MIT REAP e a construção do “lago artificial” da inovação
Inovação

MIT REAP e a construção do “lago artificial” da inovação

Em um mundo onde inovar é cada vez mais uma questão de sobrevivência, se mudar para um i-ecossistema relevante ou contribuir para a construção de um no seu entorno é cada vez mais uma ideia que não pode ser ignorada.

Nas duas colunas anteriores, entendemos a importância dos i-ecossistemas e o papel dos principais atores que o compõem. Nesta última coluna da trilogia dos i-ecossistemas vamos tratar das origens e conceitos que nos trouxeram até aqui, de alguns exemplos nacionais e internacionais de sucesso, e de uma das experiências mais estruturadas de construção de i-ecossistemas do Brasil: o MIT REAP Rio de Janeiro, que usa a metodologia do Programa de Aceleração de Regiões Empreendedoras do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Para começar, falemos sobre inovação aberta, conceito que serviu de base para entender os i-ecossistemas e que foi elaborado em pelo professor Henry Chesbrough da Universidade da Califórnia/Berkeley em 2003, no mesmo período em que o próprio Vale do Silício começava a ter a formatação que vemos hoje.

Inovação aberta e os i-Ecossistemas

O psicólogo Leon Festinger define como dissonância cognitiva o estado de desconforto emocional causado pela percepção de que vivemos com certas opiniões, comportamentos e crenças que coexistem mesmo em contradição. Tomar a decisão de investir na formação de um i-ecossistema é um aparente caso deste fenômeno para a maior parte das instituições envolvidas no processo.

No paradigma das inovações fechadas, que ainda domina o modo de pensar de parte das práticas empresariais e governamentais, não faria muito sentido investir em recursos humanos ou materiais que não estejam estritamente sob seu controle. Esse pensamento se reflete, na prática, através de diversos aspectos do processo de inovar como cláusulas de não-competição, cláusulas de exclusividade, propriedade intelectual, segredo industrial, etc. Porém, no cenário das inovações abertas essas certezas não são mais tão absolutas. Em um mundo cada vez mais colaborativo e integrado, tentar controlar tudo pode significar um enorme custo de gestão e também a perda de grandes oportunidades.

Se o jogo das inovações fechadas era focado na criação de valor, o das inovações abertas possui um forte componente focado na captura de valor. Vejam as empresas-plataformas como Facebook, Youtube, Uber, Airbnb, Apple entre outras. Elas foram hábeis em criar modelos operacionais capazes de capturar boa parte do valor gerado por atores que estão fora das fronteiras de suas organizações. A maior parte do conteúdo do Facebook e do Youtube não é criado por eles. Assim como o Uber e o Airbnb não são os donos dos automóveis e apartamentos disponíveis em suas plataformas. Ou a Apple, que não é a desenvolvedora da maior parte dos aplicativos disponíveis em sua loja Apple Store. Todas elas encontraram diferentes formas de capturar parte do valor gerado por agentes externos gerando ganhos mutuamente benéficos.

Da mesma forma que essas empresas ganham valor criando e desenvolvendo comunidades em suas órbitas, o oposto ocorreria em casos de desengajamentos em massa. Se os desenvolvedores parassem de se interessar em desenvolver aplicativos para iOS, a Apple certamente perderia grande parte do seu valor. Se as pessoas parassem de postar conteúdo no Facebook ou vídeos no Youtube, essas plataformas teriam pouquíssimo valor. Assim como seria se os motoristas parceiros desistissem do Uber ou os proprietários de imóveis desistissem do Airbnb.

E o que isso tem a ver com os i-ecossistemas? Tudo! As empresas citadas, assim como universidades de ponta e governos que pensam globalmente, sabem da importância de criar e manter um ambiente profícuo não apenas para si, mas para os outros grupos de interesse que formam a sua rede de geração e captura de valor. No documentário The Last Dance, sobre o lendário time de basquete do Chicago Bulls na década de 1990, seu astro maior, Michael Jordan, exalta sistematicamente a importância de que todo o time treine ao máximo e alcance seu máximo potencial. Ele não faz isso apenas porque é uma pessoa altruísta e preocupada com o próximo. Ele faz isso pois sabe que se o restante do time não tivesse evoluído junto com ele, ele não teria sido capaz de realizar tudo que realizou como profissional.

