O fator mais superestimado no empreendedorismo
Negócios e economia

O fator mais superestimado no empreendedorismo

Uma iniciativa de sucesso não se baseia na ideia original, mas sim na execução disciplinada e na qualidade da sua equipe.

Em 2013, escrevi um artigo simples para a Forbes sobre as “Seis grandes mentiras contadas sobre os empreendedores”, mas, parando para pensar agora, deixei de fora o maior mito de todos sobre o empreendedorismo em si. A crença mais superestimada, mais comum, sobre o empreendedorismo é que a ideia é fundamental. 

Sim, uma ideia é necessária, mas é muito menos importante do que a disciplina e o processo adotado para persegui-la. E, curiosamente, tudo isso é ainda menos importante do que a qualidade da equipe fundadora. 

A crença de que a ideia é importante torna-se invalidada quando você trabalha com empreendedores de sucesso e começa a ver um padrão comum surgir, que é como uma ideia original se transforma e evolui ao longo do tempo enquanto a equipe faz uma pesquisa de mercado primária e começa a se concentrar nas necessidades do cliente, em vez de seu momento eureca inicial. Essa observação é corroborada por uma pesquisa de 2015 do professor Matt Marx, do MIT, resumida em “Shooting for Startup Success? Take a Detour”, mostrando que, para empreendedores de sucesso, a ideia com a qual começaram originalmente, raramente é a mesma com a qual acabaram tendo êxito. 

A ideia de um mecanismo de busca melhor não era novidade antes do surgimento do Google, o que significa que sua criação de valor estava toda na execução de alta qualidade. Da mesma forma, o conceito de um carro elétrico não era novo quando Elon Musk fundou a Tesla, mas experimentou um sucesso sem precedentes, enquanto outros antes e depois falharam. É o mesmo para o smartphone e a Apple. 

Eu sei que em minhas empresas acabamos em lugares muito diferentes de onde pensávamos. Com uma, a SensAble Technologies, pensamos que seríamos uma empresa de simulação médica e acabamos sendo uma empresa de design industrial. Outra empresa extremamente visível do MIT, a E*Ink, começou focada em telas de tinta digital para lojas de varejo, depois mudou para telas de celulares de baixa potência e finalmente obteve sucesso em meio a leitores eletrônicos como o Kindle e, posteriormente, com o amplo mercado de ecrãs de papel eletrônico. Repetidas vezes, o sucesso não se baseia na ideia original, mas sim na execução disciplinada e na qualidade da equipe fundadora. 

Na verdade, é perigoso ficar muito apegado à ideia original e não às necessidades e desejos do cliente. Muitas vezes, o resultado é que os empreendedores sentem que precisam estar no “modo furtivo” para poderem construir sua ideia antes que alguém possa “roubá-la”. 

Se você possui propriedade intelectual fundamental, essa estratégia é recomendada até que você tenha a chance de patentear os elementos-chave de sua inovação. No entanto, é essencial sair e conversar com os clientes para não acabar como Dean Kamen, que se escondeu em New Hampshire (EUA) com seu projeto secreto de codinome “Ginger, que também ficou conhecido como “It”. Uma enorme expectativa foi criada em torno de “It”. O produto, o Segway, foi finalmente lançado e, como demonstrou a fraca adoção pelo consumidor, ficou claro que o projeto teria se beneficiado de uma validação da ideia se tivesse sido muito mais aberto e muito menos sigiloso. 

Como um ex-aluno, Andy Campanella, disse aos alunos em nossa aula introdutória de empreendedorismo no MIT: “Se você encontrar alguém em uma cafeteria e essa pessoa roubar sua ideia e ganhar de você com outra empresa com base em sua ideia em uma conversa de 15 minutos, então você merece perder e não tinha muito para começar”. Ou, como diz Dharmesh Shah , “o sigilo não é saudável.” 

Em meu livro Disciplined Entrepreneurship, apresento uma estrutura para uma abordagem metódica para startups que pode ajudar a orientar os empreendedores no processo de renovação de suas ideias. Mas, para realmente mergulhar em como construir uma equipe forte e também para aprender sobre a importância de uma cultura unificadora, recomendo o livro seminal do professor Noam Wasserman, da Harvard Business School, The Founder’s Dilemmas, e também o artigo que escrevi em TechCrunch intitulado “Culture Eats Strategy for Breakfast”. 

Então, da próxima vez que você ouvir um empreendedor ficar excessivamente empolgado com sua ideia inovadora, pisque para ele e diga que, embora ele precise de uma ideia para começar, seu foco deve estar nas pessoas e no processo porque, no final, esses dois são o que determinará o sucesso ou o fracasso do negócio dele, e não a ideia. 


Managing Director of the Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship at MIT.

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