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A transição energética deixou de ser uma discussão sobre o futuro e passou a ser uma urgência do presente. O avanço das mudanças climáticas já não se limita a relatórios científicos: secas prolongadas, enchentes devastadoras e ondas de calor extremas mostram como a crise ambiental afeta dimensões sociais, econômicas e políticas em escala global.
Nesse cenário, o conceito de transição energética justa ganha força ao ampliar o debate para além da descarbonização. Trata-se de alinhar a redução das emissões com compromissos de inclusão social, geração de empregos e combate às desigualdades, evitando que trabalhadores, comunidades locais e economias inteiras sejam deixados para trás. Para isso, planejamento consistente, investimentos contínuos e inovação tecnológica tornam-se indispensáveis.
A transição energética justa combina descarbonização com inclusão social e redução de desigualdades. A urgência climática já afeta diretamente a estabilidade econômica e energética, reforçando a necessidade de ações coordenadas entre governos, empresas e sociedade civil.
Governos e instituições têm papel fundamental nesse processo, mas as grandes companhias de energia surgem como agentes centrais da transformação. Ao reposicionar modelos de negócio, integrar fontes renováveis e adotar tecnologias de ponta, essas empresas aceleram a construção de uma economia de baixo carbono.
É nessa direção que companhias como a Petrobras têm buscado se reinventar, sinalizando que a transição não deve ser abrupta ou excludente, mas uma oportunidade de criar novos caminhos para o desenvolvimento sustentável, com energia limpa, acessível e inclusiva para todos.
Brasil em busca de liderança na transição energética
Brasil tem recursos para liderar a transição energética global, mas precisa transformar potencial em ação concreta. Modernização, inclusão e regulação forte são cruciais para superar desigualdades e garantir protagonismo internacional.
O país atravessa um momento decisivo. Possui abundância de sol, vento, biomassa e água, além de contar com uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. De acordo com o Balanço Energético Nacional de 2025, cerca de 90% da eletricidade gerada no Brasil veio de fontes renováveis, lideradas por hidrelétricas (54%), seguidas por eólica (12,6%) e solar (7,5%), contra apenas 26% na média mundial. Os números também superam o desempenho médio do G20: segundo a Ember, em 2023, os países do grupo registraram apenas 6,4% em solar e 8,7% em eólica.
Quando se observa a matriz energética total, que engloba eletricidade, transportes, indústria e uso residencial, o Brasil mantém posição de destaque global: em 2024, aproximadamente 50% da energia consumida foi renovável (crescimento de 4,3% da geração renovável de 2023 para 2024), frente a apenas 14% da média mundial, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). Esse diferencial coloca o país em posição privilegiada para avançar de líder potencial a referência efetiva, desde que alinhe políticas, investimentos e inovação tecnológica.
De outro, enfrenta dilemas persistentes: forte dependência das hidrelétricas, vulnerabilidade diante das secas, intermitência das renováveis, limitações em infraestrutura de transmissão, tarifas elevadas e uma regulação com maior potencial de avanços.
As hidrelétricas, que durante décadas garantiram estabilidade, reduziram a sua confiabilidade no estoque de energia fase as mudanças climáticas. Secas geram maior stress hídrico, reduzindo por muitas vezes a capacidade de geração e por outro lado enchentes ameaçam a segurança hídrica. A fonte segue relevante, mas já não sustenta sozinha o sistema interligado nacional (SIN).
Nesse cenário, a expansão das renováveis ganha força. As fontes renováveis ultrapassaram os 40% da geração global de eletricidade em 2024, alcançando um marco histórico, segundo o relatório Global Electricity Review 2025 editado pela Ember, think tank global independente especializado em energia.
A expansão da energia solar segue acelerada: a capacidade instalada fotovoltaica ultrapassou 37 GW em abril de 2024, com crescimento de mais de 65% em relação ao início de 2023. O salto impressiona, mas também levanta alertas: sem investimentos proporcionais em armazenamento, redes inteligentes e tecnologias de flexibilidade, o sistema corre o risco de enfrentar situações de curtailment — quando a geração solar precisa ser deliberadamente reduzida por falta de capacidade de absorção ou transmissão da energia.
Em 2024, na Conferência Anual de Pesquisa do MIT Energy Initiative (MITEI), o diretor William H. Green resumiu o desafio: “Temos que agir mais rápido. Se trabalharmos juntos e transmitirmos à sociedade caminhos reais, poderemos resolver os problemas coletivamente”.
