeno e formaldeído.

No entanto, o estudo da NASA foi conduzido em câmaras herméticas, imitando futuros habitats espaciais para sustentar a vida humana por um período prolongado. Em uma análise mais recente de 2020, no Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology, um contexto preocupante foi apresentado: seriam necessárias 680 plantas para purificar o ar em um ambiente de 457 metros quadrados, algo extremamente irreal para a maioria dos amantes de plantas. Porém, se a startup de biotecnologia francesa Neoplants tiver sucesso em seu experimento, talvez você precise de apenas uma planta.

O principal produto da Neoplants, anunciado no final do ano passado, é o Neo P1, a primeira planta de interior geneticamente modificada para remediar a poluição do ar em ambientes internos. À primeira vista, esta pothos tecnologicamente avançada, uma trepadeira tropical nativa das Ilhas Salomão, também conhecida como “Hera do Diabo”, é indistinguível da planta real. Ela é fotogênica, de crescimento rápido e difícil de ser morta. Mas, ao contrário daquelas presentes tradicionalmente nos berçários de plantas, esta também metaboliza os poluentes do ar em espaços internos não capturados pelos purificadores de ar convencionais, que filtram partículas: os compostos orgânicos voláteis (COVs) produzidos por tintas, fogões a gás e materiais de construção.

“Na verdade, é uma abordagem com dois focos”, explica o diretor de tecnologia e cofundador da Neoplants, Patrick Torbey. O primeiro é a engenharia genética do metabolismo da planta. Ao introduzir genes adicionais nela, a equipe de Torbey com sede em Paris manipulou o pothos para que ele produzisse enzimas que lhe permitisse usar os COVs absorvidos como fontes de carbono em seu metabolismo celular normal. Assim, em um ciclo virtuoso, mais poluição do ar apenas geraria mais matéria vegetal e maior capacidade de combate à poluição.

E o segundo foco é bacteriano. Em um Neoplant, assim como na natureza, os micróbios realizam a maior parte do trabalho pesado: duas cepas de bactérias simbióticas inseridas no solo do Neo P1 transformam formaldeído e a classe de poluentes conhecida como BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno) em açúcares e aminoácidos inofensivos.

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“Ficarei desapontado se houver uma planta na Lua e não for uma Neoplant”.

“As bactérias são partes realmente importantes da maioria dos ciclos de nutrientes”, explica Jenn Brophy, pesquisador de Stanford (EUA) cujo laboratório desenvolve plantas geneticamente modificadas com maior resistência às mudanças climáticas. “Mas manter os microbiomas é uma tarefa desafiadora. Assim que você envia um produto para alguém, essas bactérias começam a perder sua capacidade de sobreviver e funcionar adequadamente”. Essa vulnerabilidade parece ser justamente o foco do modelo de negócios da Neoplants: a empresa oferecerá doses concentradas de microrganismos patenteados que chama de “gotas de poder” para preservar a eficiência da planta na purificação do ar. Essas gotas precisarão ser aplicadas mensalmente, semelhante à troca do filtro em um purificador de ar. “A Dyson vende filtros”, diz o cofundador e CEO, Lionel Mora. “Nós vendemos microbioma”.

Por enquanto, o pothos em si é responsável por apenas cerca de 30% da capacidade de purificação do ar do Neo P1 e o microbioma cuida do resto, mas Mora e Thorbey esperam que isso mude em breve. É mais rápido melhorar os micróbios do que as plantas, explicam eles, então “ainda estamos longe de explorar totalmente o que a planta é capaz de fazer”, diz Mora. “Estamos no limite do que é possível agora, mas vislumbramos um tremendo potencial”.

O Neo P1 é a primeira iniciativa desse tipo da empresa. “Plantas purificadoras de ar podem fazer as pessoas repensarem os organismos geneticamente modificados (OGMs) sob outro prisma”, diz Brophy. “Ter algo palpável que não seja ameaçador, mas tangível, é uma ótima maneira de familiarizar às pessoas o conceito de OGMs”.

O momento é propício. As plantas pothos tornaram-se companheiras familiares nos ambientes internos do trabalho remoto, e o debate político sobre fogões a gás aumentou a nossa conscientização sobre os perigos domésticos antes desconhecidos. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a EPA, os americanos passam cerca de 90% de suas vidas dentro de casa, onde as concentrações de alguns poluentes podem ser de duas a cinco vezes maiores do que ao ar livre. “Geralmente nos sentimos seguros dentro de casa”, diz Mora. “Mas a Covid-19 nos mostrou que, mesmo em espaços internos, coisas invisíveis podem ser muito prejudiciais”.

Está claro que Mora e Torbey estão olhando para além da purificação do ar interno e em direção às aplicações climáticas. “É mais fácil causar impacto no espaço delimitado de um quarto do que começar direto com a atmosfera”, diz Torbey. “Mas ficarei desapontado se houver uma planta na Lua e não for uma Neoplant”.

Claire L. Evans é uma escritora e musicista que explora assuntos relacionados a ecologia, tecnologia e cultura.

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