Para um governo de uma região ser considerado próspero, ele deve ser capaz de atrair investimentos e gerar empregos e oportunidades para seus habitantes e suas empresas. Para uma empresa ser bem-sucedida, ela deve poder conseguir contar com os profissionais mais qualificados em seus quadros e assim superar seus concorrentes. Para uma universidade de ponta cumprir seu papel fundamental, seus estudantes devem conseguir bons empregos e/ou alcançar posições acadêmicas de destaque ao terminarem seu ciclo nela.

Como fora mencionado anteriormente, em um i-ecossistema bem-sucedido, há uma interdependência natural e saudável entre os atores que o compõem. Voltando novamente a falar do setor de energia, tal fato fica evidente até mesmo através dos perfiis dos empreendedores. Em uma pesquisa inédita realizada conjuntamente pelo LabrInTOS/COPPE/UFRJ, FGV/EAESP, EDP e ABStartups com recursos da ANEEL foi identificado que o perfil majoritário dos empreendedores no setor é formado por pesquisadores de universidades e/ou institutos de pesquisa ou por ex-executivos. Ou seja, a formação do i-ecossistema e integração dos stakeholders é realizada predominantemente pelas próprias pessoas físicas que hoje formam o setor. Logo, se uma das pontas ficar para trás, é fundamental que as demais estejam conscientes de que esta limitação externa também será uma limitação para seu próprio desenvolvimento.

Além do Vale do Silício: as Biotechs da Kendall Square e as Fintechs de São Paulo

No Vale do Silício é possível perceber facilmente a importância do governo pró-inovação dos EUA e da Califórnia, de universidades de ponta como Stanford e UC Berkeley, de fundos visionários como Sequoia Capital e Kleiner Perkins, de corporações inovadoras como HP e Apple, e de startups recentes como Zapier e Zoom. Mas, em outras regiões, também existe esta interdependência entre governo, academia, corporações, investidores e empreendedores?

Começando pelo notório ecossistema da Kendall Square em Cambridge, Massachusetts, podemos perceber que sim. A região abriga em um raio de poucas quadras nada mais nada menos que Harvard e MIT, duas das universidades situadas entre as cinco melhores do mundo segundo o Times Higher Education World University Ranking (além de quase 60 outras no entorno chamado de grande Boston). Os incentivos governamentais para transformar esse conhecimento em riqueza e prosperidade via inovação também são perceptíveis de diversas formas, considerando que 38% das pessoas empregadas em Massachusetts estão ligadas a economia da inovação.

Diferentemente do Vale do Silício, a região possui um foco maior nas áreas de saúde e de biotecnologia. Abriga a sede americana e centros de P&D de diversas grandes empresas farmacêuticas globais como a americana Pfizer, a japonesa Takeda, a francesa Sanofi, a inglesa GlaxoSmithKline, a suíça Novartis entre outras. Segundo o ranking de ecossistemas globais da Startup Genome, a região é o 5º mais valioso ecossistema de startups do mundo e o número 1 em ciências da vida, com mais de 1.100 startups e muitos investidores — de anjos a fundos de venture capital — especializados na área.

Ao olhar o maior ecossistema de startups do Brasil, São Paulo, este padrão também se repete. Em um estudo feito pela aceleradora ACE sobre o perfil dos fundadores das startups investidas pelos principais fundos do país, a dimensão acadêmica também se destacou. Das cinco universidades que foram alma-mater de mais fundadores no Brasil, quatro estavam em São Paulo (USP, FGV, Unicamp e ITA). Um fato interessante é que 100% dos fundadores desta pesquisa tinham nível superior e 60% tinham pós-graduação. Um fato interessante que também reforça a interdependência das pontas, é que São Paulo é o único estado do país em que as principais universidades públicas (USP e Unicamp) são estaduais e não federais. Por coincidência (ou não), São Paulo possui uma política de investimento em educação e ciência que garante o repasse de quase 10% da arrecadação do ICMS para as universidades e ICTs Estaduais, mostrando a importância do governo local na agenda pró-inovação.

