Os casos de Covid-19 nos EUA dobraram nas últimas duas semanas e os cientistas agora estão correndo para entender a variante Delta, que parece ser responsável pela grande maioria das novas infecções. Perturbadoramente, a Delta é mais contagiosa do que outras variantes e também tem causado alguns casos de “progressão” sintomática em pessoas vacinadas.
Embora as vacinas ainda previnam de forma contundente doenças graves e morte, a variante Delta tem mudado a forma como pensamos sobre a disseminação do coronavírus. Selecionamos cinco perguntas importantes para responder sobre o que tudo isso significa.
O que torna a variante Delta mais contagiosa?
De acordo com estimativas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a variante Delta é quase duas vezes mais contagiosa do que as versões anteriores do vírus. Os pesquisadores ainda estão tentando entender as mutações responsáveis por isso, mas estudos preliminares sugerem que as mudanças em sua proteína spike o tornam mais eficiente tanto para se agarrar aos receptores quanto para entrar nas células.
A variante Delta também parece levar a cargas virais mais altas do que outras variantes. A carga viral é uma medida da quantidade de vírus presente no nariz e na garganta. Um estudo descobriu que, no início da infecção, as pessoas com a variante Delta tinham cargas virais 1.000 vezes maiores do que as pessoas infectadas com a versão original do vírus. Pessoas com a variante Delta também atingiram sua carga viral máxima mais rapidamente, de acordo com este estudo, que ainda não passou pelo processo de revisão por pares.
Como os cientistas realmente medem o quão contagiosa é a variante Delta?
A carga viral nos ajuda a entender o quão contagioso um vírus é. As infecções por coronavírus se espalham por aerossóis e gotículas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou apenas respira. Portanto, quanto mais partículas de vírus estiverem nas vias respiratórias de alguém, maior será a probabilidade de essa pessoa infectar outra.
Para medir a carga viral, os pesquisadores usam um método laboratorial denominada Reação em Cadeia da Polimerase, ou PCR, sigla em inglês Parapolymerase Chain Reaction. Um esfregaço (similar a um cotonete) é inserido no nariz de uma pessoa infectada para a coleta de quaisquer vestígios de RNA viral. Em seguida, é realizada a reação, que busca o material genético do vírus e o copia indefinidamente, até que haja cópias suficientes para que a equipe do laboratório os detecte.
Normalmente, nos concentramos no resultado final do PCR: se um teste encontra material de um vírus, o que produz um resultado positivo. Mas os pesquisadores também podem observar quanto tempo o aparelho demorou para gerar aquele resultado positivo, ou seja, quantas cópias foram necessárias para obter o material viral a um nível detectável. Quanto menos cópias, ou ciclos, necessários para detectar um vírus, mais material viral havia para começar.
Este número de ciclos, chamado de limite do ciclo, ou Ct (sigla em inglês para Cycle Threshold), é o número que causou surpresa nos CDC. Em um grupo de casos em Provincetown, Massachusetts, cerca de 74% dos residentes envolvidos foram vacinados. Pessoas que contraíram infecções tendem a ter valores semelhantes de Ct, independentemente de terem sido vacinadas ou não. O CDC pensou que isso poderia ser um indicador de que pessoas vacinadas poderiam transmitir o vírus, talvez tão facilmente quanto pessoas não vacinadas.
Ainda posso pegar Covid-19, mesmo após ter sido vacinado?
Sim, é possível, embora sua infecção provavelmente seja muito menos grave do que a de uma pessoa não vacinada.
A grande maioria das infecções ainda se concentra em pessoas não vacinadas, diz Liz Rogawski McQuade, pesquisadora de doenças infecciosas da Universidade da Virgínia. De acordo com relatórios da Kaiser Family Foundation, os estados dos EUA que monitoraram o status de vacinação dos casos por diferentes períodos no último ano descobriram que entre 94% e 99,9% dos casos ocorreram em pessoas que não foram totalmente vacinadas. E de todas as vacinadas, entre 0,01% e 0,54% tiveram um caso mais grave.
Alguns estudos descobriram que a eficácia das vacinas é um pouco menor contra a variante Delta, especialmente se você recebeu apenas uma dose de uma vacina de mRNA. Mas, por enquanto, parece que as vacinas ainda funcionam amplamente, especialmente na prevenção de muitos casos de doenças graves, diz Rogawski McQuade.