O Brasil, é um país único quando falamos de transição energética. Enquanto Europa, Estados Unidos e países asiáticos avançam em hidrogênio de baixo carbono, energia nuclear, captura de carbono e mobilidade elétrica, o país tem a capacidade de equilibrar o seu protagonismo da indústria de petróleo com a potencial liderança em inovação sustentável. Ainda assim, há sinais encorajadores: no primeiro trimestre de 2025, segundo a ANEEL, foram adicionados 1,7 GW de capacidade instalada, puxada por solar, eólica e pequenas hidrelétricas. A expectativa é chegar a quase 10 GW adicionais até o fim do ano.
Mas a transição energética, alavancada pelos 4 D´s (Digitalização, Descarbonização, Descentralização e Democratização) não é apenas tecnológica ou mercadológica: é também social. Em comunidades da Amazônia e do semiárido, a falta de acesso à energia, bem como os apagões ainda são rotina, reflexo da precariedade da infraestrutura e de sermos um país continental. Ignorar essas desigualdades significa correr o risco de repetir velhas injustiças em um novo cenário energético, perpetuando a exclusão e a pobreza energética.
Para William Nozaki, Gerente Executivo de Gestão Integrada da Transição Energética da Petrobras, o Brasil tem vantagens únicas: “O país pode escolher qualquer rota que quiser. Temos abundância de sol, vento, biomassa, urânio, petróleo e gás, o que nos coloca em uma posição privilegiada para liderar a transição energética”, afirma.
O desafio é transformar esse potencial em liderança efetiva, o que depende de modernizar o setor, atrair investimentos consistentes, fortalecer a regulação e segurança jurídica e garantir inclusão social.
Investimentos em Renováveis e Inovação Tecnológica
O Brasil acelera investimentos em renováveis e inovação para transformar sua matriz energética e atrair capital global. Avançar em regulação, tecnologia e políticas públicas será decisivo para consolidar uma posição de liderança internacional.
Mais do que uma resposta à crise climática, a transição para uma matriz mais limpa, diversificada e eficiente tornou-se um elemento estratégico para o reposicionamento do Brasil como potência energética sustentável. Assim como conquistou protagonismo no agronegócio, o país agora se projeta para assumir liderança em fontes renováveis, inovação e tecnologias de baixo carbono.
Nos últimos anos, a expansão das renováveis ganhou velocidade sem precedentes. Energia eólica onshore, solar fotovoltaica, bioenergia, biocombustíveis e hidrogênio de baixo carbono vêm conduzindo essa transformação. A eólica em terra já é um dos pilares da matriz elétrica, enquanto os primeiros projetos de offshore começam a ser estruturados por empresas como Petrobras, Equinor e Neoenergia, um movimento que pode adicionar até 14 GW de capacidade apenas no Nordeste, colocando o Brasil no radar dos maiores hubs globais de energia limpa.
A viabilização da eólica offshore, no entanto, exige avanços decisivos no marco regulatório. Para Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, o Brasil pode figurar entre os cinco maiores mercados globais até 2040, desde que haja regras claras, segurança jurídica e agilidade nos processos de licenciamento. Um passo importante nesse sentido foi dado em junho de 2024, quando Petrobras e Governo do Estado do Rio de Janeiro firmaram um Protocolo de Intenções para realização de estudos conjuntos sobre um projeto-piloto no estado, sinalizando a intenção da companhia em diversificar sua matriz energética e se preparar para os futuros leilões federais.
A energia solar também está avançando. Segundo a ABSOLAR, o Brasil ultrapassou 40 GW de capacidade instalada em 2024, ocupando a quinta posição no ranking global. Trata-se, atualmente, da fonte que mais gera empregos no setor, puxada pela geração distribuída, que empodera consumidores e pequenos produtores ao integrar produção e consumo no mesmo ambiente. No segmento de biocombustíveis, o Renovabio já movimentou mais de 100 milhões de CBIOs, consolidando o papel do etanol e do biodiesel na descarbonização do transporte. Empresas como Raízen e Atvos intensificam seus investimentos no etanol de segunda geração, que permite aumento da produtividade sem necessidade de expansão da área agrícola.
No campo do hidrogênio de baixo carbono, o Brasil também começa a se destacar. Projetos no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CE) somam potencial de atração de até US$ 8 bilhões em investimentos, mirando a exportação para mercados exigentes como Europa e Japão. Com a energia renovável como insumo e infraestrutura portuária estratégica, o país tem os elementos necessários para se tornar um hub global de produção de hidrogênio verde.
Contudo, a transição energética não depende apenas da construção de usinas e plantas industriais. O avanço tecnológico e a digitalização do setor serão determinantes para viabilizar uma nova matriz. O uso de inteligência artificial, big data, redes inteligentes e sensores permite prever padrões de consumo, integrar fontes intermitentes como solar e eólica e reduzir perdas técnicas. O desenvolvimento de baterias e sistemas de armazenamento ampliará a flexibilidade do sistema e garantirá maior estabilidade, inclusive em regiões remotas.