Em termos setoriais, fator que muitas vezes surge na formação de competências locais, São Paulo vem se destacando globalmente como um importante ecossistema de startups do setor financeiro. Segundo o Global Fintech Index City Ranking 2020, São Paulo já é o 5º principal hub de Fintechs do mundo. As origens do sucesso de i-ecossistema, entretanto, vem de muito antes do surgimento de fintechs como Nubank, C6, Creditas, PagSeguro, entre outras. Além da já mencionada relevância das universidades de ponta e das condições governamentais, São Paulo já era o principal centro financeiro do Brasil antes do fenômeno fintech, acumulando expertise e capital humano especializado no setor por anos. O Estado é sede de todos os 10 maiores bancos não-públicos do país, das principais assets e também da B3, principal bolsa de valores da América Latina. Um movimento natural que se seguiu foi receber a sede dos principais fundos de venture capital internacionais interessados em investir no país.

Os i-ecossistemas de São Paulo e de Boston/Kendall Square são apenas dois exemplos de que é possível replicar os efeitos do Vale do Silício fora da Califórnia, embora também evidenciem que cada região deve buscar sua própria trajetória, baseada em suas próprias características e vantagens competitivas. Neste aspecto que o Time Rio de Janeiro percebeu um problema que poderia se tornar uma grande oportunidade. A transição energética baseada nos seus 4 Ds (Descarbonização, Digitalização, Descentralização e Democratização) ainda não possui uma “sede local”. Ou seja, ainda não existe um “Vale do Silício” focado em energia, embora haja algumas regiões candidatas ao posto, como Singapura, Estocolmo (Suécia), Austin (Texas, EUA), Calgary (Canadá), Pittsburgh (Mobilidade, EUA), Bilbao (Espanha) e agora o Rio de Janeiro (Brasil), que foi uma das 8 regiões selecionadas para o ciclo 2021-2023 do MIT REAP, que chega pela primeira vez ao Brasil, já contando com o apoio e o engajamento de grandes instituições do setor.

Construindo seu “Lago Artificial”

Uma boa analogia sobre a importância de se investir em i-ecossistemas mesmo quando esses investimentos ficam fora do seu controle imediato é a análise entre diferentes objetivos e tipos de pescaria, aqui comparada com o processo de capturar valor em um i-ecossistema. Se você é um pescador esporádico, faz isso com baixa frequência ou apenas por diversão, talvez a melhor opção para atender seus objetivos seja viajar para um lugar distante com um bom rio ou lago para pescar, ou mesmo alugar um barco para pescar em alto-mar em um final de semana. Entretanto, se você pesca com alguma frequência e/ou precisa da pescaria para sobreviver, talvez seja melhor se mudar para perto de um rio apropriado para a atividade ou mesmo criar seu próprio lago artificial. Provavelmente o investimento inicial da mudança de local de residência, ou mesmo da construção de um lago para uso próprio, compense e se pague em pouco tempo.

Pensando dessa forma, uma grande empresa que precise de uma inovação pontual para um processo ou produto, ou que deseje apenas experimentar alguma nova frente de negócio específica, talvez não precise investir em criar um entorno que seja um ambiente de inovação relevante, ou seja, o seu próprio “rio ou lago artificial”. Entretanto, caso a geração de conhecimento e inovação seja parte do negócio principal, ou seja, é fundamental para seu crescimento e sobrevivência, a decisão de investir na criação e desenvolvimento de um i-ecossistema pode se tornar uma grande vantagem competitiva de longo-prazo. Depois de construir seu próprio lago é muito mais fácil pescar no quintal de casa do que mobilizar inúmeros recursos toda vez que precisar fazê-lo. Em um mundo onde inovar é cada vez mais uma questão de sobrevivência, se mudar para um i-ecossistema relevante ou contribuir para a construção de um no seu entorno é cada vez mais uma ideia que não pode ser ignorada. No setor de energia, que vive hoje o processo de transição energética que promete mudar tudo nas próximas décadas, essa visão passa a ser quase mandatória.

Mas quais seriam os fatores fundamentais para a construção de um bom “lago artificial” para o setor de energia? O primeiro é a presença de atores relevantes ligados ao setor nas cinco pontas anteriormente citadas: universidades, entidades governamentais, corporações, investidores e startups. Caso a região não tenha um desses atores, ou eles não consigam atender às expectativas de crescimento das demais pontas, buscar meios de atrair e/ou desenvolver esses atores deve ser um primeiro e importante passo.

