Agora, o ChatGPT pode buscar respostas atualizadas na web para perguntas dos usuários, conforme anúncio da OpenAI.
Até então, o ChatGPT estava limitado a gerar respostas com base em dados de treinamento atualizados até outubro de 2023 para o GPT-4 e tinha capacidades restritas de busca na internet.
Consultas sobre temas gerais ainda vão se basear nas informações do próprio modelo, mas com a novidade o ChatGPT fará buscas automaticamente na web para responder perguntas sobre informações recentes, como notícias, esportes e mercado financeiro, e poderá oferecer resultados multimídia detalhados.
Os usuários também poderão iniciar uma busca manualmente, mas, na maioria dos casos, o chatbot tomará a decisão de buscar informações externas quando perceber que a resposta se beneficiará de dados da web, explica Adam Fry, líder de produto da OpenAI para busca.
“Nosso objetivo é fazer do ChatGPT o assistente mais inteligente, e agora estamos realmente aprimorando suas capacidades em termos do que ele pode acessar na web,” disse Fry à MIT Technology Review. A funcionalidade já está disponível para usuários pagantes do chatbot.
Apesar dessas funcionalidades não fazerem parte do lançamento inicial de hoje, quando o usuário pergunta sobre restaurantes locais, por exemplo, o ChatGPT pode disparar uma busca na web. Embora inicialmente disponível apenas para clientes pagantes, a OpenAI pretende disponibilizar a função de busca gratuitamente no futuro, inclusive para quem não estiver logado. A empresa também planeja integrar a busca com seus recursos de voz e com o Canvas, sua plataforma interativa de codificação e redação.
A empresa apresentou um protótipo independente da busca na web em julho, e essas capacidades agora estão incorporadas diretamente ao chatbot. Segundo a OpenAI, o ChatGPT agora conta com o melhor da experiência do SearchGPT.
A OpenAI é a mais recente empresa de tecnologia a lançar um assistente de busca baseado em IA, desafiando ferramentas semelhantes de concorrentes como Google, Microsoft e a startup Perplexity. A Meta, segundo relatos, também está desenvolvendo seu próprio mecanismo de busca com Inteligência Artificial.
Como na interface do Perplexity, os usuários do ChatGPT Search podem interagir em linguagem natural, recebendo respostas geradas pela IA com fontes e links para leitura complementar. Em contrapartida, a função de visão geral do Google oferece um resumo curto gerado por IA no topo da página, além de uma lista tradicional de links indexados.
Essas novas ferramentas podem desafiar, no futuro, a participação de 90% do Google no mercado de buscas online. A busca por IA é uma maneira importante de atrair mais usuários, afirma Chirag Shah, professor da Universidade de Washington especializado em busca online. No entanto, ele acredita que isso dificilmente reduzirá o domínio do Google. A tentativa de alto perfil da Microsoft com o Bing mal afetou o mercado, observa Shah.
Em vez disso, a OpenAI está tentando criar um novo mercado para agentes de IA mais poderosos e interativos, capazes de realizar ações complexas no mundo real, segundo Shah. A nova função de busca no ChatGPT é um passo nessa direção.
O recurso também permite respostas altamente contextualizadas, aproveitando o histórico de conversas para permitir uma busca aprofundada. Atualmente, o ChatGPT Search é capaz de relembrar o histórico de conversas e dar continuidade ao tópico da mesma forma. O próprio ChatGPT também pode lembrar detalhes sobre os usuários para uso posterior – isso pode ocorrer automaticamente ou a pedido do usuário.
Essas “memórias de longo prazo” afetam como ele responde nas conversas. Ainda não aplicável à busca, que começa do zero a cada consulta, essa capacidade deve estar disponível nos “próximos trimestres”, segundo Fry. Quando isso ocorrer, a OpenAI espera entregar resultados muito mais personalizados, baseados no que já sabe sobre o usuário.
“Essas memórias podem ser permanentes, como ‘sou vegetariano’, ou contextuais, como ‘vou a Nova York nos próximos dias'”, afirma Fry. “Se você disser ‘estou indo para Nova York em quatro dias’, o sistema pode lembrar esse fato e a nuance desse ponto,” acrescenta.
Para desenvolver a função de busca na web do ChatGPT, a OpenAI afirma ter aproveitado parcerias com organizações de notícias como Reuters, Atlantic, Le Monde, Financial Times, Axel Springer, Condé Nast e Time. No entanto, os resultados incluem informações não só dessas publicações, mas de qualquer outra fonte online que não bloqueie o seu crawler de busca.
Para Suzan Verberne, professora de Processamento de Linguagem Natural na Universidade de Leiden, que estuda recuperação de informações, é um avanço positivo que o ChatGPT agora possa buscar informações em fontes online confiáveis e gerar respostas baseadas nelas. Isso também permite que os usuários façam perguntas de acompanhamento.
Mas, apesar da capacidade aprimorada de buscar na web e verificar fontes, a ferramenta não está imune à tendência persistente de modelos de linguagem baseados em IA de inventar informações ou cometer erros. Quando a MIT Technology Review testou a nova função de busca pedindo sugestões de destinos para férias, o ChatGPT sugeriu “destinos de luxo europeus” como Japão, Dubai, ilhas do Caribe, Bali, Seychelles e Tailândia, citando como fonte um artigo do jornal britânico Times, que listava esses locais além de opções na Europa como destinos de luxo.
“Principalmente ao se perguntar sobre fatos inverídicos ou eventos que nunca aconteceram, o mecanismo pode ainda tentar formular uma resposta plausível que não seja necessariamente correta,” afirma Verberne. Há também o risco de que desinformações da internet possam contaminar as respostas do ChatGPT caso a empresa não filtre bem suas fontes, ela acrescenta.
Outro risco é que a atual tendência de acessar a web por meio da busca por IA venha a prejudicar a economia digital da internet, argumenta Benjamin Brooks, pesquisador do Centro Berkman Klein de Harvard, que anteriormente liderou políticas públicas na Stability AI.
“Ao colocar a web sob a proteção de um chatbot onisciente, a busca por IA poderia privar os criadores das visitas e do ‘engajamento’ de que precisam para sobreviver,” pontua Brooks.
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