As vacinas podem, eventualmente, precisar de uma ajudinha extra contra a variante Delta — algumas empresas estão pressionando a administração de doses de reforço. Mas os especialistas dizem que ainda não há evidências de que os reforços sejam necessários, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que as vacinas iniciais para o resto do mundo devem ter prioridade sobre as vacinas de reforço para pessoas nos países ricos.
E a transmissão? As pessoas vacinadas podem transmitir a variante Delta?
Parece que sim, mas a pesquisa ainda está nos estágios iniciais.
Embora os valores de Ct possam ser usados como um indicador da carga viral, existem alguns problemas em tentar explicar muito com base nesse número, especialmente quando se trata de pessoas vacinadas, de acordo com Monica Gandhi, uma pesquisadora de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, São Francisco.
Em primeiro lugar, o PCR coleta todos os tipos de material genético, até mesmo de vírus mortos. Se o seu sistema imunológico vacinado começou a lutar contra a infecção, “você pode ter muitas partículas virais em seu nariz, mas elas podem não funcionar”, diz Gandhi. Para saber realmente o quão infeccioso alguém é, você precisa pegar esses vírus e ver se eles estão vivos e são capazes de infectar as pessoas. O CDC observou que esses dados ainda estão pendentes, diz Gandhi.
Além disso, os pesquisadores acreditam que as pessoas vacinadas, se estiverem infectadas, podem experimentar altas cargas virais por períodos mais curtos de tempo. Em um estudo de Cingapura, os pesquisadores descobriram que as cargas virais atingiram níveis elevados em pessoas vacinadas, mas caíram muito mais rápido do que naquelas que não foram vacinadas, embora a pesquisa ainda não tenha passado pela revisão por pares.
Outra pesquisa, como um estudo no Reino Unido, descobriu que as pessoas vacinadas na verdade têm cargas virais mais baixas do que as não vacinadas, sugerindo que a vacina ajuda a reduzir a transmissão.
Gandhi diz que mais estudos são necessários para nos ajudar a entender melhor o papel que as pessoas vacinadas desempenham na transmissão.
Devo me preocupar com essas outras variantes?
Os cientistas controlam para onde o vírus viaja e como está mudando, agrupando diferentes cepas em famílias, chamadas linhagens. Quando uma dessas linhagens passa a agir de uma forma que parece mais perigosa, a OMS a categoriza como uma “variante de preocupação” ou uma “variante de interesse” e a apelida com uma letra do alfabeto grego, como Delta.
Delta é na verdade uma família de sequências que estão todas relacionadas entre si.
Os cientistas costumam agrupar essas famílias em “sublinhagens” menores para fins de pesquisa. Você pode ter visto artigos de notícias sobre um deles, que os jornalistas têm chamado de “Delta plus”. Mas como não há evidências de que esse grupo menor de vírus esteja se comportando de uma maneira nova, a OMS ainda o considera parte da família Delta.
Novas variantes continuarão chegando até nós? E lambda e gama, por exemplo? Os vírus sofrem mutações o tempo todo, portanto, enquanto houver lugares no mundo onde haja uma disseminação não controlada, provavelmente continuaremos a ver mais variantes que se comportarão de maneira diferente. “Mas não precisa ser assim”, diz Rogawski McQuade. Diminuir a propagação deixa o vírus com menos oportunidade de sofrer mutação, o que significa que menos variantes surgirão.
Isso é um sinal de que precisamos aumentar as taxas de vacinação, e rápido. Mas provavelmente será necessário mais do que apenas vacinas para manter a onda atual sob controle, dizem os especialistas. Por exemplo, no final do mês passado, o CDC começou a recomendar que as pessoas vacinadas usassem máscaras em ambientes fechados na maioria das comunidades dos EUA.
“As vacinas são de longe as nossas ferramentas mais eficazes”, afirma Rogawski McQuade, “mas claramente não são perfeitas e não são as nossas únicas ferramentas. Nós realmente devemos ter uma combinação de intervenções para superar isso”.
Esta matéria foi atualizada em 10 de agosto para esclarecer que a proporção de casos em pessoas vacinadas foi relatada pelos estados durante o período de vários meses.