O motivo pelo qual seu iPhone 17 pode vir com uma bateria reciclada
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O motivo pelo qual seu iPhone 17 pode vir com uma bateria reciclada

A Apple irá usar cobalto 100% reciclado em suas baterias a partir de 2025. Veja por que fabricantes de carros não farão anúncios semelhantes tão cedo.

O que você encontrará neste artigo:

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As novas baterias para veículos elétricos superam em muito a disponibilidade de materiais reciclados

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Meu celular é praticamente uma extensão do meu braço a essa altura. Para ser sincera, tenho sentimentos conflitantes quanto a isso, e não apenas porque me preocupo pelo que estar online 24 horas por dia está fazendo com meus neurônios.

Como talvez você saiba, baterias de íon de lítio alimentam a maior parte de nossos eletrônicos pessoais hoje em dia. Minerar os metais que compõe essas baterias pode significar muita poluição, além de condições perigosas para os trabalhadores. Todos esses problemas estão se acumulando enquanto usamos lítio e diversos outros materiais, não apenas em nossos telefones e notebooks, mas em veículos elétricos também.

A boa notícia é que, como já escrevi antes, um número cada vez maior de grupos está trabalhando para garantir que baterias sejam recicladas e alguns desses esforços estão se tornando padrão.

A Apple anunciou que suas baterias irão utilizar cobalto 100% reciclado a partir de 2025. Acho que esse anúncio diz muito sobre onde está e para onde vai a indústria de reciclagem de baterias. Então, vamos mergulhar na promessa de reciclagem da Apple.

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Obviamente existe uma enorme variedade de materiais em telefones e computadores, e o anúncio de reciclagem da Apple não é apenas sobre cobalto. A empresa também disse que, até 2025, planeja usar terras-raras recicladas em seus imãs (como aqueles que ajudam no carregamento sem fio de relógios e telefones), bem como materiais reciclados para a solda de estanho e o revestimento de ouro usados em suas placas de circuito.

Mas provavelmente não é por acaso que o cobalto é o item em destaque. Esse metal se tornou uma espécie de ícone de todos os potenciais danos que a mineração pode causar em nome da economia das energias limpas. É um dos ingredientes principais das baterias de íon de lítio e, hoje, o cobalto é minerado em grande parte na República Democrática do Congo, onde a atividade está ligada a abusos de direitos humanos, como trabalhos forçados. Há uma grande matéria do jornal New Yorker sobre isso, de 2021, além de um novo livro, se você quiser saber mais.

Em 2022, a Apple já usava cerca de 25% de cobalto reciclado em suas baterias, um aumento em relação aos 13% do ano anterior. E como o novo anúncio aponta, em poucos anos, todo o cobalto em todas as “baterias projetadas pela Apple” virão de fontes recicladas. Uma observação rápida: eu tentei entrar em contato com a Apple para perguntar o volume total de cobalto que isso representaria, além de tirar algumas outras dúvidas sobre a novidade. A empresa ainda não me deu retorno.

Decidi pesquisar um pouco mais sobre esse anúncio em razão de uma tendência com qual me deparei em minha última reportagem sobre reciclagem de baterias – não existem de baterias suficientes sendo recicladas para suprir a demanda por materiais reciclados.

Andando em círculos

Em termos de materiais para energia limpa, muitas pessoas falam sobre uma “economia circular” na qual baterias retiradas de veículos elétricos antigos podem ser usadas para fazer novas com zero (ou muito pouca) mineração de novos materiais. Para que isso aconteça, seriam necessárias tantas baterias saindo de circulação quanto entrando. E definitivamente não é esse o caso.

Caso você não saiba, veículos elétricos estão em alta. Em 2017, pouco mais de 1% dos novos veículos vendidos no mundo eram elétricos. Apenas cinco anos depois, em 2022, esse número subiu cerca de 13%, de acordo com Agência Internacional de Energia. Provavelmente vamos continuar vendo mais veículos elétricos na estrada a cada ano por um bom tempo, especialmente à medida que países do mundo todo aprovam novas políticas de incentivo.

A rápida adoção de veículos elétricos é uma ótima notícia para a ação climática, mas está causando uma dinâmica complicada para recicladores de baterias.

Baterias podem durar mais de uma década em um veículo e continuar em uso por ainda mais tempo se acabarem recebendo uma segunda vida em armazenamento de energia estacionário. Assim, a bateria de um veículo elétrico leva até 15 anos para ficar disponível para reciclagem, na maioria dos casos. Olhando 15 anos para trás, em 2008, o Tesla Roadster tinha acabado de entrar em produção e a empresa fabricou apenas umas poucas centenas de unidades ao ano pelos primeiros dois anos. Resumindo: não há muitos veículos elétricos saindo de circulação por serem velhos no momento, e não haverá por um bom tempo.

Assim, como o mercado de veículos elétricos continua a crescer exponencialmente, teremos uma escassez de material reciclado. Se todos os produtores de veículos elétricos e celulares quisessem usar apenas cobalto reciclado, por exemplo, não haveria o suficiente.

As novas baterias para veículos elétricos superam em muito a disponibilidade de materiais reciclados 

A produção de baterias para veículos elétricos está explodindo: o total de baterias de íon de lítio produzidas para veículos leves pode chegar a 12 milhões de toneladas até 2030. Enquanto isso, menos de 200.000 toneladas de baterias para o mesmo tipo de veículo estarão disponíveis para reciclagem até essa data. 

