Liberdade para as ideias, para a inovação. É dessa forma que, de uns anos para cá, temos assistido, em todo o mundo, as grandes corporações repensarem o modo como fazem pesquisa e desenvolvimento (P&D). Antes, fechadas em laboratórios e salas. Agora, de portas abertas para as melhores oportunidades, para a troca com empresas e startups.
Se em um mundo cada vez mais interconectado e repleto de transformações a inovação era necessária, hoje, diante de uma das maiores pandemias da história, a adoção de um modelo disruptivo passou a ser vista como um plano de sobrevivência no mercado para a era do pós-Covid.
Não à toa, o conceito da inovação aberta passou a entrar na pauta das principais corporações mundiais. E o Brasil tem atuado amplamente para cruzar a fronteira do Open Innovation. Mas, para entender toda essa mudança de valores é necessário, primeiro, entender de fato o que é esse novo modelo de inovação.
O conceito de inovação aberta foi criado pelo professor Henry Chesbrough, da Universidade de Berkeley, na Califórnia. A ideia é que o processo inovador esteja aberto para a contribuição de diversos agentes de fora da organização, seja por meio de empresas, governos, universidades, centros de pesquisas e startups.
Grandes corporações passaram a convidar para seus próprios laboratórios o olhar fresco e a mente aguçada de jovens em startups. A ideia é identificar necessidades e testar produtos e serviços o quanto antes. Executivos perceberam que a colaboração passou a valer ouro e a ditar os rumos da inovação em uma infinidade de novos modelos de negócios.
Cruzando a fronteira: mudança de mindset
Mas, por que é importante cruzar a fronteira e mudar o mindset para o open innovation? A combinação de ideias internas e externas (de fora para dentro da empresa, e vice-versa) é fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias, processos e produtos. Tal mudança de paradigma atua exatamente nesse ponto: a partir do momento em que sua empresa cruza as fronteiras da inovação, trabalhando de maneira colaborativa, o ecossistema como um todo sai ganhando.
Ainda assim, em muitas empresas, esse tipo de forma descentralizada, distribuída e participativa em inovação continua sendo uma ambição que ainda não se tornou realidade.
A dificuldade em conseguir atuar de acordo com esse conceito de inovação está exatamente pela compreensão e adoção das parcerias. Para adotar o modelo, a companhia deve considerar a cooperação com instituições de pesquisa, universidades, os usuários de seus produtos e, até mesmo, concorrentes e fornecedores. A chave do sucesso é agregar valor – quanto mais pessoas envolvidas no processo, mais trocas são realizadas.
E se a chave para a real adoção da inovação aberta está na realização de parcerias, como buscar um parceiro? E, agora, diante da crise econômica global endurecida pela pandemia do novo coronavírus, como organizar uma parceria que não exija tantos custos?
Embora desafiadora, a busca por parceiros estratégicos traz ainda mais benefícios em um momento de crise como a que vivemos pela pandemia. Isso porque os parceiros somam habilidades complementares essenciais ao negócio, fazendo com que os primeiros gastos para a execução se transformem em investimento diante dos ganhos que podem trazer para o ecossistema como um todo.
Isso faz com que os tomadores de decisões das companhias encontrem novas maneiras de resolver problemas urgentes e, ao mesmo tempo, estejam aptos a construir uma reputação positiva. Ainda é possível que a troca criada sirva de base para uma colaboração futura, em linha com pesquisas sociológicas e que impactem não apenas nos negócios das empresas, mas na sociedade como um todo.
Vimos ganhos enormes quando a alemã Siemens, a Scania, a Ford, a GE, a 3M e tantas outras gigantes em seus setores abriram as portas de seus laboratórios para que, juntos, construíssem mais respiradores, aparelhos e pensassem em soluções que pudessem amenizar e até mesmo diminuir a perda de vidas em todo o mundo por causa da pandemia do coronavírus. Um trabalho coletivo, importante, colaborativo e que não deve ser levado em conta apenas em momentos de crise.
Devemos aproveitar essa explosão de inovação aberta para ampliar o espaço para criação de valor. Resolver antigos ou novos problemas e ainda construir uma reputação positiva. Os desafios, claro, continuam sendo enormes. Sobretudo quando o tema é tecnologia, mas o ganho compensa.
A pergunta que sempre me faço neste novo cenário é: as empresas estão mesmo preparadas para este salto? Não tenho como responder por todas, mas posso garantir que deveriam estar preparadas ou, ao menos, correndo para dar conta deste novo cenário.
Só em 2019 foram investidos R$ 12,9 bilhões em startups no Brasil e US$ 4,6 bilhões na América Latina. Dados do Distrito, hub de inovação para startups, mostram que entre janeiro e setembro de 2020 o investimento em startups no Brasil chegou a R$ 12,3 bilhões. Recentemente empresas como a Bayer e Unilever lançaram projetos de inovação aberta no país visando colher os frutos desse momento fértil.
São válidas todas as preocupações com propriedade intelectual, retorno sobre investimentos e outras variantes que a inovação aberta pode trazer, mas o momento da humanidade é outro. Devemos focar mais na criação de valor do que na captura de valor. As empresas que forem mais inteligentes vão abrir mão de algum controle e focar na produtividade e no ganho de escala das soluções advindas de parcerias.
As novas colaborações exigem algum custo de validação e conformidade, mas também trazem novas habilidades e perspectivas diferentes, complementares. Aos que quiserem entrar neste universo e se sentirem preparados para dar este salto, recomendo a contratação de especialistas que possam observar as oportunidades no mercado e buscar as melhores parcerias. Afinal, boas ideias não faltam, mas é preciso ter discernimento para saber diferenciar aquelas que podem, de fato, ajudar a impulsionar novos negócios. A inovação aberta requer mudanças culturais, operacionais e estruturais nos negócios. É um caminho sem volta, mas que levará sua empresa ao topo da inovação.