O governo federal projeta investir mais de R$ 200 bilhões em renováveis até 2028. A Política Nacional de Transição Energética (PNTE), aprovada em 2024, prevê aportes da ordem de R$ 2 trilhões na próxima década, com foco em energia limpa, combustíveis sustentáveis, eletromobilidade e mineração de baixo impacto. Ao mesmo tempo, o setor privado tem ampliado seu protagonismo. Fundos corporativos de venture capital (CVCs), fundos independentes voltados para deep techs e programas de inovação aberta têm aproximado startups, universidades e grandes empresas, encurtando o ciclo entre pesquisa e mercado.
Apesar desses avanços expressivos, o Brasil ainda precisa encurtar a distância em relação às grandes potências. Segundo o relatório Energy Transition Investment Trends 2024 da BloombergNEF, o país liderou os investimentos em transição energética na América Latina em 2023, com US$ 34,8 bilhões, e chegou a US$ 37 bilhões em 2024 — tornando-se o sétimo maior destino global e o segundo entre os mercados emergentes fora da China. Ainda assim, o volume segue distante dos patamares registrados por países como China, que instalou mais de 246,5 GW de energia solar e 97,7 GW de eólica até 2025, ou os EUA, que destinaram US$ 783 bilhões para ações climáticas e energéticas por meio do Inflation Reduction Act. A União Europeia, por sua vez, já ultrapassou a marca de 20 GW de capacidade instalada em eólica offshore.
Para especialistas, o Brasil tem os elementos necessários para ampliar seu protagonismo: abundância de recursos, capital internacional disponível para investimentos verdes e avanços recentes no marco regulatório. No entanto, transformar esse potencial em liderança efetiva dependerá da consistência das políticas públicas, do fortalecimento da governança, da capacidade de inovar e da manutenção de investimentos de longo prazo.
Nesse contexto, William Nozaki, gerente executivo de Gestão Integrada da Transição Energética da Petrobras, resume o desafio: “Trata-se de diversificar o núcleo duro do negócio, o que exige mudanças estruturais profundas. Isso deve ocorrer de forma gradual, com qualificação da força de trabalho e desenvolvimento de novos combustíveis renováveis que cheguem ao consumidor a um preço justo”.
O papel da Petrobras no futuro sustentável do Brasil
“A inovação que queremos é aquela que chega ao território, que melhora a vida das pessoas e amplia oportunidades”, resume Nozaki.
Grandes companhias, públicas e privadas, vêm ajustando suas estratégias para responder à urgência climática sem abrir mão da competitividade e da segurança energética. Nesse cenário de profundas transformações, a Petrobras surge como um exemplo emblemático de reposicionamento. A estatal brasileira tem deixado de atuar como protagonista isolada para se integrar a um esforço coletivo que busca moldar o futuro energético do país.
Como reforça Nozaki, essa mudança precisa ser inclusiva: “Ela não pode descuidar dos trabalhadores, dos consumidores, das comunidades locais onde os projetos vão ser instalados. Essa transição tem que envolver a sociedade, porque, em última instância, se trata de discutir qual é o futuro da oferta de energia para prover o conjunto das nossas necessidades”.
Esse novo direcionamento estratégico se consolidou com a criação do documento “Estratégico 2050” e do “Plano de Negócios 2025–2029”. Ambos os instrumentos têm como objetivo diversificar gradualmente as frentes de atuação da empresa, ampliar investimentos em tecnologias de baixo carbono, reduzir emissões e criar soluções sustentáveis com impacto global. Trata-se de um movimento que busca transformar a Petrobras em uma empresa energética completa, sem perder seu protagonismo internacional nem comprometer a geração de valor.
O reposicionamento ganhou fôlego renovado em junho de 2024, quando Magda Chambriard assumiu a presidência da companhia. Em suas primeiras declarações públicas, ela reforçou que a Petrobras deve atuar como “líder brasileira da transição energética justa e inclusiva”. A declaração não apenas sinalizou a manutenção do novo plano estratégico como também reafirmou o papel ativo da empresa na coordenação dos esforços rumo a um futuro energético mais sustentável e equilibrado.
Meses depois, em entrevista ao Financial Times, Chambriard foi enfática ao defender que a Petrobras deve ser “o mais ampla possível” para garantir seu futuro de longo prazo. Isso significa ampliar sua presença em frentes como energia offshore, biocombustíveis, fertilizantes, hidrogênio de baixo carbono e soluções integradas de energia. Essa abordagem multissetorial é prepara a companhia para um novo ciclo de crescimento econômico alinhado aos compromissos ambientais.
