Modelo de negócio compartilhado gera eficiência e economia em saúde
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Modelo de negócio compartilhado gera eficiência e economia em saúde

Operadoras de planos de saúde de autogestão se uniram para prestar serviço único com foco em medicações de alto custo. O modelo de negócio se expande em Minas Gerais e chama atenção no mercado.

Cooperação: ato ou efeito de colaborar, auxiliar. A história atesta que essa capacidade foi determinante para o desenvolvimento do Homo Sapiens e do domínio da espécie sobre outras: o ser humano consegue criar comunidade e trabalhar conjuntamente de maneira singular, diferente de qualquer outro animal do planeta. Na saúde suplementar, essa regra basilar tem sido revisitada de maneira estratégica para garantir a sobrevivência em um momento de grandes desafios de sustentabilidade financeira.

Um dos exemplos concretos vem de Minas Gerais, da experiência inicial de três operadoras de autogestão que tinham um objetivo comum: melhorar custos operacionais. O plano de farmacoeconomia, contudo, também presava por não renunciar a um atendimento de valor agregado para o beneficiário, e assim nasceu o CIC — Centro de Infusão Compartilhado.

“Nós já tínhamos um histórico de compartilhamento de serviço em clínicas de atenção primária aqui em Minas Gerais, especialmente para o interior, e observamos que estávamos conseguindo levar um serviço de qualidade viabilizando economia. Disso surgiu a ideia de fazer um centro de infusão, uma clínica que fosse direcionada a atender o processo de medicações infusionais”, conta a gestora do Serviço de Medicina Preventiva do Centro de Promoção de Saúde da FUNDAFFEMG, Flávia Magalhães Alves.

O CIC oferece a aplicação de medicamentos que precisam de acompanhamento médico, ou seja, com foco em doenças com tratamentos de alto custo. Além da FUNDAFFEMG, as operadoras CEMIG SAÚDE e COPASS SAÚDE estiveram juntas na concepção do modelo de negócio. Flávia esteve envolvida durante todo o processo e relata que cada operadora estudou sua demanda, fazendo um levantamento de pacientes elegíveis e de patologias atendidas para conseguir mensurar custos. Nesta etapa, ainda foram desenvolvidos protocolos de atendimento e foi determinada a definição dos medicamentos disponibilizados, assim como os tipos de infusão. Tendo todas as informações mapeadas, a clínica foi aberta em um sistema de divisão em cotas por porcentagem: se uma das operadoras tem 14% do público atendido, então ela será responsável por 14% do custeio.

Um ano de economia

Os estudos para a criação do CIC começaram em 2022 e o serviço começou a operar em janeiro de 2023. Segundo Flávia Alves, que é autora de uma análise de farmacoeconomia — a partir da coleta de dados da experiência —, a economia total gerada em um ano de funcionamento, com mais de 1800 atendimentos a 137 pacientes, foi de mais de R$500 mil.

Em grande parte, esse resultado é creditado à redução de 31% no custo de compra dos medicamentos. “O poder de compra ficou diferenciado, porque antes eu comprava, por exemplo, para 25 beneficiários; hoje, eu compro para 500, então o custo da medicação também melhorou. Isso em oncologia faz diferença, nas doenças imunológicas faz muita diferença”, avalia a gestora.

O trabalho foi vencedor do Prêmio Saúde UNIDAS 2023, uma ação da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde para incentivar a produção de estudos científicos que mostrem casos práticos de assistência inovadora, de qualidade aos beneficiários de planos de saúde. O modelo de negócio vem chamando a atenção para além do estado de Minas Gerais, com o ingresso de novas operadoras no CIC (que já conta com cinco parceiras atualmente), inclusive de grande porte, como a CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil), que é nacional. Também existe o interesse de operadoras filiadas à UNIDAS para replicar a experiência em outras regiões do país, como no Ceará. A própria FUNDAFFEMG estuda utilizar o modelo de negócio para criar uma clínica compartilhada para atender crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“A experiência tem sido muito enriquecedora. Tudo é compartilhado, todas as decisões são compartilhadas. Nós dividimos tanto as dificuldades quanto os acertos. Isso trouxe um amadurecimento muito importante no cuidado do paciente. Conseguimos trazer um modelo de negócio diferente para a autogestão. Eu tenho a parte econômica, que é importante em um momento de sustentabilidade, mas tenho também a parte assistencial, consigo entregar uma assistência de excelência e ainda consigo economizar”, destaca Flávia.

Foco no paciente

O CIC começou a operação com dez pacientes. Chegar em 137 foi uma tarefa de busca ativa, conquista e fidelização fundamentada na criação de vínculos e na escolha de ofertar um serviço de qualidade. “O paciente para de ter como referência o prestador e começa a ter como referência a operadora de saúde. São pacientes que têm medicação de longa permanência por toda a vida e que já vinham tendo essa medicação em prestadores nossos. Para tirar ele desse prestador, tivemos que oferecer um atendimento muito melhor, um cuidado mais efetivo para que ele tivesse interesse em mudar. Hoje, temos um retorno muito positivo, os pacientes dizem que não vão para um lugar só para tomar uma medicação, que eles se sentem cuidados naquele lugar”, analisa a gestora.

A assistência fornecida pelo CIC contempla uma equipe multidisciplinar com enfermeiros, médicos, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos. O cuidado no atendimento é visto como fator decisivo para o crescimento da clínica e posteriores impactos econômicos positivos em toda cadeia.

Flávia, que é antes de tudo psicóloga, ressalta que encontrar alternativas sustentáveis economicamente não precisa estar dissociado do olhar especial para quem está sendo cuidado, pelo contrário. “Com tudo que está vindo de novas medicações de alto custo, se não buscarmos alternativas, não permanecemos no mercado. Precisamos de economia, mas como fazer isso sem perder o cuidado individualizado? É imprescindível tornar a jornada do paciente a melhor possível”.

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