Apesar dessa lacuna preocupante, existem algumas razões pelas quais a Apple provavelmente pode cumprir sua promessa de cobalto reciclado, diz Hans Eric Melin, diretor da Circular Energy Storage, empresa de consultoria especializada em reciclagem de baterias.

Em primeiro lugar, dispositivos móveis têm sido alimentados por baterias de íon de lítio há décadas. Graças à câmera antiga do seu pai ou ao seu celular flip Motorola V3, de 2006, existe pelo menos um pouco de cobalto reciclado disponível no mercado hoje em dia.

E o aspecto econômico de usar materiais reciclados acaba sendo bem diferente para dispositivos pessoais e para carros. Por causa de seu tamanho, uma bateria de veículo elétrico pode representar quase 40% do custo do veículo, diz Melin. Não é esse o caso com dispositivos como um celular, então uma empresa como a Apple provavelmente será capaz de pagar um pouco mais por materiais de bateria reciclados sem que isso afete o preço do dispositivo como um todo.

Então seu iPhone em 2025 (pelas minhas contas, esse deve ser o iPhone 17) poderia ser feito usando cobalto de fontes recicladas. Veículos podem demorar um pouco mais: as baterias de veículos elétricos são maiores e há uma quantidade menor de baterias velhas prontas para uma nova vida. Mas estamos, aos poucos, nos aproximando de um mundo no qual podemos reutilizar mais dos materiais encontrados na tecnologia que conhecemos e amamos.

Leituras relacionadas:

A reciclagem de baterias foi uma de nossas 10 Tecnologias Inovadoras de 2023.  Veja esse item da lista, bem como meu mergulho profundo na tecnologia.

Eu conversei com J.B. Straubel, antigo CTO da Tesla e fundador da empresa de reciclagem de baterias Redwood Materials. Veja aqui o que ele tinha a dizer sobre os desafios futuros para as baterias.

Mais uma coisa

Os esforços para desacelerar as mudanças climáticas e para adaptação ao que já vem acontecendo são complicados e difíceis. E se pudéssemos tentar também neutralizar um pouco do aquecimento global que já causamos? Alguns pesquisadores dizem que essa é uma ideia intrigante que merece, no mínimo, ser investigada.

A Geoengenharia é um tema compreensivelmente controverso, visto que esforços em grande escala, ou mesmo tentativas de estudar os potenciais efeitos, poderiam mudar a vida de pessoas do mundo todo. E o que é bom para uns pode não ser bom para todos. À medida que os debates avançam, alguns grupos estão trabalhando incluir mais vozes na conversa, especialmente as vindas de nações em situação de vulnerabilidade climática, que são, possivelmente, as mais interessadas.

Meu colega James Temple deu uma olhada em alguns dos grupos que buscam envolver mais pessoas na conversa sobre geoengenharia. Veja aqui a matéria perspicaz escrita por ele para saber mais.

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Acompanhando o clima

A Agência de Proteção Ambiental norte-americana lançou novas regras, semana passada, que irão limitar as emissões de novos veículos vendidos nos EUA a partir de 2027. A política é mais um grande incentivo aos veículos elétricos. O problema é que o país não está produzindo carregadores com a velocidade necessária. Veja aqui o que as novas regras podem significar e como a infraestrutura de carregamento precisará evoluir para acompanhar. (MIT Technology Review)

Hoje somos capazes de construir mais estruturas resistentes a incêndios do que antigamente e especialistas em planejamento urbano têm mais estratégias para abrandar as chamas. Mudar a forma como as pessoas reagem a incêndios pode ser a parte mais difícil da adaptação. (MIT Technology Review)

O carregamento de veículos elétricos foi um tema constante de discussão em um dos maiores shows de automóveis dos EUA, realizado em Nova York. (Canary Media)

Eu acho bombas de calor fascinantes, mas a maioria das pessoas as acham meio… sem graça. Três estúdios de design oferecem um novo ponto de vista. (Bloomberg)

→ Descubra mais sobre como bombas de calor funcionam. (MIT Technology Review)

O hidrogênio pode ser uma ferramenta na luta contra as mudanças climáticas, ou deixar as coisas ainda piores. Essa é uma excelente análise de como os detalhes importam no que diz respeito a esse combustível. (New York Times Opinion)

Baterias de íon de lítio podem dar suporte para fontes renováveis, como a eólica e a solar, armazenando energia para quando necessário. Mas algumas comunidades têm medo do que acontece se as instalações de armazenamento de energia pegam fogo. (Inside Climate News)

A energia de fusão pode estar no caminho para se tornar realidade. Mas mesmo que vejamos usinas elétricas à fusão neste século, elas provavelmente não fornecerão a energia barata e ilimitada com a qual todos sonhamos. (Wired)

→ Veja aqui o que está realmente acontecendo com a energia de fusão. (MIT Technology Review)

Esta startup tem uma nova forma de gerar eletricidade usando água: em vez de construir barreiras de concreto gigantes ou perturbar ecossistemas de rios, ela propõe a construção de sistemas hidroelétricos em canais. (Associated Press)

Texas lidera estados americanos na geração de energia renovável. Mas uma nova legislação pode atrapalhar o progresso. (Inside Climate News)

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