O transporte público está abandonando o dinheiro vivo. Mas isso não é um problema
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O transporte público está abandonando o dinheiro vivo. Mas isso não é um problema

A mudança para o uso de pagamentos por aproximação pode não ter tanto impacto na acessibilidade quanto você pensa.

Ainda existem partes do sistema de transporte SEPTA da Filadélfia (EUA) que aceitam fichas. Mas hoje, em quase todas as grandes cidades americanas, você verá passageiros entrando em ônibus e plataformas de metrô usando os telefones para pagar as passagens. A mudança foi rápida. Como tantas coisas que os consumidores consideravam desnecessariamente complicadas antes da pandemia – códigos QR, coleta de pedidos em lojas de varejo, entrega de supermercado – a cobrança de tarifas de transporte por aproximação provou sua conveniência e foi normalizada. 

O que essa mudança significará para os passageiros menos privilegiados – aqueles sem smartphones ou cartões de crédito? Talvez pouca coisa. É provável que o dinheiro vivo ainda continue sendo aceito em algumas partes dos sistemas de trânsito, diz Candace Brakewood, professora de engenharia civil e ambiental da Universidade do Tennessee em Knoxville (EUA). Isso porque o Departamento de Transporte dos Estados Unidos exige grandes redes urbanas para garantir que quaisquer alterações de tarifa propostas não tenham um impacto desproporcional em passageiros de baixa renda e minorias. E o tipo de ginástica compensatória que as cidades precisarão realizar para cumprir essa exigência pode, na verdade, facilitar ainda mais o uso do transporte público. 

À medida que os sistemas de ônibus experimentam a eliminação de caixas de passagens a bordo, por exemplo, as operadoras precisarão expandir suas redes de venda de passagens – que incluem máquinas de venda automática nas ruas, bem como redes nacionais e empresas locais, como centros de desconto de cheques. Isso já está acontecendo na cidade de Nova York, que possui o maior sistema de transporte público do país. 

A cidade está fazendo a transição de seus MetroCards finos como papel e de tarja magnética para o OMNY, um sistema sem contato que usa comunicação por aproximação. O OMNY é compatível com “pagamentos em circuito aberto”, ou seja, não é necessário um cartão ou aplicativo especial para embarcar. Em vez disso, você pode simplesmente passar seu cartão de crédito ou débito habilitado para pagamento por aproximação ou utilizar seu dispositivo equipado com carteira digital. A OMNY também oferece uma opção de “circuito fechado” na forma de um cartão físico que pode ser recarregado com dinheiro. 

Em um comunicado, a Metropolitan Transportation Authority (MTA) da cidade disse que “expandiu bastante” sua rede de varejo desde que os cartões OMNY ficaram disponíveis para compra em setembro, citando quase 1.000 parceiros vendendo-os e realizando recargas. O objetivo é quadruplicar esse número assim que o sistema estiver totalmente ativado. 

É fácil ver o aumento do uso de pagamentos móveis como algo que vai contra ao ethos igualitário do transporte público. Mas a tecnologia pode facilitar o acesso a sistemas que de outra forma seriam difíceis de navegar. “Eu me esforço para pensar em um produto que seja mais desafiador para comprar quando você chega a uma nova cidade do que o transporte público”, diz Joshua Schank, diretor administrativo da InfraStrategies e membro sênior do Instituto de Estudos de Transporte da UCLA, nos Estados Unidos. 

Schank, que criou o Escritório de Inovação Extraordinária da MTA do Condado de Los Angeles, Estados Unidos, em 2015 e o liderou até janeiro passado, vê como objetivo final a integração de pagamentos entre sistemas de mobilidade (bicicletas compartilhadas, scooters, ônibus, trens) e cidades. Mas de uma forma ou de outra, o pagamento por aproximação e em circuito aberto provavelmente desempenhará o papel que o dinheiro fazia nos primeiros dias do transporte público: será aceito em todos os lugares. 

Rachel del Valle é uma escritora freelance de Nova York, Estados Unidos. 

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