MIT REAP Rio de Janeiro e o energINN

No i-ecossistema de energia e sustentabilidade em construção no Rio de Janeiro (MIT REAP Rio de Janeiro), representantes importantes de cada uma dessas pontas se juntaram para elaborar um plano e implementar intervenções estratégicas de forma integrada com o objetivo de se tornar uma referência global no tema nos próximos anos. O LabrInTOS da COPPE/UFRJ representando a ponta universidade, Furnas, Petrobras e Vibra Energia (corporações), o Deputado Federal Paulo Ganime (governo), a MSW Capital (investidor) e a Fábrica de Startups e o Energy Hub/SDP (empreendedores) se juntaram para fazer este diagnóstico inicial assim como engajar cada vez mais atores nessa missão de transformar o Rio de Janeiro no “Vale do Silício” da Energia e Sustentabilidade.

O Rio de Janeiro possui excelentes condições de largada pois é sede de grandes corporações tanto do setor de petróleo & gás quanto de energia elétrica. Abriga importantes instituições governamentais como EPE, ANP, BNDES, Finep, INPI entre outras. Possui excelência acadêmica nas áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e em negócios ligados ao setor de energia. E já conta com atividade relevante de venture capital e empreendedores de sucesso embora a parte de energia ainda seja incipiente (problema que se observa não apenas na região, mas também a nível nacional).

Porém, apenas ter essas instituições não é tudo. Elas têm que ser eficientes no que fazem e atuar de forma integrada e cooperativa. Para mensurar isso, devemos usar indicadores capazes de medir a capacidade da região gerar tecnologias/inovações e a capacidade da região transformar esses conhecimentos em empreendimentos bem-sucedidos. No âmbito do MIT REAP esses indicadores são divididos em cinco diferentes categorias: capital humano, infraestrutura, funding, demanda e cultura/incentivos. Com a presença dos atores-chave e correta mensuração desses indicadores tem-se um ótimo diagnóstico e ponto de partida para a construção do seu próprio lago.

Essa visão inicial é fundamental para quaisquer ambições em termos de i-ecossistemas. Vale tanto para grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, como para municípios menores como Santa Rita do Sapucaí e Maricá. Este último, por exemplo, tem feito nos últimos anos um interessante esforço estruturado para constituir os fundamentos dos novos vetores de desenvolvimento pós-petróleo baseado na formação de um ecossistema de inovação. Para evitar ficar exposto a “doença holandesa” e também para se posicionar como uma liderança e um hub regional, o município fez um diagnóstico e estabeleceu uma política de inovação, uma estratégia municipal de C,T&I, uma política de bolsas para atração de talentos, um programa de encomendas tecnológicas, parcerias estratégicas com universidades e empresas-âncoras, etc. Tudo isto articulado de maneira aberta pelo ICTIM, o “braço de inovação” do município e que coordena algumas dessas intervenções estratégicas.

No próximo passo e com base no diagnóstico, os atores, conjuntamente, devem elaborar e implementar intervenções estratégicas que supram as deficiências e alavanquem as qualidades e vantagens competitivas da região. Exemplo: o setor de energia no Brasil possui uma regulamentação que obriga empresas do setor de energia a investirem parte de suas receitas em P&D (ANEEL, no setor elétrico e ANP em petróleo, gás e biocombustíveis). Esta legislação estava desatualizada e não era mais adequada ao contexto atual de empreendedorismo e startups inovadoras do setor. Diversos agentes públicos (Ministério da Economia, MCTI, MME, ANEEL, ANP, parlamentares ligados ao tema, entre outros) fizeram consultas públicas que contaram com forte engajamento de universidades, corporações do setor, startups e investidores (incluindo o time do MIT REAP Rio de Janeiro) para ajudar a endereçar a questão.

Parte desse resultado pode ser observado no Marco Legal das Startups e do Empreendedorismo Inovador (Lei Complementar nº 182, de 1º de junho de 2021) que permite uma série de novos usos para esses recursos regulados, além de criar a possibilidade de testes de tecnologias através dos Contratos Públicos de Solução Inovadora (CPSI) e dos sandboxes regulatórios que serão fundamentais para os primeiros experimentos ligados a mobilidade elétrica autônoma e uso de blockchain e smart contracts no setor.