Como prova concreta dessa ambição, o orçamento de capital da empresa foi elevado a US$ 111 bilhões para o ciclo de cinco anos. Desse total, US$ 16,3 bilhões serão destinados diretamente à agenda da transição energética — um volume expressivo que posiciona a Petrobras como uma das estatais que mais investem em baixo carbono no mundo. O movimento aponta para uma nova lógica de atuação, em que inovação, responsabilidade social e sustentabilidade caminham juntas rumo à transformação da matriz energética brasileira e ao fortalecimento da posição do país no cenário internacional.
Investimentos da Petrobras em sustentabilidade, inovação e inclusão
O Brasil tem potencial para liderar globalmente a transição energética, e a Petrobras pode ser motor dessa transformação integrada e justa. Mais do que tecnologia, esse movimento envolve compromissos sociais e ambientais que conectam inovação, comunidades e preservação.
Nesse sentido, a companhia vem ampliando sua atuação por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que reúne iniciativas em educação, desenvolvimento sustentável, florestas e oceano, sempre com foco em direitos humanos, inovação e inclusão social. Entre os projetos estão o Trilhas Solidárias, o Territórios em Ação e o Semeando o Bem Viver, que incentivam a geração de renda, a agroecologia e a economia solidária em comunidades locais. Já o Qualifica Ouro Verde promove capacitação profissional voltada para a sustentabilidade.
No campo ambiental, o compromisso se reflete em iniciativas como o Florestas de Valor, que incentiva o manejo sustentável de produtos amazônicos, aliando conservação, geração de renda e valorização de saberes tradicionais. Projetos como o Albatroz, voltados para a preservação de aves oceânicas, reforçam essa agenda de conservação marinha. Segundo a empresa, milhares de estudantes já participaram dessas ações educativas, ampliando o alcance da transição energética para além das usinas e tecnologias, até o cotidiano das comunidades.
Quanto a inovação, a Petrobras também fortalece essa agenda, com investimentos em pesquisa, desenvolvimento e novas tecnologias, tanto na cadeia de óleo e gás quanto em energias renováveis. Entre os destaques está o programa “Conexões para Inovação da Petrobras”, que iniciou em 2019, e articula parcerias com universidades, startups, instituições de ciência e tecnologia e empresas inovadoras, com foco em soluções de baixo carbono, energias renováveis, eficiência energética e redução de emissões. Atualmente, mantém mais de 70 parcerias vigentes e um investimento contratado superior a R$ 300 milhões.
Em junho de 2025, a Petrobras anunciou, em parceria com a Finep e o BNDES, a criação de um dos maiores fundos de Corporate Venture Capital (CVC) do setor de energia, com aporte potencial de até R$ 500 milhões — sendo até R$ 250 milhões da própria estatal — voltado ao investimento em startups e pequenas empresas que atuam com energias renováveis, eletro mobilidade, armazenamento, captura de carbono e descarbonização industrial, com o objetivo de fortalecer o ecossistema de inovação e acelerar a maturidade tecnológica do setor energético nacional.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirma que o fundo de CVC estimulará novas ideias e modelos de negócios inovadores, aproximando ainda mais a companhia do ecossistema de inovação e reafirmando sua liderança na transição energética justa. “Ter parceiros experientes nesta construção, como BNDES e Finep, traz mais solidez para esta ação”, ressaltou (Petrobras, 2025).
Paralelamente, a Petrobras tem acelerado a modernização de suas operações. O Programa RefTop, lançado em 2021, prevê investimentos bilionários até 2030 para aumentar a eficiência das refinarias e reduzir emissões. Além disso, dados da Agência Internacional de Energia mostram que o pré-sal brasileiro é hoje referência mundial em captura e reinjeção de CO₂ (tecnologia HISEP), com a Petrobras registrando o maior volume anual do planeta. Essas iniciativas sustentam metas como atingir Near Zero Methane até 2030 e Net Zero até 2050, conforme anunciado pela companhia.
Nesse caminho, Nozaki reforça que a transição energética é um “fenômeno inequívoco” e que, embora “tenha vindo para ficar”, seu ritmo “traz incertezas e exige planejamento”. Para ele, “não é uma corrida de 100 metros, mas uma maratona”, o que fundamenta o compromisso da Petrobras em manter investimentos consistentes em renováveis e baixo carbono, mesmo diante das oscilações do cenário global.
Ao integrar inovação tecnológica, responsabilidade socioambiental e metas ambientais de longo prazo, a Petrobras mostra que pode ser parte da solução na transição energética. No fim, o futuro energético do Brasil dependerá da capacidade de alinhar políticas públicas de longo prazo, inovação tecnológica e inclusão social.