Microplásticos estão por toda parte. O que isso significa para nosso sistema imunológico?
HealthHealth Innovation por Einstein

Microplásticos estão por toda parte. O que isso significa para nosso sistema imunológico?

Pequenas partículas de plástico estão presentes em nossa água potável, sangue e até em regiões da Terra consideradas intocadas. Por isso é vital aprender o que essas partículas fazem conosco.

Microplásticos estão, praticamente, em todos os lugares. Esses minúsculos pedaços de plástico poluente, com menos de cinco milímetros de diâmetro, já foram encontrados em sangue humano, leite materno e placentas. 

Sim, eles estão na água que bebemos e no ar que respiramos. Mas também já foram encontrados em regiões do planeta que poderíamos pensar nunca terem sido tocadas, como nos Pirineus Franceses, nas Ilhas Galápagos e até na Fossa das Marianas — parte mais profunda do oceano. Mais recentemente, descobrimos que o processo de reciclagem pode liberar toneladas de microplásticos no meio ambiente. 

Dada a sua assustadora onipresença, vale a pena considerar o que sabemos sobre microplásticos. O que eles fazem conosco? 

A resposta resumida é: nós não sabemos. Mas cientistas já começaram a construir um panorama de seus possíveis efeitos a partir de estudos iniciais com animais e aglomerados de células. 

Há alguns meses, me deparei com um novo estudo que trata do impacto que os microplásticos podem ter em nossas células imunológicas. É muito difícil realizar esse tipo de pesquisa com pessoas — para começo de conversa, não é possível injetar, de forma ética, pequenos pedaços de plástico em alguém. Assim, os pesquisadores observaram as células em uma placa. 

Especificamente, eles observaram macrófagos, um tipo de glóbulo branco que mata invasores estranhos e nos ajuda a eliminar células mortas. Thierry Rabilloud, do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês, e seus colegas investigaram como macrófagos respondem a grânulos de poliestireno. 

Testes revelaram que alguns tipos de macrófago engolem completamente os grânulos de plástico. Outros não. As células que se enchem de plástico apresentam comportamento diferente, sugerindo que talvez não funcionem tão bem para proteção contra bactérias e outros invasores que possam causar doenças. 

Rabilloud e seus colegas mencionam que microplásticos poderiam ter efeitos mais amplos no sistema imunológico de forma geral, bem como na saúde dos tecidos infiltrados pelas partículas. 

Uma questão que persiste é a do que acontece depois que o plástico entra nas células. Talvez nosso corpo seja capaz de encontrar formas de eliminá-lo. Mas, caso não seja, esse plástico pode nos acompanhar pelo resto da vida, danificando ou matando as células infiltradas. 

Microplásticos podem ter outras consequências para a saúde. Talvez você se lembre de um artigo recente da MIT Technology Review falando de algumas pesquisas sobre seus efeitos em aves marinhas, por exemplo. Esses pobres animais são expostos com frequência a uma quantidade grande de plástico, porque o lixo tende a boiar no mar, se decompondo de forma bem vagarosa. 

Nessa situação, pedaços de plástico podem acabar acumulando vários tipos de bactérias, que se agarram a suas superfícies. Aves marinhas que ingerem esses pedaços não só acabam com o estômago cheio de plástico, o que pode levá-las à inanição, como também são expostas a tipos de bactérias que, do contrário, nunca encontrariam. Aparentemente, isso perturba o microbioma intestinal delas. 

Preocupações semelhantes existem em relação aos humanos. Esses pequenos pedaços de plástico, boiando e voando por todo o mundo, poderiam funcionar como um “cavalo de Troia”, introduzindo bactérias nocivas resistentes a medicação e seus genes, conforme explicam alguns pesquisadores. 

É um pensamento extremamente inquietante. À medida que a pesquisa avança, esperamos descobrir não apenas o que microplásticos fazem conosco, mas também como enfrentar o problema. 

O pesquisador sênior do Hospital Israelita Albert Einstein Helder Nakaya ressalta, em comentário feito a pedido da MIT Technology Review Brasil, que a preocupação com os microplásticos é relevante para a saúde humana. O especialista analisa que, concomitantemente ao avanço nas pesquisas sobre o tema, é necessário também avaliar como reduzir o impacto ambiental para atacar a raiz do problema.  

“O fato é que ainda não conhecemos o real impacto dos microplásticos na saúde humana. Eles não são encontrados apenas em áreas esperadas, como cidades, mas também em locais que consideramos intocados. Eles estão em todos os lugares, da água que bebemos ao ar que respiramos. Por isso, embora seja crucial continuar a estudar seus efeitos em nossa saúde, é igualmente importante encontrar maneiras de abordar o problema em sua origem, reduzindo a poluição por plástico como um todo”, destaca Nakaya. 

Leia mais no acervo da Tech Review 

É simplório dizer que devemos banir todos os tipos de plástico.  Mas seria bom se revolucionássemos a forma como os reciclamos, conforme destacou minha colega Casey Crownhart em um artigo publicado no ano passado.  

Podemos usar o esgoto para monitorar o surgimento de bactérias resistentes a antimicrobianos, conforme escrevi em uma edição anterior. A essa altura, precisamos de toda ajuda que pudermos encontrar… 

…O que é parte do motivo pelo qual cientistas também vêm explorando a possibilidade de usar pequenos vírus para tratar infecções bacterianas resistentes à medicação. Bacteriófagos foram descobertos cerca de 100 anos atrás e estão prestes a voltar à moda! 

Nosso sistema imunológico é incrivelmente complicado. E sexo importa: existem diferenças relevantes entre os sistemas imunológicos de homens e mulheres, conforme relatou Sandeep Ravindran nesta matéria. 

De várias partes da web 

Uma linha de apoio a pessoas com distúrbios alimentares demitiu seus funcionários e os substituiu por um chatbot. Em poucas semanas, a Associação Nacional de Distúrbios Alimentares teve que tirar o chatbot do ar. Ele dava informações que eram “prejudiciais e não relacionadas ao programa”, disse um porta-voz. (Motherboard) 

Membros da bilionária família Sackler ficarão protegidos contra eventuais processos judiciais a respeito do envolvimento de sua empresa na prescrição de opioides. A família, proprietária da Purdue Pharma, vai receber imunidade em troca de um pagamento no valor de US$ 6 bilhões que será utilizado para compensar vítimas e custear medicamentos para reversão de overdose. (New York Times) 

Os produtores de carne de laboratório podem argumentar que ela é melhor para os animais e para o meio ambiente, mas como ficam as perspectivas religiosas das pessoas quanto a sua compra e consumo? De acordo com enquetes, 68% dos hindus comeriam frango cultivado, e 81% dos budistas entrevistados disseram que comeriam carne cultivada. (Nature Food) 

O que acontece se injetarmos um alucinógeno nas veias de voluntários saudáveis? Tudo, desde experiências místicas e transcendência do tempo e espaço até náusea, pressão alta e desconforto. (Translational Psychiatry) 

Recifes de coral estão entre os ecossistemas mais diversos da terra. Agora parece que o microbioma do recife de coral do Pacífico é tão diverso quanto todos os outros do planeta juntos. Cientistas descobriram 2.87 bilhões de sequências genéticas em amostras retiradas de 99 recifes. (Nature Communications) 

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