Um outro exemplo desse processo conjunto de diagnóstico e elaboração de intervenções estratégicas é o energINN, que já nasce sendo o maior programa de geração de provas de conceito (PoCs) e formação de empreendedores do mundo nos setores de energia e sustentabilidade. Concebido a partir do diagnóstico feito pelos pesquisadores do MIT REAP Rio, o levantamento identificou entre outros fatores, que:

o fenômeno é uma oportunidade global, com 28 (59,6%) dos 47 unicórnios do setor atingiram esse status no último ano (2021);

o CEO da maior gestora de ativos do mundo, a Black Rock, afirmou em sua carta anual de 2022 que os próximos 1000 unicórnios não seriam redes sociais ou buscadores, mas startups que ajudariam o mundo a se descarbonizar e tornar a transição energética mais acessível a todos os consumidores o que significa potencialmente trilhões de dólares de investimento;

menos de 2% das startups brasileiras atuam diretamente no setor de energia (287 de um universo de mais de 21 mil startups segundo a ABStartups);

as iniciativas de Corporate-Startup Engagement (CSE) no setor de energia, como as aceleradoras corporativas e os fundos de Corporate Venture Capital, estão crescendo em qualidade e quantidade;

o Rio de Janeiro é capaz de produzir conhecimento de ponta, mas não é eficiente em transformar esse conhecimento em novos negócios (o estado é o 2º em publicação de artigos científicos e apenas o 11º na geração de empreendimentos inovadores);

Essas constatações, e outros indicadores, apontavam uma futura “falta de startups de energia” para daqui a 4 anos, similar ao que se vive atualmente em relação a desenvolvedores de softwares qualificados no país. Com o diagnóstico percebeu-se também que nenhum ator do ecossistema estava cuidando adequadamente desta etapa de “topo do funil”, e que esta atividade não era ainda economicamente vantajosa para um ator que pretendesse fazer isso sozinho. Por isso o LabrIntos/COPPE/UFRJ, a Emerge, a Fábrica de Startups, o Energy Hub/SDP, o Energy Future e o Tec Institute se juntaram para construir o programa que será gratuito para os empreendedores e sustentado por mantenedores interessados em ter acesso prioritário às novas tecnologias e startups que serão criadas no âmbito do energINN.

Por fim, completando a tríade das ações priorizadas pelo Time Rio do MIT REAP no Workshop que ocorreu em Boston em novembro de 2021, será criado a partir de 2022 um “Instituto MIT REAP Rio” que atuará como um think tank com uma visão holística e integrada da transição energética e servirá de locus para ações estruturantes do ecossistema, de forma similar ao Madrid Innovation Driven Ecosystem (MIDE) da Espanha e ao Entrepreneurial Scotland da Escócia, ambos criados em rodadas anteriores do MIT REAP. Essas organizações permaneceram após o programa e contam hoje com centenas de instituições colaboradoras que atuam de forma integrada para desenvolver seus próprios i-ecossistemas.

Essas três ações darão um impulso significativo no posicionamento do Rio de Janeiro, mas certamente, de forma isolada, não transformarão o Rio de Janeiro em um Vale do Silício da Energia e Sustentabilidade. Apenas o próprio Time Rio já identificou mais 28 PPIs (Policy and Program Interventions) que precisariam ser conduzidos por outros atores do ecossistema para que o Rio alcance seu potencial máximo como ecossistema. Certamente os demais atores que passarão a integrar o grupo a partir deste ano terão outras contribuições relevantes. Na Escócia, por exemplo, já são mais de 700 instituições co-construindo o i-ecossistema de lá.

Para concluir, vimos que construir um ecossistema de inovação pujante não é das tarefas mais fáceis. Envolve o engajamento e a cooperação de muitos atores, muitas vezes com interesses antagônicos, em prol de um objetivo maior. Poucas regiões conseguiram se tornar i-ecossistemas regionais de sucesso, menos ainda atingiram o status de i-ecossistemas globais. O que está sendo buscado na construção desse “Vale do Silício” da energia e sustentabilidade no Brasil é ambicioso, mas crível. Estamos no caminho certo com a primeira dezena de relevantes parceiros engajados, mas isso é só o início. Estando no Rio de Janeiro ou não, fica aqui o convite para fazer parte dessa histórica revolução!


Este artigo foi produzido por Hudson Mendonça, líder do Programa MIT REAP no Brasil, coordenador/pesquisador do LabrInTOS (o Laboratório de Inovação da COPPE/UFRJ), professor de Corporate Venture e Startups da FGV, e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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